O modelo mais aceito sobre a formação da Terra fala em um movimento intenso de acreção que trouxe e manteve um amontoado de diversos asteroides e partículas cósmicas que, eventualmente, formou esse lugar que chamamos de “casa” no espaço.

Entretanto, uma nova teoria posiciona uma ideia interessante, ao se basear inteiramente nas perguntas que o modelo mais tradicional falha em responder: segundo o novo estudo, a Terra se formou por meio da acreção de planetesimais – não asteroides – o que traz uma premissa um pouco diferente sobre a nossa “bolinha azul”.

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A formação da Terra ainda nos é bastante desconhecida, por mais que diversos modelos sobre sua origem já tenham sido calculados
A formação da Terra ainda nos é bastante desconhecida, por mais que diversos modelos sobre sua origem já tenham sido calculados (Imagem: Nazarii_Neshcherenskyi/Shutterstock)

“Acreção”, de uma forma simples de se explicar, é o que acontece quando uma estrela forma um aglomerado denso de matéria em uma nuvem molecular de partículas e gás no espaço, de forma que o material ao seu redor começa a orbitá-la, formando um disco.

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Esse disco não gira sozinho, e não só ao redor da estrela, mas também pedaços menores dentro dele vão se juntando e adquirindo rotações por conta própria. As partículas pequenas colidem e se unem, eventualmente crescendo em objetos maiores e maiores até virarem um planeta.

A ideia mais vigente é que esse modelo se aplica à Terra, que teoricamente se formou por meio da acreção de condritos, rochas espaciais relativamente pequenas que se formaram no início do sistema solar e que são majoritariamente compostas de alguns metais e minerais.

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“O problema com esta teoria é que não há mistura desses condritos que explique a exata composição da Terra, que é bem mais pobre em elementos leves e voláteis como hidrogênio e hélio, em relação ao que o modelo sugere”, disse o planetólogo Paolo Sossi, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça.

Alguns cientistas favoráveis ao modelo tradicional tentam explicar essa ausência pelo calor: o movimento de acreção é altamente energético, e tudo que tem muita energia tende a ser bem quente. Então o calor teria vaporizado os elementos mais leves. Só que isso também não bate – o mesmo calor teria eliminado isótopos desses elementos, mas eles ainda estão presentes na Terra, em relativamente grande escala.

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A ideia de Sossi e seu time é a de que, sim, foi a partir da acreção que a Terra se formou. A pergunta é: “acreção de quê”?

O time teoriza que não foram os condritos, mas sim os planetesimais – corpos que precedem os planetas, mas que são maiores e mais variados que os asteroides comuns – que se juntaram e nos deram a nossa origem.

“Modelos dinâmicos pelos quais simulamos a formação de planetas mostram que os planetas em nosso sistema solar se formaram progressivamente. Pequenos grãos que cresceram com o tempo em planetesimais quilométricos em tamanho, acumulando mais e mais material pela sua força gravitacional”, disse Sossi. “Mais além, planetesimais que se formaram em diferentes áreas ao redor de um Sol mais jovem ou em diferentes épocas podem trazer composições químicas bastante diferenciadas”.

Valendo-se de um cenário hipotético conhecido como “Grande Aderência” (no qual um Júpiter ainda bebê teria se movido para perto do Sol e depois voltou à posição original), os cientistas estipularam que esse movimento traria imensas perturbações ao disco ao redor da nossa estrela – efetivamente arrastando parte desses planetesimais para as órbitas que hoje conhecemos como trajetórias dos planetas.

Neste cenário, os planetas mais “de dentro” do sistema – Mercúrio, Vênus, Terra e Marte – seriam produzidos, com a Terra sendo o resultado mais esperado e óbvio dentro de diversas variáveis de cálculo.

“Ainda que nós suspeitássemos desse resultado, ficamos surpresos com o resultado. Nós não apenas postulamos um mecanismo de formação da Terra melhor que o atual, mas também temos uma referência que explique a formação de exoplanetas rochosos em outras partes do espaço”, disse Sossi. “O nosso estudo mostra o quão importante é considerar a dinâmica e a química quando tentamos entender a formação planetária. Espero que nossas conclusões levem a uma colaboração maior entre pesquisadores de ambos os campos”, ele finalizou.

O estudo completo está disponível para consulta na revista científica Nature Astronomy.

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