Fóssil de parasita com três olhos encontrado no Canadá tem 500 milhões de anos

Objeto é parte de vários outros fósseis do Período Cambriano e tem garras saindo da boca e corpo alongado, parecido com uma escova de dentes
Por Rafael Arbulu, editado por Lucas Soares 11/07/2022 12h42, atualizada em 11/07/2022 14h12
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Imagem: Jean-Bernard Caron/Royal Ontario Museum/Divulgação
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Paleontólogos do Museu Real de Ontário, no Canadá, detalharam em um novo paper a descoberta de um parasita do Período Cambriano, há cerca de 500 milhões de anos, em meio a um “tesouro” de outros fósseis da mesma época.

O fóssil que levou à descoberta do parasita eventualmente o fez ser nomeado Stanleycaris hirpex e, segundo as representações criadas a partir das informações, ele é bem parecido com qualquer antagonista de algum filme de suspense baseado em ficção científica.

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O fóssil do parasita cambreano Stanleycaris hirpex, um precursos dos insetos artrópodes modernos: material encontrado no Canadá traz detalhes da evolução cerebral dos insetos predadores de hoje
O fóssil do parasita cambreano Stanleycaris hirpex, um precursos dos insetos artrópodes modernos: material encontrado no Canadá traz detalhes da evolução cerebral dos insetos predadores de hoje (Imagem: Jean-Bernard Caron/Royal Ontario Museum/Divulgação)

Basicamente, o S. hirpex contava com três garras projetadas de sua boca, além de três olhos e um corpo alongado cheio de patas – o que o faz, segundo os especialistas, ser muito parecido com uma escova de dentes.

A descoberta veio da região da Colúmbia Britânica, no extremo oeste canadense, especificamente, na formação rochosa conhecida como Burgess Shale, amplamente conhecida no ramo da Paleontologia como uma área de alta riqueza de fósseis extremamente bem preservados.

Tal é o caso do fóssil do nosso amigo parasita, cuja presença nas amostras retiradas contabilizou “dúzias” de espécimes, alguns até mesmo com o cérebro preservado: “eles estão incrivelmente conservados e mostram detalhes bastante refinados”, disse Joseph Moysiuk, autor primário do estudo e estudante de doutorado em Ecologia e Biologia Evolucionária pela Universidade de Toronto.

“Antes disso, havia apenas alguns cérebros fossilizados do Período Cambriano, mas mesmo isso é algo ainda muito raro, e observado apenas nos últimos 10 anos, mais ou menos”, disse o especialista. “A maior parte das espécies que encontramos com cérebros fossilizados contabilizam um ou dois indivíduos”.

Representação artística do S. hirpex mostra que o predator do Período Cambriano tinha pouco mais que 20 centímetros, mas "varria" o chão do oceano em busca de comida
Representação artística do S. hirpex mostra que o predator do Período Cambriano tinha pouco mais que 20 centímetros, mas “varria” o chão do oceano em busca de comida (Imagem: Royal Ontario Museum/Divulgação)

Segundo Moysiuk, apesar de pequeno (cerca de 20 centímetros), o S. hirpex aparentava ser um predador feroz: “ele tinha esse aparato de garras espinhosas e boca arredondada que o faziam aparentar ser bem agressivo. Ele também contava com espinhos longos, parecidos com ancinhos, que varriam o chão do oceano por organismos soterrados, protusões laterais que o ajudavam a ‘flutuar’ pela água e partes suplementares em forma de tridentes que se projetavam uma em direção à outra que, acreditamos, terem sido usadas como mandíbulas para esmagar suas presas”.

Falando em termos de parentesco, o S. hirpex é um primo distante da maioria dos insetos artrópodes modernos, mas com um cérebro menos desenvolvido: ele conta com um “protocérebro” conectado aos olhos; e um “deutocérebro” ligado às garras frontais. Seus parentes mais contemporâneos contam com essas duas partes, mas também têm um “tritocérebro”, que corresponde ao labrum, um lábio superior.

A descoberta tem um grande significado para o entendimento da evolução dos artrópodes: existe uma parte da árvore genealógica desses animais – a Radiodonta – que foi há muito extinta. O S. hirpex pertence à ela, e os espécimes tão completos do fóssil parasita nos dá um entendimento sem precedentes de como o sistema nervoso se desenvolveu nesses animais – sobretudo a questão do “terceiro olho”, que Moysiuk disse ser uma surpresa, considerando que a comunidade científica, que achava ter um bom entendimento dos Radiodonta, não esperava por isso.

O material rendeu um novo estudo, publicado no jornal científico Current Biology.

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Jornalista formado pela Universidade Paulista, Rafael é especializado em tecnologia, cultura pop, além de cobrir a editoria de Ciências e Espaço no Olhar Digital. Em experiências passadas, começou como repórter e editor de games em diversas publicações do meio, e também já cobriu agenda de cidades, cotidiano e esportes.

Lucas Soares
Editor(a)

Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.