Como a jibóia não sufoca com o próprio aperto? Segredo está nas costelas

Estudo mostra que cobras constritoras - que sufocam suas vítimas - conseguem mover costelas para não se ferirem com o próprio golpe
Por Rafael Arbulu, editado por Rafael Rigues 26/03/2022 13h32, atualizada em 28/03/2022 09h43
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Imagem: Jan Hejda/Shutterstock
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Cobras constritoras como a jibóia, ao contrário de outras serpentes, preferem se enrolar e apertar suas vítimas, sufocando-as até a morte, amaciando os órgãos internos e quebrando ossos para facilitar sua alimentação – esse tipo de réptil consegue engolir inteiros animais que vão de ratos a porcos.

É uma abordagem direta assim como as serpentes venenosas, mas uma dúvida sempre intrigou especialistas: afinal, se nós nos contrairmos demais o tronco, eventualmente vamos “perder o ar”. Então como a jibóia e outras cobras constritoras não sufocam com seu próprio “abraço”?

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O "abraço" de uma jibóia é suficiente para matar animais e fazê-la engoli-los inteiros, mas em tese, esse aperto deveria também sufocá-la
O “abraço” de uma jibóia é suficiente para matar animais e fazê-la engoli-los inteiros, mas em tese, esse aperto deveria também sufocá-la (Imagem: New Africa/Shutterstock)

Em um novo estudo publicado no Journal of Experimental Biology, biólogos descobriram que a capacidade destas cobras de sufocar sem se sufocar vem dos movimentos de suas costelas.

“A evolução da constrição e ingestão de presas grandes pelas serpentes são inovações essenciais que podem explicar a incrível diversidade, distribuição e escopo ecológico deste grupo relacionado aos vertebrados alongados”, diz trecho do estudo. “Entretanto, esses comportamentos podem ter, simultaneamente, impedido a ventilação pulmonar de tal forma que as primeiras serpentes podem ter precisado contornar essas restrições mecânicas antes que esses comportamentos pudessem evoluir”.

A fim de descobrir essa resposta, o time de pesquisadores seguiu um método igualmente simples e engenhoso: eles amarraram medidores de pressão – aqueles que você vê em qualquer consultório clínico – em partes dos corpos de oito jibóias em laboratório. Especificamente, um medidor nas áreas medianas de cada cobra, às vezes mais para cima, às vezes mais para baixo.

Ao bombear o medidor de pressão, o que os cientistas observaram foi que as serpentes conseguem alternar o uso de suas costelas na busca por ar para seus pulmões, evitando o ponto onde a pressão lhes apertava mais e, assim, mantendo seus canais aéreos em funcionamento normal.

De forma prática: se um medidor de pressão apertasse a jibóia perto da cabeça, ela passaria a abrir mais as costelas inferiores para que o pulmão tivesse uma “folga” e conseguisse puxar o ar. O medidor apertando-a embaixo, próximo à cauda, trazia a mesma reação, só que nas costelas mais altas.

Segundo os especialistas, é isso que faz com que as jibóias consigam não apenas manter a constrição de uma presa por muito tempo, mas também aumentar a intensidade do “abraço” de forma gradual. Obviamente, se uma vítima suportar mais tempo do que o esperado, a serpente vai cansar e, provavelmente, soltar a amarra.

Mas sem esse recurso de seus corpos, dizem os pesquisadores, as cobras constritoras não poderiam ter evoluído essa ferramenta de caça e luta.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Redator(a)

Rafael Rigues é redator(a) no Olhar Digital