Uma nova pesquisa indica que oceanos escondidos em planetas extraterrestres podem receber nutrientes de um tipo de “gelo exótico”, ampliando o potencial para que esses planetas tenham características de geração de vida.

O tal “gelo exótico” é conhecido como “Gelo VII” (já falamos sobre as inúmeras variações de gelo, e suas diferenças, aqui no Olhar Digital). Nós conseguimos reproduzi-lo em laboratório por meio de experimentos que manipulam a pressão incidida no gelo comum, efetivamente reagrupando o oxigênio e o hidrogênio dentro dele.

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Exoplanetas com alta concentração de "gelo exótico" podem criar ambientes que promovam a chegada da vida, ou ao menos, assegurem a sua habitabilidade
Exoplanetas com alta concentração de “gelo exótico” podem criar ambientes que promovam a chegada da vida, ou ao menos, assegurem a sua habitabilidade (Imagem: oorka/iStock)

Basicamente, exoplanetas com água são incrivelmente comuns no espaço – vários planetas do sistema TRAPPIST-1, por exemplo, a tem em abundância. A diferença é que a pressão exercida nesses planetas tende a ser muitas e muitas vezes mais variada que a da Terra, para menos e para mais. Nestes planetas de mais pressão, a água é comprimida e compactada com tanta força que acaba levando à geração de formas sólidas diferenciadas – como o “gelo VII”.

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De acordo com os cientistas do European Synchrotron Radiation Facility, na França, uma dúvida permanecia: materiais como o sal são normalmente repelidos pela água quando ela congela, então como sais minerais e outros nutrientes estavam deixando os núcleos desses planetas, atravessando o manto feito de gelo VII e chegando aos oceanos? Mais ainda, como esses sais estavam fazendo o caminho de volta?

“O transporte do sal não seria feita apenas de baixo para cima, mas também de cima para baixo”, disse Jean-Alexis Hernandez, cientista que liderou a pesquisa. “O gelo quente no fundo do manto se torna gravitacionalmente instável porque, sendo ele mais quente, também é menos denso que o gelo em volta, o que o faz subir. Um fluxo global se desenvolve e é mantido pela diferença de temperatura entre o topo e o fundo do manto”.

Hernandez explica que, na prática, é esse fluxo temperado que cria um efeito bioquímico que, embora não garanta a existência de vida nesses planetas, aumentam as chances de que eles sejam habitáveis.

De acordo com Baptiste Journeaux, cientista planetário que não se envolveu na pesquisa, mas foi um de seus revisores, as conclusões do estudo ampliam a quantidade de candidatos a “Super Terra” (nome atribuído a planetas mais massivos que a Terra, mas menores que gigantes gasosos – alguns, com bom potencial de habitabilidade) ao contemplar também os planetas com mantos de gelo em alta pressão.

Até mesmo no nosso sistema solar, o estudo pode trazer um melhor entendimento de objetos que temos vizinhos a nós: luas gigantescas, como Ganimedes e Calisto (Júpiter) ou ainda Titã (Saturno) são massivas o suficiente para gerar o “gelo VI”. Este outro tipo de gelo exótico é totalmente insolúvel, mas cientistas do passado encontraram evidências de que ele é capaz de carregar sal hidratado a superfícies dentro de condições bem específicas.

De qualquer forma, as conclusões da pesquisa poderão ser colocadas a teste logo: em 2023, a agência espacial europeia (ESA) lançará a missão JUICE (ou “Jupiter Icy Moons Explorer”) em direção as chamadas “luas galileanas” – as quatro maiores das quase 80 luas de Júpiter.

No ano seguinte, a ESA também lançará outra missão – a sonda Europa Clipper – destinada a visitar Ganimedes, Calisto e também Europa, a lua mais congelada do gigante gasoso. Finalmente, em 2027, a agência espacial americana (NASA) lançará a missão Dragonfly, que levará um mini helicóptero até Titã.

A pesquisa completa já está disponível, publicada no Nature Communications.

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