Uma das perguntas mais perenes da astronomia — “é possível mandar astronautas para Marte?” — pode ter sido respondida por um time internacional de cientistas, incluindo especialistas da Universidade da Califórnia-Los Angeles (UCLA). De forma resumida: “sim, porém depende”.

Atualmente, vários obstáculos tecnológicos necessitam ser superados antes mesmo de cogitarmos a ideia de uma missão tripulada para Marte. Duas dúvidas são constantes quando esse assunto entra em pauta: a radiação de partículas constitui uma ameaça muito grande para a vida humana em uma viagem ao planeta vermelho? E o momento em que a missão seria lançada ajudaria a proteger tripulantes da radiação?

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Imagem mostra astronautas caminhando por Marte, em uma imagem que simboliza a colonização do planeta vermelho
A ideia de enviar astronautas para Marte é imaginada por diversos especialistas em astronomia e exploração espacial. Tecnicamente, isso é possível, mas algumas adaptações serão necessárias. Imagem: Supamotion/Shutterstock

Respectivamente, “não” e “sim”, segundo estudo dos cientistas que foi publicado no jornal científico Space Weather (já revisado pelos seus pares).

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As duas perguntas são conectadas: é evidente que a radiação solar e partículas espaciais representam um risco significativo à vida humana, e o volume de atividade solar pode ditar a eficácia de qualquer mecanismo de proteção. Há quem pense que quanto menor a atividade do Sol, mais seguros estarão os tripulantes. Na verdade, a resposta pode ser o contrário.

Segundo os autores do estudo, quando o Sol atinge seu grau máximo de atividade — um momento conhecido como solar maximus — as partículas mais perigosas e energizadas das partes mais distantes da galáxia tendem a ser refletidas pela estrela. Assim sendo, partindo do princípio que os astronautas e a nave estivessem suficientemente protegidos, a viagem seria factível.

A grosso modo, uma viagem da Terra a Marte leva em torno de nove meses. Yuri Shprits, um geofísico que participou da pesquisa, afirma que tudo dependeria da quantidade de combustível disponível, mas que não é incabível uma viagem para o planeta vermelho que veja o retorno de seus astronautas em menos de dois anos.

“Este estudo mostra que, ainda que a radiação do espaço imponha severas limitações sobre quando e quão pesado deve ser o lançamento da nave, fora o fato de ela representar dificuldades tecnológicas para missões humanas em Marte, tal viagem é possível”, disse Shprits.

O problema é que a radiação é constante no espaço, e a proteção contra ela eventualmente ficaria degradada — não muito diferente de um escudo que se desgasta quando leva golpes demais. Por isso, Shprits recomenda que tais viagens, no futuro, não passem da duração de quatro anos — ou agências como a Nasa arriscarão ver seus astronautas não voltarem.

É importante ressaltar que, no espaço, somos sujeitos a dois tipos de radiação: partículas solares energizadas e raios cósmicos. As duas variam de intensidade conforme o volume de atividade do Sol: raios cósmicos tendem a ser mais fracos entre seis e 12 meses do pico mais alto de atividade solar, ao passo em que as partículas trazem maior intensidade durante o solar maximus.

Com base nessas informações Shprits, junto de colegas do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), o Instituto de Ciência e Tecnologia de Moscou e o GFZ Potsdam da Alemanha, concluem que uma nave cuja carcaça é feita de um material mais grosso deve proteger astronautas da radiação externa, mas internamente, ela poderia contribuir para envenenamentos de radiação secundários.

Em outras palavras: é possível mandar astronautas para Marte? Sim. Vale a pena fazer isso agora? É melhor não.

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