Ao contrário de outras redes sociais como o Facebook e o Twitter, que giram em torno de feeds, número de curtidas e curadoria de algoritmos, o Clubhouse se apresenta como uma mídia mais diversa. Essa proposta, porém, pode parecer contraditória, já que a plataforma de áudio, inaugurada em julho de 2020, carrega uma percepção de exclusividade: você precisa ser convidado para ingressar na rede.

Segundo o Wired, o Clubhouse foi projetado para o contexto da atual pandemia que acomete o mundo e apela para a escassez de conversas entre pessoas fora do convívio familiar. Além disso, surge em um momento que se fala da importância do diálogo.

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O aplicativo é organizado na forma de um conjunto de salas, com capacidade de até 5.000 participantes, separadas por temas e administradas por mediadores. Os usuários podem navegar pelas inúmeras salas e participar das conversas que estão acontecendo. O formato lembra mais uma comunidade do que uma audiência.

No início algumas pessoas compararam o Clubhouse aos podcasts. Contudo, existe uma grande diferença: na nova rede as vozes são transmitidas ao vivo e não há a possibilidade de gravar o conteúdo ou editá-lo mais tarde.

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Alguns usuários avaliam que a plataforma somente de voz permite mais nuances e pensamento crítico do que outras que utilizam o verniz imagético. Com isso, querem dizer que no Clubhouse as pessoas estão mais preocupadas com o que você realmente tem a dizer, sem filtro e sem edição.

Pode-se dizer que até certo ponto a empresa conseguiu cumprir a sua intenção de “promover um conjunto diversificado de vozes”. No entanto, a percepção de exclusividade – os usuários precisam ser convidados por outros para adentrar a plataforma, que até pouco tempo só estava disponível para iOS – e o formato em áudio, que prejudica pessoas com deficiência, trouxe à tona o debate sobre diversidade.

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As conferências virtuais, promovidas pelo Clubhouse, coloca a habilidade de dialogar acima de preocupações com a imagem. Créditos: Shutterstock

Inclusão e diversidade

A noção de instantaneidade recomendada pela rede, que consiste em conversas em tempo real, dificulta produções de conteúdo muito rebuscadas e limita a capacidade de terceirizar a presença para um time profissional em mídia. Essa característica se torna positiva sob o ângulo de horizontalizar o debate, pois coloca os usuários em certa igualdade. Entretanto, pode prejudicar pessoas interessadas em capitalizar seus conteúdos.

O Clubhouse não nega apoio aos criadores de conteúdo. Pelo contrário. Nos últimos meses, a plataforma lançou o Clubhouse Payments vinculado ao Stripe. A inciativa foi pensada para auxiliar os usuários a monetizarem seu público – com 100% da renda voltada ao usuário. Funciona da seguinte maneira: se o criador tiver o recurso habilitado, o colaborador poderá clicar em “enviar dinheiro” e inserir um valor.

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Recursos como esses são encorajadores, especialmente para criadores de conteúdo de grupos minoritários, como pessoas pretas, que muitas vezes são cortadas dos lucros obtidos online.

Além disso, por utilizar apenas uma imagem de perfil e um nome de usuário para identificar as pessoas, o aplicativo também pode contornar alguns dos preconceitos raciais embutidos na inteligência artificial que já colocaram aplicativos como o Twitter em problemas.

O Clubhouse não coleta informações demográficas dos usuários quando eles criam uma conta, então não há como analisar quantitativamente a diversidade da plataforma. No entanto, discussões anteriores sobre a falta de acessibilidade para pessoas não ouvintes fez com que a plataforma se reinventasse. Indica, portanto, que a plataforma está verdadeiramente aberta ao diálogo.

Vale destacar que além da base de usuários, parte da equação de inclusão é influenciada pelas pessoas que estão por trás da tecnologia e por suas decisões. Um dos cofundadores do aplicativo, Seth, é negro. Não quer dizer, contudo, que com a presença de uma pessoa preta a equipe se torna automaticamente diversa. Beth, usuária entrevistada pelo Wired, acredita que a diversidade na equipe precisa ser ampliada, contemplando mulheres por exemplo.

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Desinformação e discurso de ódio

É preciso evidenciar, porém, um lado obscuro dos conteúdos em tempo real do Clubhouse: como as conversas não são gravadas, a verificação dos fatos é dificultada e os usuários nem sempre são responsabilizados pelo que dizem.

“Já estive em muitas salas e rapidamente percebi que as pessoas que se diziam especialistas em algum tema não tinham absolutamente nenhuma ideia do que estavam falando. Mas todos na conversa estavam levando isso como um fato”, disse Harrod, um usuário que ingressou em novembro de 2020 após ouvir sobre o aplicativo no Twitter.

Em abril deste ano, o aplicativo fechou várias salas e removeu usuários que violavam as diretrizes da comunidade, que proíbe discurso de ódio a qualquer pessoa ou grupos de pessoas. Resta observar como o Clubhouse, que ficou famoso pela tendência inovadora, irá combater problemas dessa natureza.

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