No ensino fundamental, aprendemos que as placas tectônicas são protagonistas na ocorrência de terremotos e explosões vulcânicas na Terra. Entretanto, os mecanismos por trás de seus movimentos são bem mais complexos que isso.

Um novo modelo criado por cientistas das universidades de Lisboa (Portugal) e Johannes Gutenberg (Alemanha) explica parte dessa complexidade – especificamente, os movimentos que levam à criação e destruição de cadeias montanhosas e trincheiras submarinas em pontos de encontro entre duas placas – as chamadas “zonas de subducção”.

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Um esquema simples das placas tectônicas da Terra, cujos movimentos complexos são origem a cadeias montanhosas e trincheiras submarinas
Um esquema simples das placas tectônicas da Terra, cujos movimentos complexos são origem a cadeias montanhosas e trincheiras submarinas (Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução)

De forma resumida: o movimento das placas tectônicas é lento. Muito lento. Por ano, elas se movem cerca de 10 centímetros (cm). Essas placas são como peças de um quebra-cabeça, entretanto, essas peças não encaixam exatamente umas nas outras, e um choque entre elas faz com que uma acabe penetrando a outra – essa entrada forçada cria as zonas de subducção, e são essenciais para as dinâmicas da Terra.

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Especialistas em geologia já sabem que esse processo de criação pode, em milhares de anos, estagnar e até mesmo se reverter. Mas eles ainda não sabem como isso pode acontecer. Esse novo modelo ataca justamente esse problema, detalhando pela primeira vez todas as forças envolvidas nesse processo – incluindo a gravidade da Terra – de forma realista.

“Zonas de subducção são uma das principais funções do nosso planeta e as principais forças de movimento das placas tectônicas. Elas também são as regiões onde os terremotos de grande magnitude ocorrem, como é o caso do Anel de Fogo do Pacífico, o maior sistema dessas zonas no mundo”, disse Jaime Almeida, autor primário do estudo e pesquisador do Instituto Dom Luiz. “Por esse motivo, é extremamente importante entender como novas zonas de subducção começam e como esse processo ocorre”.

O estudo se fundamenta em teorias antigas que diziam que novas zonas apareciam a partir de zonas mais antigas, em um processo de renovação cíclico que dura milhares de anos. O problema é que simulações que testassem essa teoria nunca foram criadas – até agora. Dentro do novo modelo, uma série de simulações foram rodadas em um supercomputador na Alemanha, usando um novo código computacional desenvolvido na faculdade, que demonstrou maior eficiência processual que exemplos anteriores. Graças a ele, as simulações foram rodadas em uma semana quando poderiam levar meses inteiros.

Esse novo modelo abre espaço para uma série de novos pontos de vista e possibilidades de estudos para regiões específicas do nosso planeta. “Agora, estamos aplicando esse modelo em casos mais específicos, como zonas de subducção que estão começando a se formar no Oceano Atlântico, Caribe, Antártida e outras áreas. O terremoto de 1755 em Lisboa pode ter sido o mensageiro de um início de subducção na nossa península, e existem muitos dados geológicos que corroboram isso”, disse João Duarte, co-autor do estudo e pesquisador no Dom Luiz.

A pesquisa completa foi publicada no jornal científico Communications Earth & Environment.

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