Cientistas descobrem ancestral humano que era capaz de caminhar e escalar

Fóssil do Australopithecus sediba tem dois milhões de anos e acaba com debate sobre a capacidade de subir em árvores dos hominídeos
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 26/11/2021 18h31, atualizada em 29/11/2021 09h47
australopithecus-sediba-capa
(Imagem: Universidade de Nova York et al./Divulgação)
Compartilhe esta matéria
Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Um debate de décadas sobre os hominídeos antigos serem ou não capazes de escalar árvores chegou à sua conclusão, graças à descoberta de um antigo ancestral humano que trazia habilidades para caminhar em dois pés como o homem moderno, mas também de escalar árvores como os antigos primatas.

O fóssil – batizado Australopithecus sediba – tem aproximadamente dois milhões de anos e representa o “elo perdido” do período em que nossos antepassados biológicos começaram a se comportar menos como primatas e mais como humanos.

Leia também

Detalhamento da articulação vertebral na região lombar mostra que o Australopithecus sediba, um longevo ancestral humano, era capaz de caminhar sobre dois pés e escalar árvores tal qual um primata
Detalhamento da articulação vertebral na região lombar mostra que o Australopithecus sediba, um longevo ancestral humano, era capaz de caminhar sobre dois pés e escalar árvores tal qual um primata (Imagem: Universidade de Nova York et al./Divulgação)

Ao todo, 17 instituições – incluindo a Universidade de Nova York e a Universidade de Witwatersrand – anunciaram em comunicado conjunto as conclusões de um estudo centrado na descoberta, no jornal científico aberto e-Life.

A descoberta do sediba se deu originalmente em 2008, em Malapa, África do Sul, pelo professor Lee Berger (Witwatersrand) e seu então filho de nove anos, Matthew. Em 2015, durante a instalação de trilhos para uma mina de minérios, os fósseis foram de fato desenterrados, elevando Malapa à posição de Patrimônio Cultural da UNESCO.

Na região, especialistas conseguiram recentemente recuperar uma articulação vertebral da lombar do Australopithecus sediba, depositada dentro de uma rocha conhecida como “brecha”. Ao invés de arriscar danos, os cientistas o escanearam por meio de tomografia computadorizada, preservando os ossos bem delicados.

O conjunto foi comparado às descobertas de anos anteriores para fins de determinar se pertenciam ao mesmo indivíduo – uma fêmea apelidada “Issa”, que significa “protetora” no idioma suaíli. Após a confirmação, foi determinado que o fóssil sediba tinha cinco vértebras na região lombar, assim como os humanos modernos.

“A lombar é essencial para entendermos a natureza do bipedalismo em nossos ancestrais mais antigos, bem como para compreendermos o quão bem eles se adaptaram a caminhar em duas pernas”, disse o professor Scott Williams, professor de Nova York e autor primário do paper sobre a descoberta. “Séries de vértebras lombares são extraordinariamente raras no registro de fósseis hominídeos – apenas três outros conjuntos espinhais inferiores são conhecidos de todo o registro africano antigo”.

Ilustração mostra como seria o visual do Australopithecus sediba, um dos ancestrais mais adaptados dos seres humanos (Imagem: Universidade de Nova York et al./Divulgação)
Ilustração mostra como seria a aparência do Australopithecus sediba, um dos ancestrais mais adaptados dos seres humanos (Imagem: Universidade de Nova York et al./Divulgação)

Issa, junto de um outro espécime, é uma das únicas espécies hominídeas com registros preservados de vértebras inferiores e dentição – o que nos permite aferir a sua identidade sem contestação.

Antigamente, especulava-se que a espinha do Australopithecus sediba fosse mais reta, colocando-o em maior proximidade com os neandertais (Homo neanderthalensis). Entretanto, a articulação encontrada mostra justamente a “lordose” – ou seja, a curvatura da coluna vertebral que nós temos até hoje e que consiste um sinal de adaptação à vida bípede -, reposicionando seu histórico de vida a algo mais próximo do Homo erectus.

De acordo com a professora Gabrielle Russo, da Universidade de Stony Brook e co-autora do estudo, a presença dessa lordose não é apenas um sinal de uma vida adaptada ao bipedalismo, mas também de uma considerável força no tronco superior do corpo – o que é indício de atividades arbóreas, como subir em troncos.

“A espinha é o que ‘amarra’ todos esses detalhes”, disse o professor Cody Prang da Universidade Texas A&M. “A maneira como essas combinações persistiram em nossos ancestrais mais antigos, incluindo adaptações para andar no chão e subir em árvores de forma eficiente, é talvez uma das maiores questões remanescentes da origem humana”.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!

Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital