Muitos já ouviram uma expressão que afirma que cães já nascem sabendo nadar. Isso não é verdade, mas segundo cientistas da Universidade de Southampton, na Inglaterra, essa analogia serve para os pterossauros, que, segundo nova pesquisa, já nasciam sabendo voar.

Os pterossauros são uma ordem extinta de répteis voadores que viveram no período mesozóico, da qual fizeram parte os pterodáctilos e suas gerações posteriores. Embora tenham convivido com os dinossauros, os pterossauros não entram nessa classificação, e sua evolução foi relativamente rápida em comparação com outros animais.

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Imagem mostra um pteranodonte, réptil voador da classe dos pterossauros que, segundo cientistas, nasciam sabendo voar
Os pterossauros voavam pelos céus na era dos dinossauros desde pequenos — literalmente: estudos indicam que mesmo os animais recém saídos dos ovos já conseguiam alçar voo para capturar presas difíceis ou fugir de predadores. Imagem: Marti Bug Catcher/Shutterstock

Uma análise mais aprofundada da estrutura óssea dos pterossauros, porém, indica que, mesmo filhotes recém-chocados já sabiam voar — e não apenas uma “levantadinha” do solo, mas voos completos. Isso porque, em termos técnicos, a habilidade de cruzar os céus depende de três elementos básicos: musculatura forte para sustentar o corpo no ar, fibras de queratina resistentes na pele das asas, e ossos bem fortes.

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Esse último elemento serviu de ponto de partida para Darren Naish, paleontologista na Universidade de Southampton, que junto de sua equipe, analisou fósseis de pterossauros — comparando embriões, recém-chocados e adultos em métricas como envergadura (a abertura total de uma asa à outra), a força dos ossos das asas e quanto peso a musculatura seria capaz de carregar.

Especificamente, a equipe analisou duas espécies — Pterodaustro guinazui e Sinopterus dongi — e um osso específico, chamado úmero, também presente em humanos. Esse osso é o que os animais usavam para se lançarem ao ar. E no caso dos pterossauros, o úmero era especialmente forte, mais até que o de alguns adultos das espécies.

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Inclusive, pelo osso em questão ser mais forte e a envergadura das asas ser menor nos filhotes, Naish & equipe estimam que os animais mais jovens eram capazes de ações que apenas alguns adultos conseguiam, como mudar de direção e velocidade no meio do voo ou voar distâncias maiores.

Por essa razão, os cientistas avaliam que os pterossauros mais jovens eram capazes de caçar e escapar de predadores, por exemplo, em matas densas e regiões arborizadas, dadas as suas capacidades de manobra de voo mais eficientes. À medida em que cresciam, os animais aumentavam de peso e tamanho, perdendo essa capacidade e mudando-se para habitats mais abertos.

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Isso quer dizer que todo ser com úmero consegue — ou conseguirá — voar um dia? Não. Em humanos, o úmero serve apenas como um estabilizador para os movimentos do bíceps, além de conectar o ombro aos ossos do antebraço – especificamente, o rádio e a ulna – e não tem desenvolvimento ou maleabilidade de movimento suficientes para nos tirar do chão. Mesmo os exercícios onde nós estamos no ar dependem de apoio externo (como uma barra) e vêm muito mais das costas do que dos braços.

Por esse mesmo motivo, uma recente onda de informações erradas sobre “tiranossauros serem dragões sem asas”, muito comum com influenciadores do TikTok, também é mentira.

Imagem mostra o fóssil de um pterossauro, exposto em museu
O estudo considerou o desenvolvimento do úmero, o osso responsável por fazer pterossauros saírem do chão, e constatou que ele já era desenvolvido mesmo em bebês da espécie. Imagem: mitsuap/Shutterstock

Ainda não se sabe se essa capacidade, onde os pterossauros nasciam já sabendo voar, se traduziu nos animais de hoje. Não há muita observação nesse aspecto, salvo por algumas espécies como o maleo, um pássaro de médio porte que já sai do ovo batendo asas para se proteger de predadores como cobras e lagartos. Ele vive quase exclusivamente na região de Sulawesi, uma ilha na Indonésia.

“Pterossauros bebês certamente não planavam. Eles voavam”, disse Kevin Padian, paleontólogo da Universidade de Berkeley, na Califórnia, e que não tem relação com o estudo. “Nos vertebrados alados, a precocidade é a regra, não a exceção”. Ainda assim, segundo ele, é algo raro um animal em idade jovem ter a capacidade de se proteger sozinho. Mesmo animais mais fortes, como primatas, tendem a depender de grupos quando pequenos.

O estudo foi publicado na Scientific Reports, edição de 22 de julho de 2021.

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