O Sars-CoV-2, vírus que causa a doença Covid-19, não tem uma capacidade tão grande de mutações como o vírus da gripe, por exemplo. Dessa forma, quando surgem novas variantes, elas precisam ter características convenientes para se adaptar ao corpo humano. Dados preliminares apontam que essas particularidades tonaram a Delta mais transmissível do que outras versões do coronavírus, além de gerar maior risco de hospitalização e de reinfecção. Por esse motivo, a nova cepa tem gerado grande preocupação.

De acordo com o jornal O Globo, os primeiros registros da variante Delta se deram na Índia, em outubro de 2020. E, até agora, a nova versão do coronavírus já chegou a pelo menos 96 países. Em alguns deles, passou a ser dominante, como no caso de Singapura, Reino Unido e Portugal.

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No Brasil, também houve casos de contaminação pela variante Delta em várias regiões no mês de junho, em cidades do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e Goiás. Recentemente, a nova cepa chegou a São Paulo.

A prefeitura da maior capital do país admite que a Delta está se espalhando por lá, mas não sabe precisar em que dimensão nem se ela vai se tornar dominante. Hoje, a mais prevalente variante em São Paulo é a chamada Gamma (ou P.1), que foi descoberta em Manaus.

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As mutações são caminhos que o coronavírus encontra para escapar do sistema imune e desenvolver maneiras de transmissão mais eficazes. Créditos: Shutterstock

O que dizem os cientistas

De acordo com Tulio de Oliveira, diretor do laboratório Krisp, na Universidade KwaZulu-Natal (África do Sul), parte significativa das mudanças genéticas que projetaram a Delta ocorreram na forma como o vírus se conecta as nossas células.

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De maneira científica, o que ocorre é uma mudança na ligação entre a espícula do vírus (conhecida como proteína S) e o receptor ACE2, uma enzima que fica na superfície da célula. Essa espícula age como uma “chave”, permitindo a entrada do coronavírus. Uma vez ali dentro, ele usa a estrutura celular para se multiplicar.

Em linhas gerais, um vírus é um ácido nucleico (DNA ou RNA), envolto por conjuntos de aminoácidos (proteínas). A camada externa serve para “grudar” e invadir a célula humana. Já a camada interna se presta como uma receita, que será usada para produzir novos vírus dentro da célula invadida.

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Ao longo desse processo, os aminoácidos da camada superficial podem sofrer três tipos de mutações, chamadas de: inserção, deleção ou substituição. Essas alterações ocorrem ao acaso.

No caso da variante Delta, há duas mutações relevantes na espícula, que são conhecidas pelos códigos L452R e T478K. Essas variações mudam de L para R na posição 452 e de T para K na posição 478. A troca de números significa que o vírus adquiriu novas características, vantajosas para grudar melhor na porta de entrada das células (a enzima ACE2).

É preciso dizer, porém, que para invadir a célula humana, não basta um vírus encontrar uma porta de entrada e grudar nela: ele primeiro precisa ser ativado. No caso do Sars-CoV-2, a ativação ocorre por meio de uma enzima chamada furina, que corta a espícula do coronavírus em dois: S1 e S2.

Depois desse corte, denominado clivagem, uma parte da espícula (S1) se junta à célula e a outra (S2) funde sua membrana com a da célula, permitindo inserir o material genético e começar a produção de mais vírus. Uma mutação próxima a este local pode ser perigosa. É o que ocorre com a Delta, que carrega uma transmutação (P681R) naquela região, tornando a fusão mais rápida.

O que isso significa? Além da invasão mais eficiente, há uma tendência de que quanto mais vírus invadem as células, mais vírus serão replicados, aumentando a carga viral. Dessa forma, a variante afeta o corpo com maior potência.

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Da mesma maneira, quanto maior a carga viral, mais partículas contaminadas podem ser espalhados em um espirro, por exemplo, facilitando a transmissibilidade.

 “É como se o vírus criasse caminhos para escapar do sistema imune e desenvolvesse maneiras de transmissão mais eficazes”, resume Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale e coordenador da Rede Corona-Ômica, do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações.

Vale lembrar que nenhuma dessas mutações potencialmente perigosas é uma exclusividade de uma ou outra variante. O que as torna preocupantes é o conjunto delas.

Como visto, as mutações ocorrem ao acaso a medida que o vírus se espalha, seguindo a lei da evolução das espécies. No entanto, vale ressaltar que as questões ambientais podem ter influência nesse quadro. Isto é, o comportamento da sociedade em relação a medidas de controle e prevenção são fundamentais para conter as variantes.

Por que se preocupar?

Os dados técnicos apresentados indicam que, devido ao conjunto de mutações específicas, a variante Delta tem uma capacidade de transmissibilidade maior, estimada em cerca de 30% a 60%. Nota-se que no Reino Unido ela já se tornou dominante, respondendo por 90% dos novos casos.

Outro ponto alarmante é o aumento do risco de hospitalização e de reinfecção da doença. Além disso, as mutações tornaram o quadro de sintomas um pouco diferente do já conhecido – mais dor de cabeça e menos tosse, por exemplo.

Um questionamento comum gira em torno da possibilidade da variante Delta escapar da proteção das vacinas, mas os estudos apontam que não há qualquer confirmação dessa hipótese. As vacinas aprovadas até o momento continuam eficazes.

O que existe é até agora são indícios de que a Delta consiga escapar de anticorpos de pessoas que já foram infectadas pela variante Beta (descoberta na África do Sul).

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