Lagartos usam técnica especial para respirar sob a água e fugir de predadores

Time de pesquisadores descobriu que os pequenos “papa-vento”, um tipo de lagarto, conseguem reaproveitar o ar expelido do corpo
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 26/05/2021 15h45, atualizada em 27/05/2021 16h20
Anolis Aquaticus, um tipo de lagarto, respirando embaixo d'água
Imagem: Lindsay Swierk/Acervo pessoal
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Pesquisadores especializados em biologia descobriram, meio que sem querer, que os lagartos anolis (popularmente conhecidos como “papa-vento”) conseguem respirar debaixo d’água por até 18 minutos, graças a uma técnica especial, e fugir de predadores que os atacam na superfície.

Segundo um estudo assinado pelo biólogo Chris Boccia, da Universidade de Queens, no Canadá, sua equipe percebeu que os lagartos usam de uma técnica cuja melhor tradução é “re-respiração”: basicamente, eles expelem uma bolha de ar antes de mergulhar. Ela, por sua vez, fica presa à pele pelas narinas. Assim, eles repetidas vezes inspiram e expiram essa bolha, ampliando sua permanência debaixo d’água.

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Segundo outra bióloga envolvido no estudo – a Dra. Lindsey Swierk, da Universidade de Binghamton – a descoberta foi um golpe de sorte: “encontrar evidências que sugeriam que os anolis semi aquáticos ‘respiram’ debaixo d’água foi algo fortuito, pois não era parte dos planos originais de minha pesquisa. Eu fiquei impressionada e muito confusa sobre a duração de seus mergulhos, o que me despertou a curiosidade para olhar [a situação] mais de perto, com uma câmera subaquática por alguns anos”.

Foi aí que eles descobriram que os lagartos usam a técnica especial e cunharam o termo que você viu mais acima: “Anolis semi-aquáticos expelem o ar para uma bolha que adere a suas peles. Os lagartos, então, inalam de novo esse ar – uma manobra que batizamos de ‘re-respirar’, usando um termo da tecnologia de mergulho humano”.

Segundo os especialistas, a técnica em si não é uma novidade – alguns insetos usam de bolhas para respirar sob a água -, mas o fato de um lagarto (um réptil vertebrado) conseguir fazer isso é o que chama a atenção: esse tipo de animal é consideravelmente maior que a maioria dos insetos e traz um metabolismo mais acelerado que o normal, além de baixa aderência à pele. Em situações normais, eles requerem muito mais oxigênio para se manterem funcionais – isso, e o gás carbônico liberado na respiração, reduz a capacidade dos animais de extrair oxigênio.

“É fácil imaginar a vantagem que esses lagartos pequenos e lentos ganham ao se esconderem de predadores debaixo d’água – lá eles são muito difíceis de se enxergar”, disse Swierk. “Mas a pergunta real aqui é: como eles conseguem ficar lá embaixo tanto tempo?”

O time analisou o volume de oxigênio das bolhas, confirmando que ele vai diminuindo conforme os minutos vão passando. Isso prova duas coisas: a primeira é a de que os lagartos realmente usam essa técnica especial para respirar. A segunda é que ela não é infinita – eventualmente, o “ar reaproveitado” não tem mais oxigênio bastante e eles precisarão subir.

Em observações posteriores, os cientistas identificaram a técnica em outras cinco espécies semi aquáticas de anolis – não diretamente ligadas entre si. Ao observar uma espécie não aquática, foi percebido que ela tinha apenas capacidades normais de respiração.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital