É possível mandar astronautas para Marte? Pesquisa diz que sim, porém “depende”

Time internacional de cientistas diz que missões tripuladas para Marte não devem passar de quatro anos, para proteger equipes de radiação
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 26/08/2021 17h43, atualizada em 27/08/2021 11h29
Imagem conceitual mostra um astronauta caminhando por região montanhosa de Marte
Imagem: Gorodenkoff/Shutterstock
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Uma das perguntas mais perenes da astronomia — “é possível mandar astronautas para Marte?” — pode ter sido respondida por um time internacional de cientistas, incluindo especialistas da Universidade da Califórnia-Los Angeles (UCLA). De forma resumida: “sim, porém depende”.

Atualmente, vários obstáculos tecnológicos necessitam ser superados antes mesmo de cogitarmos a ideia de uma missão tripulada para Marte. Duas dúvidas são constantes quando esse assunto entra em pauta: a radiação de partículas constitui uma ameaça muito grande para a vida humana em uma viagem ao planeta vermelho? E o momento em que a missão seria lançada ajudaria a proteger tripulantes da radiação?

Leia também

Imagem mostra astronautas caminhando por Marte, em uma imagem que simboliza a colonização do planeta vermelho
A ideia de enviar astronautas para Marte é imaginada por diversos especialistas em astronomia e exploração espacial. Tecnicamente, isso é possível, mas algumas adaptações serão necessárias. Imagem: Supamotion/Shutterstock

Respectivamente, “não” e “sim”, segundo estudo dos cientistas que foi publicado no jornal científico Space Weather (já revisado pelos seus pares).

As duas perguntas são conectadas: é evidente que a radiação solar e partículas espaciais representam um risco significativo à vida humana, e o volume de atividade solar pode ditar a eficácia de qualquer mecanismo de proteção. Há quem pense que quanto menor a atividade do Sol, mais seguros estarão os tripulantes. Na verdade, a resposta pode ser o contrário.

Segundo os autores do estudo, quando o Sol atinge seu grau máximo de atividade — um momento conhecido como solar maximus — as partículas mais perigosas e energizadas das partes mais distantes da galáxia tendem a ser refletidas pela estrela. Assim sendo, partindo do princípio que os astronautas e a nave estivessem suficientemente protegidos, a viagem seria factível.

A grosso modo, uma viagem da Terra a Marte leva em torno de nove meses. Yuri Shprits, um geofísico que participou da pesquisa, afirma que tudo dependeria da quantidade de combustível disponível, mas que não é incabível uma viagem para o planeta vermelho que veja o retorno de seus astronautas em menos de dois anos.

“Este estudo mostra que, ainda que a radiação do espaço imponha severas limitações sobre quando e quão pesado deve ser o lançamento da nave, fora o fato de ela representar dificuldades tecnológicas para missões humanas em Marte, tal viagem é possível”, disse Shprits.

O problema é que a radiação é constante no espaço, e a proteção contra ela eventualmente ficaria degradada — não muito diferente de um escudo que se desgasta quando leva golpes demais. Por isso, Shprits recomenda que tais viagens, no futuro, não passem da duração de quatro anos — ou agências como a Nasa arriscarão ver seus astronautas não voltarem.

É importante ressaltar que, no espaço, somos sujeitos a dois tipos de radiação: partículas solares energizadas e raios cósmicos. As duas variam de intensidade conforme o volume de atividade do Sol: raios cósmicos tendem a ser mais fracos entre seis e 12 meses do pico mais alto de atividade solar, ao passo em que as partículas trazem maior intensidade durante o solar maximus.

Com base nessas informações Shprits, junto de colegas do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), o Instituto de Ciência e Tecnologia de Moscou e o GFZ Potsdam da Alemanha, concluem que uma nave cuja carcaça é feita de um material mais grosso deve proteger astronautas da radiação externa, mas internamente, ela poderia contribuir para envenenamentos de radiação secundários.

Em outras palavras: é possível mandar astronautas para Marte? Sim. Vale a pena fazer isso agora? É melhor não.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!

Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital