Por mais que um deserto aparente ser um ambiente com muita areia e pouca vida, um estudo conduzido pela Universidade de Cornell mostra justamente o contrário: desertos e áreas com grandes extensões arenosas “respiram” vapor d’água, absorvendo a umidade do ar e permitindo que a vida microbiótica siga firme mesmo em ambientes extremamente secos.

A pesquisa fez uso de um novo método de análise, contemplando sensores chamados “sondas de capacitância”. Durante décadas, essas sondas mediram as resoluções espaciais de vários fatores, incluindo conteúdo de água disponível em uma área, concentração de dispositivos sólidos e até velocidade de dispersão de moléculas.

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Usando sensores inteligentes, cientistas conseguiram comprovar que desertos "respiram", o que impacta positivamente a continuidade da vida de micróbios em terrenos áridos
Usando sensores inteligentes, cientistas conseguiram comprovar que desertos “respiram”, o que impacta positivamente a continuidade da vida de microorganismos em terrenos áridos. Imagem: Rebecca Bowyer/Cornell University/Divulgação

De posse de dados tão consistentes, os especialistas liderados pelo professor de Engenharia Mecânica e Aeroespacial de Cornell, Michael Lounge, conseguiram determinar fatores que levam terras de uso agrícola (ou seja, férteis) a virarem desertos – algo de extremo interesse para entidades que combatem o aquecimento global.

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A conclusão é a de que a areia de dunas e desertos é extremamente porosa, permitindo que uma pequena quantidade de ar passe por entre os seus grãos. Em outras palavras, os desertos “respiram”, por meio dessa passagem de ar. “Os ventos fluem sobre as dunas. Como resultado, isso gera um desequilíbrio na pressão local, o qual literalmente força o ar para dentro da areia. Então a areia ‘respira’, da mesma forma que um organismo vivo”, disse Lounge.

Por essa razão, micróbios conseguem seguir vivos mesmo diante das altas temperaturas diurnas do deserto. A ideia já havia sido concebida em vários estudos anteriores, mas somente o paper atual foi capaz de prová-la.

O “grosso” desses dados foi capturado em 2011, ano em que as sondas mencionadas foram instaladas. Mas os cientistas demoraram mais uma década para interpretar algumas das informações coletadas, como por exemplo a natureza de algumas perturbações ocorridas na superfície que forçavam a dissipação de ondas não lineares de umidade para dentro das dunas.

Segundo Lounge esses sensores poderão ser aplicados em diversos tipos de estudo, desde a drenagem ou o abastecimento excessivo de água em uma região, até a exploração de ambientes extraterrestres que possam armazenar pequenas quantidades de água. Lounge, contudo, antecipa que a maior importância disso virá na avaliação de contaminação da umidade na fabricação de remédios – algo que o próprio cientista vem fazendo em colaboração com a Merck, desde 2018.

A pesquisa contou com o suporte financeiro da Qatar Foundation e o paper com as conclusões foi publicado no Journal of Geophysical Research-Earth Surface.

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