Pássaros usam da “malandragem” para atrapalhar pesquisa australiana

Magpies, primos dos corvos, conseguiram arrancar dispositivos de monitoramento uns dos outros, impedindo pesquisadores de coletarem dados
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 23/02/2022 17h27, atualizada em 24/02/2022 11h20
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Imagem: AlekseyKarpenko/Shutterstock
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Na Austrália, os animais não são apenas projetados para assustar humanos, mas também para nos atrapalhar: segundo informações da Universidade de Sunshine Coast, pássaros estão usando a “malandragem” para impedir que cientistas os monitorem.

Os animais são conhecidos como “Magpies”, membros da família “Corvidae” e uma espécie de “primos” dos corvos. Como muitas outras espécies, eles são considerados bastante inteligentes — alguns conseguem imitar sons variados, desde batidas até a voz e as palavras humanas.

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No caso atual, os pesquisadores perceberam que, durante a captura e a instalação de sensores de monitoramento, os pássaros estavam eludindo a captura de dados. Depois de muito pesquisar, os estudiosos identificaram um comportamento que, além de pura “malandragem”, chega a ser altruísta: os magpies estavam se ajudando a arrancar os dispositivos.

“Esse comportamento demonstra ao mesmo tempo a capacidade de cooperação e um nível moderado de inteligência para a solução de problemas, oferecendo um potencial para evidências de habilidades cognitivas para essas espécies”, disseram os cientistas em um paper, porque sim, mesmo que uma pesquisa venha a falhar, ela ainda consegue render um estudo completo.

“Durante o nosso teste piloto, vimos o quão rápido os magpies uniam forças para resolver um problema que afetasse o grupo. 10 minutos após instalarmos o último rastreador, vimos uma fêmea adulta já sem um dos dispositivos, usando seu bico para ajudar um pássaro mais jovem a tirar o seu”, diz outro trecho. “Dentro de algumas horas, a maior parte dos rastreadores haviam sido removidos. No terceiro dia, mesmo o macho dominante do grupo teve seu dispositivo totalmente desmontado”.

Para os ornitólogos de plantão, talvez a notícia não seja tão impressionante: magpies são pássaros notoriamente curiosos, e usam dessa malandragem para se apoderar de objetos variados. Especialistas recomendam que, na presença de um deles, jóias como anéis, brincos, piercings e outros adereços estejam removidos e escondidos. E não é incomum eles tentarem arrancar botões de camisas ou outras coisas “puxáveis”.

O ponto é: se verem algo que lhes salte aos olhos, eles vão querer pegar.

Mais além, eles tendem a viver em comunidade cooperativa. Normalmente, são entre 10 a 12 indivíduos por grupo — o estudo contava com cinco. Essa cooperação deles também se estende por outras áreas: eles tendem a usar voos “rasantes” quando sentem seus ninhos ameaçados, e pássaros irmãos tendem a ajudar na criação dos bebês — mesmo que não os seus.

“O colete [onde o rastreador era preso] era bem resistente, com apenas um ponto fraco onde o imã prendia o dispositivo. Para remover o colete, você precisa mexer nesse imã, ou então ter em mãos um bom par de tesouras. Estávamos empolgados com esse design, já que ele abria inúmeras possibilidades de eficiência e permitia que muitos dados fossem coletados”, disseram os autores do paper. Eles só se esqueceram de combinar com os pássaros.

A pesquisa completa está disponível no jornal científico Australian Field Ornithology, ligado à Bird Life Australia.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital