Pesquisadores da Universidade de Oregon (EUA) publicaram os resultados de um longo estudo que promete revolucionar o tratamento da distrofia de Fuchs, disfunção hereditária que afeta as células da córnea e pode levar a graves problemas na visão. Até então, o único tratamento para a doença é o transplante de córnea, uma cirurgia de alto risco. O recente experimento indica, porém, que uma técnica usando o material genético de bactérias pode prevenir o distúrbio e ampliar as possibilidades para outras anomalias.

De acordo com a Medical Xpress, a Distrofia Endotelial de Fuchs (DEF), doença que se caracteriza pela perda progressiva das células que revestem a córnea, é uma condição genética que gera inchaço ocular que pode levar a diminuição da visão, inchaço, deficiência visual e até mesmo cegueira. A anomalia é a principal causa de transplante de córnea, que por sua vez é o único tratamento conhecido até então.

publicidade

Embora o tecido da córnea esteja prontamente disponível para transplantes nos hospitais dos Estados Unidos, ele é escasso em grande parte do mundo. Além do mais, tal procedimento cirúrgico apresenta grande complexidade e risco – tanto durante o processo quanto no pós-operatório. No entanto, a partir das novas descobertas científicas, esse risco poderá ser evitado.

Resultados do estudo pode diminuir a procura por transplante de córnea, único método conhecido até então para o tratamento da doença genética que afeta esse tecido. Créditos: Shutterstock

Os pesquisadores norte-americanos usaram como base para o estudo um subconjunto de início precoce da doença, que geralmente atinge pacientes entre 30 e 40 anos. Eles se concentraram em uma mutação de ponto único em uma proteína de colágeno conhecida como COL8A2, já que estudos anteriores indicavam que a desativação desse gene seria capaz de proteger a córnea contra a doença.

publicidade

Duas abordagens transgênicas distintas em camundongos ajudaram os pesquisadores a encontrar os resultados esperados para confirmar a hipótese. Primeiro eles testaram a tecnologia de intervenção na proteína usando o gene CRISPR-Cas9, parte do DNA de algumas bactérias, mas acabaram freados pelo mecanismo de células pós-mitóticas (neurônios) que encontraram no caminho.

“A interferência em uma célula pós-mitótica é muito difícil, pois é quase impossível induzir a recombinação homóloga nesse tipo de célula”, disse Hironori Uehara, principal autor da pesquisa. Acontece que as pós-mitóticas não possuem capacidade regenerativa, o que impede a troca genética pretendida pelos cientistas.

publicidade

Em uma segunda tentativa, Uehara desenvolveu um meio inovador para tentar bloquear a expressão da COL8A2: ele orientou que a equipe injetasse na câmara anterior do olho, próxima a córnea, um RNA guia de CRISPR-Cas9 em direção ao códon de início – código que sinaliza o local onde se inicia a tradução. Desse modo, eles observaram que a interrupção do código se mostrou capaz de bloquear a expressão da proteína de colágeno.

Leia mais:

publicidade

Para comprovar a descoberta, os cientistas examinaram a segurança do tratamento e determinaram que os tecidos circundantes não foram afetados pela terapia genética. Estudaram ainda outros genes fora do alvo para ter certeza de que não foram afetados. Então, delimitaram uma dose máxima tolerada do material bacteriano para a proteção da retina, íris e outras partes do olho. Com isso, eles demonstraram que a intervenção poderia não apenas preservar a densidade e a estrutura das células endoteliais da córnea, mas também resgatar sua função, indicando possibilidades de tratamento precoce.

Assim, além de ampliar as oportunidades para o tratamento da doença em questão, o experimento pode reduzir a necessidade de transplantes de córnea para pacientes com a patologia, o que ajuda indiretamente outros pacientes com necessidade de tecido córneo.

As conclusões do estudo com camundongos estabelecem também as bases para que pesquisas futuras examinem a viabilidade do uso da técnica de modificação do gene COL8A2 como uma terapia para a distrofia de Fuchs em primatas não humanos e, eventualmente, em testes clínicos envolvendo pessoas. Ademais, indica caminhos para que outros cientistas explorem o método a fim de ampliar o tratamento para doenças genéticas análogas.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!