Pesquisadores da Universidade de Manchester, na Inglaterra, começaram as escavações de uma tumba que, acreditam eles, é ligada ao lendário Rei Arthur, monarca que supostamente defendeu a Grã-Bretanha da invasão saxônica no final do século V e início do século VI.

A pesquisa está em condução graças a uma parceria entre a universidade e a entidade chamada English Heritage, que cuida da manutenção da tumba, conhecida como “Pedra de Arthur”, em Herefordshire. O time está retirando vegetações próximas a fim de expor o terreno que resguarda restos arqueológicos particularmente delicados.

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O monumento conhecido como "Arthur's Stone", na Inglaterra, é uma tumba neolítica que, segundo as lendas teria sido o lugar onde o folclórico Rei Arthur teria matado um gigante
O monumento conhecido como “Arthur’s Stone“, na Inglaterra, é uma tumba neolítica que, segundo as lendas teria sido o lugar onde o folclórico Rei Arthur teria matado um gigante (Imagem: University of Manchester/Reprodução)

A tumba conhecida como “Pedra de Arthur” é um conjunto de pedras neolíticas datadas de algum período entre 3700 a.C (antes de Cristo) e 2700 a.C. A pedra mais alta, na horizontal e servindo de “teto”, pesa em torno de 25 toneladas, sustentada por nove pedras menores e verticais, com um arco e uma passagem de 4,6 metros (m) que serve de entrada.

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Um dos nomes para esse tipo de câmara fúnebre é dolmen. Neste caso, existem diversas outras tumbas que levam o mesmo nome, espalhadas por várias localidades da Inglaterra. Os pesquisadores acreditam que, em todas elas, há restos esqueletais incompletos de pessoas ali enterradas, além de trabalhos em cerâmica e pontas de flecha antigas.

De acordo com as lendas, foi nesta tumba que o Rei Arthur teria matado um gigante que, conforme caía morto, deixou uma impressão de seus cotovelos em uma das pedras.

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“A Pedra de Arthur é um dos mais significativos monumentos da Idade da Pedra no nosso país, e essa escavação nos dá uma chance rara e empolgante para que membros do público venham e vejam a arqueologia em plena ação”, disse Ginny Slade, gerente voluntária a serviço da English Heritage. “Nosso maravilhoso time de voluntários estarão disponíveis para explicar as descobertas conforme elas acontecem — estamos pedindo às pessoas que façam agendamentos adiantados a fim de acomodar todos os que desejam aproveitar essa grande oportunidade”.

A equipe de escavação é majoritariamente voluntária, e está descampando uma região a fim de assegurar a extração segura de artefatos mais delicados
A equipe de escavação é majoritariamente voluntária, e está descampando uma região a fim de assegurar a extração segura de artefatos mais delicados (Imagem: University of Manchester/Reprodução)

Falando em termos factuais, a existência do Rei Arthur nunca foi comprovada, e historiadores têm um consenso de que a maior parte das histórias que giram em torno do nome são objetos de folclore. A única fonte bibliográfica factual que existe hoje – um conto do monge celta Gildas sobre a Batalha de Mons Badonicus – fala da invasão saxônica no início do século VI, mas não cita nenhum regente britânico de destaque – seja ele Arthur ou qualquer outro.

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Foi apenas vários séculos depois, já dentro da era contemporânea (ou “d.C” – “depois de Cristo”) que a primeira menção ao Rei Arthur veio a público: um historiador galês chamado Nennius listou 12 batalhas que o herói supostamente travou. Entretanto, os episódios narrados são tão espalhados em tantas épocas diferentes que seria humanamente impossível que o mesmo homem tivesse tomado parte em todos eles.

Não que isso impedisse o folclore de florescer até o que conhecemos hoje: um grandioso rei que salvou a Inglaterra da invasão de “bárbaros” junto de seus comandados – os “Cavaleiros da Távola Redonda” – antes de travar uma luta mortal contra seu sobrinho Mordred, que ambicionava ter o reino de Camelot para si. Ambos viriam a sucumbir aos ferimentos do embate.

Talvez ironicamente, outro herói bastante conhecido da cultura pop – o rei viking Ragnar Lothbrok – também nunca teve sua existência comprovada na vida real: devido à ausência de registros pertinentes aos guerreiros nórdicos de outrora, historiadores não sabem informar se “Ragnar” foi um homem ou se vários regentes foram posteriormente unidos em contos dentro de um mesmo personagem, como escape literário de contos e filmes.

Ao contrário da tumba e do Rei Arthur, porém, é fato que uma pessoa de grande importância para os vikings morreu no poço de cobras do Rei Ela (por vezes, “Ælla”) de Nortúmbria – ele próprio, uma figura histórica factualmente reconhecida que morreu nas mãos de Ivar, O Desossado – suposto filho de Ragnar e também comprovado como uma pessoa real (possivelmente, “Ivar” era a versão literária de Ímar, um dos líderes do Exército Pagão).

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