Cientistas da Universidade de Maryland criaram um novo método que enrijece facas de madeira, tornando-as mais afiadas e, potencialmente, capazes de substituir o aço como material de fabricação. A novidade foi anunciada em um paper publicado no jornal científico Matter na data de hoje (20).
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“A faca consegue cortar um bife bem passado facilmente, com desempenho similar ao talher que você tem na cozinha”, disse Teng Li, pesquisador de materiais na instituição e autor primário do estudo. Segundo ele, após o uso, a faca de madeira endurecida pode ser lavada e reutilizada como qualquer outra feita em aço.
Embora pareça algo inócuo de ser pesquisado, existe um contexto de sustentabilidade neste método: considere, por exemplo, os talheres descartáveis, feitos em plástico e que, junto de garrafas e outros objetos do mesmo material, compõem um problema bem grave: a produção excessiva de lixo e práticas pouco eficientes de descarte.
Na pesquisa desenvolvida por Li e seus companheiros, as facas de madeira são feitas por meio de um processamento diferente da celulose, o principal componente da matéria-prima: “Ela tem uma taxa de força e densidade mais alta que a maioria dos materiais oriundos da engenharia humana, como cerâmica, metal e polímeros, mas o nosso uso atual da madeira mal toca em seu potencial completo”, ele diz.
Segundo Li, ainda que amplamente usada na construção civil, a força da madeira não é tão grande quanto a da celulose. Isso porque a madeira em si tem entre 40% e 50% do composto, enquanto o restante corresponde a lignina e hemicelulose, que agem como uma espécie de “cola” entre todos os materiais.
Por isso, o projeto viu a remoção desses dois elementos – considerados mais fracos – mas sem destruir a integridade química da celulose em si. “É um processo de dois passos: o primeiro envolve a remoção da lignina da madeira, que normalmente é bem rígida, mas depois disso, se torna macia e flexível. Em seguida, posicionamos o material em uma prensa térmica, deixando a madeira mais densa e removendo a água”. Para finalizar, Li aplicou um revestimento de óleo mineral para ampliar a vida útil do utensílio.
O resultado disso é uma faca de madeira produzida com o fio ultra fino do aço, além de uma durabilidade estendida. Esse processo, porém, consome consideravelmente menos energia que o normal, uma vez que talheres de aço dependem de forjas e fornalhas de altas temperaturas – e elas causam um de dois problemas: por um lado, elas podem funcionar à base de carvão, o que amplia a poluição e destrói um grande volume de madeira. Por outro, elas podem ser elétricas, o que exige uma estrutura robusta de produção e distribuição de energia, fora alto consumo.
Mais além, Li também usou o mesmo procedimento para fazer pregos de madeira, que funcionaram com a mesma eficácia dos pregos tradicionais (embora o vídeo abaixo tenha levado bem mais tempo que o normal – e com marteladas bem mais fracas – para penetrar as placas de madeira).
“Esse processo de dois passos que usamos reduz significativamente os defeitos da madeira”, disse Li, que lembra que a celulose tende a absorver água, preservando o fio de corte mesmo após lavagem. “Esses canais de transporte de água e outros nutrientes são praticamente inexistentes [nos nossos utensílios]”.
Ainda faltam alguns testes para comprovar a aplicabilidade dos utensílios em ambientes mais práticos, porém. A cerâmica, por exemplo, é feita com materiais aquecidos a alguns milhares de graus Celsius (ºC) – um teste pelos quais as facas de madeira de Li e sua equipe ainda não passaram.
Mesmo assim, o pesquisador está otimista: “em nossa cozinha, nós temos várias peças de madeira que usamos por um longo tempo, como pranchas de corte ou os hashi da comida japonesa. Essas facas também poderão ser usadas por muitas vezes se você cuidar de sua manutenção, afiando-as e cuidando de sua saúde rotineiramente”.
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