Há mais de 250 milhões de anos, no final do Permiano, último período da era Paleozóica, a resiliência da vida foi submetida a um teste final. Na ocasião, nove em cada dez espécies marinhas desapareceram, junto com quase 75% das espécies terrestres, num fenômeno chamado, hoje em dia, de “A Grande Morte”, a maior de todas as extinções da Terra.

Muitos estudiosos acreditam que a Grande Morte foi provocada por uma significativa quantidade de erupções vulcânicas na área onde hoje está localizada a Sibéria. Mas, de acordo com um estudo recentemente publicado na Nature Communications, elas seriam apenas um fator que, por sua vez, foi motivado por algo mais.

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Agora, especialistas descobriram o que parece ter sido o estopim: traços de um isótopo de níquel que alterou a química dos oceanos, desencadeando um efeito dominó que acabou sufocando animais em todo o globo.

Um isótopo de níquel alterou a química dos oceanos, desencadeando um efeito dominó que acabou sufocando animais em todo o globo. Imagem: beejung – Shutterstock

Construir uma teoria sobre a mãe de todas as extinções é um exercício forense em escala épica. Não faltam evidências, desde a ladainha de fósseis a vastas placas de rocha ígnea depositadas em uma série de erupções cataclísmicas há cerca de meio bilhão de anos.

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Uma mudança climática global impulsionada por erupções vulcânicas, elevando as temperaturas e roubando o oxigênio dos oceanos: um verdadeiro cenário de filme de terror. Em terra, a história era igualmente sombria. As plantas resistiram bem às mudanças, mas durante milhares de anos, os animais terrestres foram gradualmente desaparecendo.

À medida que vulcões lançavam gases de efeito estufa na atmosfera, os oceanos foram aquecidos ao ponto de não conseguirem conter o oxigênio essencial à vida.
Imagem: Reprodução/Universidade de Washington

Teria relação com o aquecimento global, devido a uma onda de gases de efeito estufa? Compostos que destroem a camada de ozônio teriam aberto um buraco na atmosfera? Algo levou ao envenenamento em massa dos oceanos?

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Faixa de rocha em província da China guarda segredo da maior das extinções da Terra

Uma pista significativa para esses questionamentos pode ser encontrada na geologia de Meishan, na província chinesa de Zhejiang. Por décadas, essa faixa de rocha comprimida serviu como o marco que define o fim do Permiano e o início do Triássico. Nela se concentra um volume incomum de níquel.

“O níquel é um metal essencial para muitos organismos, mas um aumento na abundância de níquel teria levado a um aumento anormal na produtividade de metanógenos, microorganismos que produzem gás metano”, explica a geoquímica Laura Wasylenki, da Universidade do Norte do Arizona (Northern Arizona University).

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Aerossóis expelidos por vulcões são certamente uma fonte do metal, mas outros fatores ambientais mais localizados precisariam ser descartados antes que qualquer reivindicação definitiva pudesse ser feita.

Wasylenki e sua equipe analisaram amostras de xisto negro retiradas do Ártico do Canadá, representando depósitos oxigenados e esgotados de oxigênio depositados durante a extinção em massa do final do Permiano.

Foram rastreadas concentrações de um isótopo específico de níquel junto com a quantidade total do elemento ao longo de um extenso período e, em seguida, comparadas com as previsões de vários modelos explicativos.

Observou-se que, enquanto as quantidades do isótopo quase não mudaram no horizonte do evento de extinção, a concentração total de níquel despencou, indicando uma absorção do nutriente por uma explosão de micróbios famintos por níquel.

Seu rápido crescimento sob condições de baixo oxigênio – e expelindo grandes quantidades de metano  – seria uma má notícia para todos, não apenas contribuindo com gases de efeito estufa, mas removendo carbono orgânico do meio ambiente, o que alimentaria uma teia alimentar que sugaria todo o material disponível e oxigênio das profundezas do oceano.

“Nossos dados fornecem uma ligação direta entre a dispersão global de aerossóis ricos em [níquel], mudanças na química dos oceanos e o evento de extinção em massa”, disse Wasylenki.

Segundo a pesquisa, as mudanças na química dos oceanos teriam ocorrido ao longo de centenas de milhares de anos, uma linha do tempo refletida em outros estudos.

Estudar isótopos de níquel para entender melhor as flutuações na química no passado distante é uma ferramenta relativamente nova da geologia, mas pode ser usada para resolver o mistério de outros eventos antigos.

Embora não exista um caso encerrado na ciência, a história por trás de um dos eventos mais catastróficos de toda a biologia está lentamente se tornando mais clara.

Via: Science Alert

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