O caranguejo-ferradura, espécie com mais de 450 milhões de anos, pode ser levado à extinção pela ação da indústria farmacêutica que retira o sangue dos animais, pois ele fornece uma fonte natural de lisado de amebócito limulos (LAL), utilizado para testar vacinas, medicamentos e dispositivos médicos.   

A LAL garante que os produtos estejam livres de endotoxinas. A substância coagula em torno das endotoxinas, sinalizando sua presença e permitindo sua quantificação. A sua importância para a indústria farmacêutica também resulta no seu alto valor de mercado, fazendo o litro valer aproximadamente US$ 15 mil.   

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Grupos de ativistas ambientais buscam uma maneira legal para preservar a existência dos caranguejos da espécie, principalmente nos Estados Unidos, onde a alternativa sintética da LAL ainda não é aceita completamente.   

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A alternativa foi criada em 1990 por biólogos na Universidade de Singapura e é denominada como Fator C recombinante (rFC, na sigla em inglês). Diversos estudos comparativos demonstram que LAL e a rFC possuem a mesma eficácia.   

Mais de 60 países, incluindo membros da União Europeia e a China, já aceitam o rFC. No entanto, a Farmacopeia dos Estados Unidos (USP, na sigla em inglês), organização que estabelece as diretrizes da indústria farmacêutica, relatou que precisa de mais dados antes de considerar o rFC idêntico ao LAL.  

Ilustração do caranguejo-ferradura tendo seu sangue retirado
Indústria farmacêutica coloca espécie de caranguejo em risco de extinção. Imagem: Karazhanova Slava/Shutterstock

Para que as farmacêuticas utilizem o ativo artificial nos EUA é necessário um grande processo burocrático, o que faz muitas desistirem da opção e seguirem utilizando o sangue extraído dos caranguejos-ferradura.   

Diversos ativistas criticam a atitude da USP. “Vamos viver em um mundo onde temos cada vez mais patógenos e a tendência é de mais produtos farmacêuticos que exigem testes de endotoxinas. Em algum momento, isso vai pressionar o fornecimento de um produto não sustentável. Por que você não garantiria sua linha de abastecimento?”, questiona o diretor executivo e cofundador da organização ambiental sem fins lucrativos Revive e Restore, Ryan Phelan.   

Na Baía de Delaware, onde vive a maior população da espécie nos Estados Unidos, o número de caranguejos-ferradura em 1990 era de 1,24 milhões, em 2002 desceu para pouco mais de 334 mil e se estabilizou neste número. Porém, a estabilização ainda preocupa, pois a demanda pelo sangue dos animais pode ter aumentado. 

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