Do pouco que entendemos do espaço, sabemos que nem mesmo a luz escapa da força gravitacional dos buracos negros. Entretanto, uma ocasião recentemente observada por astrônomos do Observatório Palomar, na Califórnia, pode, com o perdão do trocadilho, “jogar mais luz” nessa premissa.

De acordo com um comunicado emitido pela NASA, os especialistas podem ter observado, pela primeira vez, a luz resultante do choque de dois buracos negros que bateram um contra o outro em maio de 2019, em um evento nomeado “GW190521g”.

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Ilustração mostra efeitos de luz decorrentes de dois buracos negros interagindo entre si
A colisão de dois buracos negros pode gerar efeitos de luz que permitiriam a sua identificação direta, segundo algumas teorias: NASa identificou ocasião que pode acabar provando a veracidade dessa ideia (Imagem: Elena11/Shutterstock)

O motivo da apreensão neste caso é justificado: como dissemos, buracos negros não têm luz própria, nem tampouco refletem a luz de outros objetos – que é como observamos a maioria dos eventos espaciais. Além disso, sua capacidade gravitacional é tão intensa que nem mesmo a luz – que viaja pelo universo a quase 300 mil quilômetros por segundo (km/s) – consegue escapar de sua influência.

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Mas então, o que é essa “luz dos buracos negros” mencionada pela NASA? Bom, os cientistas e a agência espacial americana acreditam tratar-se da matéria em volta dos objetos que se chocaram, conforme regem algumas teorias que postulam que choques entre objetos massivos no espaço podem fazer com que a matéria ao seu redor emita luz.

A suspeita ainda não foi cientificamente confirmada, mas a especulação tem uma base mais sólida aqui: usando duas estruturas especificamente criadas para a detecção de ondas gravitacionais – a colaboração científica LIGO (ou Laser Interferometer Gravitational-wave Observatory) e o detector Virgo, os cientistas estavam ativamente buscando por esse tipo de “luz”, e acham tê-la encontrado no choque dos dois buracos negros.

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Nos últimos seis anos, desde quando, em 2015, observamos as ondas gravitacionais pela primeira vez, nós aprendemos muito mais sobre buracos negros do que em décadas anteriores. Essencialmente, eles são perturbações no tempo-espaço previstas na Teoria Geral da Relatividade, postulada por Albert Einstein em 1915.

Essas perturbações, entendem os cientistas, foram o que fizeram com que a matéria próxima dos buracos negros irradiassem.

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Se comprovada a tese, essa será a primeira vez que tivemos uma evidência de uma colisão de objetos espaciais dessa magnitude.

Luz de choque entre buracos negros pode ter sido observada antes

A situação é bastante parecida com uma notícia que o Olhar Digital veiculou há mais de um ano, em junho de 2020. Naquela época, cientistas ligados ao JPL-Caltech da NASA também afirmaram que, pelo uso do LIGO, conseguiram identificar uma espécie de “luz” no que “poderia ser” o “choque entre dois buracos negros”.

Escrevemos na época: “[Matt] Graham e seus colegas então detectaram que as explosões luminosas correspondiam ao perfil dos impactos entre buracos negros identificados pela LIGO. Assim, as hipóteses de explosões de galáxias ou estrelas foram descartadas pelos cientistas”, em referência ao professor de astrofísica da Caltech.

Também dissemos: “se houve o impacto, o choque deve ter resultado em outro buraco negro que pode ter sido alçado para fora do disco de poeira. O objeto espacial ainda estaria orbitando o buraco negro supermassivo no centro da galáxia que envolve o disco de poeira, e deve cruzar o disco daqui um ou dois anos. Os pesquisadores acreditam que se outro brilho for detectado, o episódio vai corroborar com as teorias já apresentadas”.

Aí fica a pergunta: qual dos dois eventos vale como “a primeira vez”? Bom, os dois, tecnicamente. E tecnicamente, nenhum deles. Existe alguma piada sobre o “gato de Schrödinger” em algum lugar aqui.

Isso porque, assim como o atual, o evento de 2020 ainda não foi cientificamente comprovado. Como você viu, há um intervalo entre as observações de luminosidade – o próximo, se houver, deve ocorrer em 2022. Logo, como nenhuma das duas ocasiões ainda tem uma comprovação sólida, as duas permanecem como hipóteses primárias.

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