A agência espacial americana NASA inaugurou nesta quarta-feira (8) a nova versão de seu sistema de monitoramento de asteroides, criado para prever – e se possível, nos mostrar como evitar – potenciais impactos com a Terra. Chamado simplesmente de Sentry-II, a novidade é um upgrade que considera dados de tecnologias mais recentes que seu antecessor.
Explicando: o Sentry existe há décadas, e sempre foi uma ferramenta bastante confiável para prever objetos que possam ameaçar a Terra no futuro. Entretanto, com novos telescópios, sondas, naves e observações cada vez mais aprofundadas sendo lançados, ele poderia deixar passar alguns objetos que nós já vimos por outros meios, mas ele não – o sistema original é de 2002, afinal.
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“A primeira versão do Sentry era um sistema bastante capacitado, em operação por quase 20 anos”, disse Javier Roa Vicens, ex-líder de desenvolvimento do Sentry-II no Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA e atual engenheiro de software na SpaceX. “Ele era baseado em cálculos matemáticos bem inteligentes: em apenas uma hora, você poderia ter dados de probabilidade de impacto de um asteroide recém-descoberto nos próximos 100 anos – algo incrível”.
É aí que entra o Sentry-II: a NASA criou a nova versão do sistema de monitoramento de asteroides pensando no uso de dados cada vez mais recentes, contemplando não apenas os quase 28 mil objetos próximos à Terra (Near-Earth Asteroids, ou simplesmente “NEAs”), mas objetos identificados por outras tecnologias. A ideia é se antecipar ao provável volume de objetos que vamos identificar com materiais como o observatório Vera C Rubin, para citar um exemplo.
Ao contrário do que o cinema nos ensina, asteroides não são rochas gigantes imprevisíveis – bem, algumas delas certamente são gigantes. Na verdade, todos eles obedecem às leis da física em relação às suas órbitas ao redor do Sol, o que nos permite prever seus movimentos com alta precisão e confiabilidade.
O maior receio, contudo, não é um desvio que os coloque em colisão direta conosco, mas sim que, eventualmente, as trajetórias deles cruzem com a nossa. Por essa razão, não podemos simplesmente descartar a possibilidade de impactos.
Com o Sentry-II, a NASA afirma ter um sistema de monitoramento capaz de calcular probabilidades para todos os NEAs – até mesmo aqueles que o sistema anterior não conseguia calcular. Em números expressos, o Sentry-II consegue fazer cálculos até mesmo das menores chances – coisa de uma em 10 milhões e além.
Isso porque o primeiro Sentry não contava com algo que a física chama de “Efeito Yarkovsky”.
Veja bem, a trajetória de um asteroide é determinada por duas coisas: a primeira, e mais evidente, é a força gravitacional do Sol. A segunda é a força gravitacional dos planetas. Ambas eram previstas pelo sistema antigo.
Entretanto, o efeito Yarkovsky considera alterações de movimento causadas pela termodinâmica: assim como planetas, asteroides também têm rotação. Então o lado iluminado pelo Sol esquenta, gira e, ao voltar para a sombra, esfria. Esse parâmetro libera energia infravermelha que promove “cutucões” contínuos na trajetória orbital do objeto.
A curto prazo, esses cutucões não fazem diferença, mas em décadas, séculos ou milênios, a história é outra. Isso foi descoberto pelo engenheiro civil polonês Ivan Osipovich Yarkovsky – daí o nome.
Essa parte, o antigo Sentry ignorava. O Sentry-II não.
“O fato do Sentry não considerar automaticamente o Efeito Yarkovsky era uma limitação”, disse Davide Farnocchia, engenheiro de navegação do JPL. “Toda vez que encontrávamos um caso especial – tipo os asteroides Apophis, Bennu ou 1950 DA — nós tínhamos que fazer análises complexas e manuais, que ocupavam muito do nosso tempo. Com o Sentry-II, não precisamos mais fazer isso”.
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