De acordo com um estudo publicado esta semana na revista científica Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, cometas de outros sistemas estelares, como Borisov 2019, visitam nosso sistema solar com mais frequência do que os cientistas pensavam.

Ilustração de um cometa da nuvem de Oort ao passar pelo sistema solar interno com poeira e gás evaporando em sua cauda.
Ilustração de um cometa da Nuvem de Oort ao passar pelo sistema solar interno com poeira e gás evaporando em sua cauda. Imagem: NASA/SOFIA/Lynette Cook

Tendo como base dados coletados enquanto Borisov percorria a Terra a uma distância de cerca de 300 milhões de quilômetros, no final de 2019, a pesquisa sugere que o repositório de cometas distante conhecido como Nuvem de Oort pode estar cheio de objetos que nasceram em torno de outras estrelas. 

Segundo os autores do estudo, a Nuvem de Oort pode conter mais material interestelar do que doméstico. 

Nuvem de Oort nunca foi visitada por espaçonaves

Batizada em homenagem ao famoso astrônomo holandês Jan Oort, que provou sua existência pela primeira vez na década de 1950, a Nuvem de Oort é uma concha esférica de pequenos objetos – asteroides, cometas e fragmentos – muito além da órbita de Netuno.

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Acredita-se que a borda interna da nuvem comece a cerca de 2 mil unidades astronômicas (UA) do Sol, e sua borda externa fica a cerca de 200 mil UA de distância (uma UA é a distância média da Terra-Sol – cerca de 150 milhões de quilômetros).

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Nenhuma espaçonave jamais visitou a Nuvem de Oort, e ainda levará 300 anos para que a distante sonda Voyager 1, da Nasa, aviste a porção mais próxima da nuvem.

De acordo com reportagem do site Space.com, os astrônomos têm ferramentas muito limitadas para estudar esse local intrigante, pois os objetos na Nuvem de Oort não produzem sua própria luz e, ao mesmo tempo, estão muito distantes para refletir grande parte da luz do Sol.

Como os cientistas sabem se há cometas interestelares na Nuvem de Oort?

Amir Siraj, astrofísico formado no Departamento de Astronomia da Universidade de Harvard e principal autor do estudo, afirmou que poderia calcular a probabilidade de cometas estrangeiros visitarem o sistema solar pelo simples fato de o cometa Borisov ter sido descoberto. 

“Com base na distância em que Borisov foi detectado, estimamos a abundância local implícita de cometas interestelares, assim como a abundância de objetos parecidos com o objeto interestelar Oumuamua”, explicou.

O misterioso Oumuamua, avistado pela primeira vez por astrônomos no Havaí em outubro de 2017, foi o primeiro corpo interestelar já detectado em nosso sistema solar. Ele passou pela Terra a uma distância de 24 milhões de km, cerca de um sexto da distância entre o nosso planeta e o Sol. 

A partir daí, um intenso debate sobre a natureza de Oumuamua se seguiu, já que não estava claro no início se o objeto era um cometa ou um asteroide.

Oumuamua foi avistado pela primeira vez por astrônomos no Havaí em outubro de 2017 e é o primeiro corpo interestelar já detectado em nosso sistema solar. Imagem: Wikimedia Commons

Astrônomos usaram método de Poisson para calcular probabilidade de existência de cometas

“Mesmo a detecção de um único objeto pode ser usada para análises estatísticas”, disse Siraj. Na análise, ele utilizou o chamado método de Poisson, que calcula a probabilidade de um evento acontecer em um intervalo fixo de tempo e espaço desde o último evento de mesma natureza.

Levando em consideração a força gravitacional do Sol, Siraj e o coautor do estudo, Avi Loeb, outro astrônomo de Harvard, foram capazes de estimar a probabilidade de um cometa interestelar chegar às proximidades da Terra. 

Eles descobriram que o número de cometas interestelares que passam pelo sistema solar aumenta conforme a distância do Sol. “Concluímos que, nos confins do sistema solar, e mesmo considerando as grandes incertezas associadas à abundância de objetos semelhantes a Borisov, os cometas interestelares transitórios devem superar os objetos da Nuvem de Oort (cometas de nosso próprio sistema solar)”, acrescentou Siraj.

Então, por que os astrônomos viram apenas um cometa interestelar até agora? A resposta é tecnologia. Apenas recentemente, os telescópios se tornaram poderosos o suficiente para serem capazes de localizar aqueles corpos pequenos, mas extremamente rápidos, ainda mais estudá-los em detalhes. 

“Antes da detecção do primeiro cometa interestelar, não tínhamos ideia de quantos objetos interestelares havia em nosso sistema solar”, disse Siraj. “A teoria sobre a formação de sistemas planetários sugere que deveria haver menos visitantes do que residentes permanentes. Agora, estamos descobrindo que pode haver substancialmente mais visitantes”.

Eles esperam que, com a chegada dos telescópios de última geração, como o Observatório Vera C. Rubin, atualmente em construção no Chile, o estudo dos cometas e asteroides extra-solares realmente possa decolar. 

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