Uma nova pesquisa publicada na última quarta-feira (20) na revista Nature prova: os mamutes morreram por causa de um ciclo de amplas mudanças climáticas, e não por culpa dos humanos antigos. Até então, acreditava-se que nossos ancestrais teriam caçado os primos peludos dos elefantes até a extinção.
Leia também
- Empresa levanta quase R$ 80 milhões para ‘ressuscitar mamutes’
- Aquecimento global cria falha de 3 mil km² na região mais antiga do Ártico
- Fim dos tempos? Há indícios de que nova extinção em massa pode estar próxima
Não foi esse o caso, de acordo com a equipe liderada pelo professor Eske Willerslev, pesquisador convidado das universidades de St. John e Cambridge, que usou o sequenciamento de DNA para estabelecer parâmetros ambientais e determinar as condições de vida dos mamutes no período em que eles sumiram.
Mamutes caminharam pela Terra por aproximadamente cinco milhões de anos, sobrevivendo a eventos cataclísmicos e coexistindo com outros animais e o homem durante milênios. Entretanto, cerca de 4 mil anos atrás, eles desapareceram da Terra. Mas se não fomos nós a matá-los, então o que foi?

Um episódio de aquecimento global. Especificamente, o aumento da temperatura da Terra que alagou terras onde a comida dos mamutes era abundante.
A relação dos animais com os humanos implica na caça desenfreada: várias descobertas ao longo dos anos mostram que os mamutes nos serviam em uma multitude de utilidades – sua carne nos forneceu alimento, suas presas viraram pontas de lanças e arpões, suporte para barracas e tendas e seu pêlo, em nosso corpo, virou vestimenta. Entretanto, foi uma mudança climática severa que decretou o fim da espécie.
Aqui, é importante ressaltar que o aquecimento global que matou os mamutes não é o mesmo que enfrentamos na era moderna: ao contrário de hoje, as mudanças daquela época tinham uma origem natural, ao passo que atualmente os problemas ambientais são majoritariamente causados pela mão humana, com industrialização desenfreada e o uso de recursos não renováveis. Já falamos sobre isso aqui no site.
Os mamutes sobreviveram a diversas “eras do gelo”, já que seus corpos imensos eram resistentes ao frio e suas presas lhes permitiam escavar vegetação – seu principal alimento – da neve. Entretanto, com o aquecimento do planeta e derretimento dos grandes icebergs da época, áreas de ampla vegetação acabaram inundadas, efetivamente deixando os imensos animais – que podiam chegar a dois andares de tamanho – sem sustento.
“Nós finalmente conseguimos provar que não só a mudança climática era um problema, mas também a velocidade com a qual ela ocorreu é que foi o ‘prego no caixão’, por assim dizer – os mamutes não puderam se adaptar ao novo ambiente da Terra rapidamente, quando a comida ficou escassa”, disse Willerslev. “À medida em que o clima esquentou, árvores, pântanos e mangues substituíram o habitat de pastagens e vegetação rasteira dos mamutes. Vale lembrar que haviam outros animais bem mais fáceis de caçar do que eles, também”, ele continuou, implicando que os humanos da época se arriscariam demais ao caçar apenas os gigantes felpudos.

Uma espécie nômade, os mamutes viajaram por praticamente todo o mundo, com restos mortais de seus exemplares sendo encontrados por literalmente todos os continentes exceto Austrália e América do Sul. Isso também foi confirmado por esse projeto, que elaborou o sequenciamento do DNA de 1,5 mil espécies de plantas árticas para demonstrar a presença dos mamíferos que precederam o elefante moderno.
Foi por causa dessa característica que os mamutes conseguiram perdurar por vários eventos climáticos de grande porte: “a era de gelo mais recente — chamada de ‘Pleistoceno’ – acabou há 12 mil anos, quando as geleiras começaram a derreter e os rebanhos de mamutes começaram a sumir”, disse Yucheng Wang, que assina a autoria primária do paper e atua no Departamento de Zoologia de Cambridge.
“Pensava-se que os mamutes começaram a morrer nessa época, mas nosso estudo também descobriu que muitos sobreviveram ao evento em diferentes regiões do Ártico e entraram no Holoceno — o período em que vivemos hoje -, permanecendo por mais tempo do que cientistas imaginaram”, comentou.
As conclusões do estudo reforçam o fato de que mamutes e humanos coexistiram por pelo menos dois mil anos – para se ter uma noção comparativa, eles ainda existiam quando as Três Pirâmides de Gizé, no Egito, foram construídas. A nossa fascinação por eles, portanto, é bem sustentada no fato de que, no panorama geral da vida, eles estavam conosco até pouco tempo. Esse fascínio se traduz em ciência: até hoje, diversos esforços seguem seu curso em tentar reviver os animais, por meio de recombinação genética e clonagem.
Para Willerslev, a descoberta serve para dar mais sustentação ao cuidado que devemos ter quando tratamos do aquecimento global: “essa é uma dura lição da história e mostra o quão imprevisíveis são as mudanças climáticas — quando algo se perde, não há como recuperar. As chuvas foram a principal causa de extinção dos mamutes, já que elas ajudaram na alteração da disposição de vegetais que os alimentavam. A mudança aconteceu rápido demais para que eles se adaptassem”.
Ele continua: “isso prova que nada é garantido quando falamos do impacto de mudanças massivas no clima. Os humanos antigos viram o mundo mudar além de qualquer reconhecimento — isso pode facilmente acontecer de novo e não temos como assegurar nem mesmo se estaremos vivos para testemunhar. Só podemos prever que as mudanças serão massivas”.
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!