Sistema estelar a 150 anos-luz confunde cientistas por suas órbitas em sentidos estranhos

Estrela HD-3167 tem exoplanetas girando à direita de sua órbita, e dois que vão de cima abaixo; conjunto a 150 anos-luz confunde cientistas
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 08/11/2021 19h00, atualizada em 09/11/2021 17h00
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Imagem: Dotted Yeti/Shutterstock
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O sistema estelar HD-3167 vem causando dor de cabeça em cientistas, que identificaram diversos exoplanetas ao seu redor, cujas órbitas seguem direções e sentidos bastante estranhos.

Segundo eles, essa confusão não é nova, já que a estrela em si foi descoberta em 2016. Mas desde então, alguns dos planetas que observamos ao seu redor vêm se comportando de forma ainda inexplicável.

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Exoplanetas em sistema estelar não muito distante têm órbitas estranhas, e causam confusão para cientistas
Trajetória incomum nas órbitas de exoplanetas distantes estão deixando cientistas muito confusos (Imagem: ANDREI SALAUYOU/Shutterstock)

Começando pelo ano de 2016, dois exoplanetas foram descobertos na região, a 150 anos-luz da Terra. Os planetas HD 3167c e HD 3167d orbitam a sua estrela regente não no plano meridiano (pelas laterais), mas sim nos sentidos polares. A grosso modo, ao invés de orbitarem o equador da estrela, eles percorrem uma trajetória de cima para baixo dela, passando pelos seus pólos.

Agora, porém, os astrônomos da Universidade de Genebra, na Suíça, descobriram um terceiro planeta, que orbita em orientação meridiana – ou seja, igual a nossa. Mas ele o faz em sentido horário.

“Evidentemente, foi uma surpresa”, disse Vincent Bourrier, astrônomo da universidade e autor do estudo publicado no jornal Astronomy & Astrophysics. “Isso é algo radicalmente diferente do nosso sistema solar. Se você estivesse em qualquer um dos planetas e olhasse para o céu com um telescópio, veria os outros se movendo na vertical”.

A descoberta foi feita por um instrumento conhecido como “ESPRESSO”, localizado no VLT (sigla em inglês para “Telescópio Muito Grande”, e sim, esse é o nome dele), no Chile. Por meio de análises extremamente precisas da estrela, o time de Bourrier foi capaz de monitorar a direção de passagem do planeta mais próximo da HD-3167 em relação à nossa perspectiva – um movimento conhecido como “trânsito” – e estimar o ângulo de sua órbita.

De acordo com Bourrier, não foi possível determinar o motivo para essa disparidade de movimentos entre os três planetas. A astrônoma Shweta Dalal, da Universidade de Exeter na Inglaterra (não envolvida no estudo) afirma que um quarto planeta, do tamanho de Júpiter, poderia explicar esse desalinhamento.

“Um planeta do tamanho do nosso maior vizinho teria uma capacidade gravitacional forte o suficiente para desviar a trajetória de órbita dos outros planetas”, ela comentou.

E por que isso não ocorreu por aqui, uma vez que, ao contrário da HD-3167, o “nosso” Júpiter é mais do que confirmado?

O motivo reside nas amplitudes das órbitas dos nossos planetas na Via Láctea: como nossos arcos são mais ou menos equidistantes e há bastante espaço entre uns e outros, mesmo com toda a sua força gravitacional, Júpiter não consegue exercer influência suficiente para nos tirar do nosso eixo – o que é até esperado, considerando que a gravidade de Júpiter é “apenas” 2,4 vezes maior que a da Terra.

Bourrier já deixou claro que pretende continuar usando o ESPRESSO para estudar esse e outros sistemas estelares, e o telescópio Gaia, da agência espacial europeia (ESA) está mapeando bilhões de galáxias na Via Láctea, então tudo indica que vamos descobrir mais “estranhezas” por aí.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital