Já reparou como, em tempos mais frios, você encontra mais insetos dentro da sua casa? Isso tem muito a ver com uma crença popular que diz que alguns tipos de insetos podem prever mudanças no clima, procurando locais mais seguros e confortáveis em períodos frios como o outono ou inverno.

Essa afirmação encontra base na percepção de algumas pessoas de que, na entrada do outono, por exemplo, vemos teias de aranha mais densas e “cheias”. Bom, a evidência científica sobre a parte das teias é bastante circunstancial, mas o restante tem uma base bem consistente – e surpreendentemente, parecida com o comportamento humano.

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Imagem mostra uma aranha caminhando pelo chão de uma cozinha. A foto mostra como insetos conseguem prever mudanças climáticas e se adaptam de acordo
A mudança para tempos mais frios normalmente é sinalizada pela presença de insetos em lugares onde eles não costumam aparecer, como os cantos da sua casa ou enterrados (Imagem: RHJPhtotoandilustration/Shutterstock)

Antes de mais nada, é preciso entender que o frio, para os insetos, é uma questão de vida ou morte: mudanças climáticas do tipo são bruscas para eles, e isso afeta diretamente o comportamento diário de alguns desses animais. Vespas, por exemplo, tendem a procurar mais e mais plantas, consumir mais néctar que o habitual, a fim de garantir sustento em um período que, elas sabem, está em vias de entrar e reduzir a quantidade de vegetação disponível (em vários casos, elas entram nas latas e garrafas de refrigerantes e outras bebidas excessivamente açucaradas – elas não fazem muita distinção da fonte do alimento).

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Algumas taturanas revertem a um estado larval, mantendo-se aquecidas em abrigos e alguns tipos de insetos conseguem até trocar a água do corpo por uma substância chamada “glicerol”, que tem propriedades anticongelantes – algo importante em países como os EUA, onde a neve é abundante. Aranhas – que não são necessariamente insetos – já preferem ser mais práticas: elas simplesmente buscam abrigos aquecidos (como cantos escuros da sua casa).

A ciência por trás disso explica um pouco desse comportamento: assim como nós, seres humanos, insetos percebem a luz por meio dos olhos. Mas ao contrário de nós, que só temos dois olhos, boa parte dos insetos têm quatro, seis ou oito deles – com esses “extras” sendo chamados de “ocelos”.

E os ocelos têm um funcionamento diferente: eles enxergam assim como os olhos normais, mas são adaptados a identificarem mudanças na luminosidade do dia, a uma frequência que olhos humanos não conseguem registrar. E mudanças na luz são os primeiros sinais de que o tempo está prestes a “virar”. Ao identificar essas mudanças, os insetos, aracnídeos e outros animais similares alteram seus comportamentos para se prevenir de riscos vindos do frio.

No Brasil, setembro e outubro marcam a entrada da primavera. Mas o inverso ocorre no hemisfério norte, onde eles estão entrando no outono e, posteriormente, no inverno (é por isso, por exemplo, que o fim de ano aqui se resume a sol e praias lotadas de verão, enquanto nos EUA o assunto é neve e roupas grossas). Mas essas mudanças de comportamento afetam ambos os lados.

Veja a bela-dama, um tipo de borboleta natural do Reino Unido (tipicamente frio), que entra em processo de migração para o norte da África (normalmente mais quente) durante o outono e inverno britânico. Na África, elas aproveitam a viagem para se reproduzir, o que impacta no aumento de predadores em solo africano e uma maior polinização da vegetação local, já que belas-damas adultas se alimentam, entre outras coisas, do néctar de flores.

“Geralmente, insetos são mais capazes de sobreviver ao frio quando a temperatura é estável, e não flutuando entre períodos quentes e frios”, diz trecho de um estudo do Museu de História Natural do Smithsonian, nos EUA. “Muitos insetos conseguem abrigo e sustento em uma variedade de microhabitats – como se enterrar sob o solo, entrar em buracos na madeira ou se abrigar sob pedras ou até mesmo algumas folhas de plantas. Uma mosca, inclusive, é muito conhecida por pescadores por ficar mais presente em alguns corpos d’água, e suas larvas são amplamente usadas como isca de pesca”.

Outro traço comum é o acasalamento acelerado de algumas espécies em períodos que antecedem as chuvas. Alguns insetos, antecipando as mudanças no clima, buscam assegurar a longevidade da espécie ao depositarem seus ovos em abrigos mais seguros. Assim, quando a temporada de chuva passar, as larvas estarão em pleno crescimento, com bastante comida disponível.

Sabe quando você vê o céu mais cinza e nublado e sai de casa com um guarda-chuva, só por garantia? Mesmo princípio, espécies diferentes.

Então, da próxima vez que você ver algum inseto debaixo de uma pedra ou em algum canto ou fresta isolada na sua casa, é bom reparar no tempo: pode ser a hora de tirar do armário aquele cobertor mais quentinho.

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