Um estudo liderado pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que também contou com a participação da Academia Chinesa de Ciências, indica que o Meteorito de Chelyabinsk, que atingiu a Rússia em 2013, pode também estar envolvido na criação da Lua, o satélite natural da Terra. A descoberta veio graças a um novo método de estabelecimento de datas correspondentes a choques de rochas espaciais, baseado na análise microscópica de minerais desses objetos.

“As datas de impactos de meteoritos são normalmente controversas”, disse Craig Walton, geocientista da instituição. “O nosso trabalho mostra que precisamos avaliar múltiplas vias de evidência para sermos mais precisos sobre a história de alguns choques — quase como se estivéssemos investigando uma antiga cena de um crime”.

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A formação planetária é uma quase que inteiramente baseada em repetidas colisões: grandes massas se chocam, expelindo destroços rochosos que virão a formar outros objetos — planetas, asteroides etc. — em um processo que vem acontecendo desde o início do universo, há pouco mais de 13 bilhões de anos. Por essa razão, estabelecer a “idade” de um impacto ou mesmo do próprio meteoro nos ajuda a conhecer um pouco mais sobre os tempos anteriores a nós.

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O problema é que processos geológicos naturais pelos quais a Terra e outros planetas passaram normalmente apagam esse histórico, tornando essa análise cada vez mais complicada e dependente de “corpos soltos” — ou seja, asteroides que navegam o espaço de forma livre até serem capturados pelo nosso campo gravitacional. Essa atração pode esfacelar um asteroide, fazendo com que pedaços dele caiam na superfície.

Em suma: uma pedra vinda do espaço cai em forma praticamente “pura”, dando aos cientistas uma amostra do passado do universo.

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Um método usado para se estabelecer a idade de um meteorito (e, consequentemente, de seu impacto) é pela análise de chumbo e urânio em cristais de zircônio. Esses cristais absorvem urânio com facilidade, mas rejeitam totalmente o chumbo. Por isso, qualquer chumbo presente nesses cristais só pode ser produto da decomposição de urânio. Essa decomposição já nos é conhecida e sabemos quanto tempo ela leva para acontecer — então é possível fazer um cálculo aproximado de tempo do meteorito em si.

Com base nisso, o time de pesquisadores concluiu que o Meteorito de Chelyabinsk passou por dois eventos de impacto antes de chegar na Terra — um há 4,5 bilhões de anos e outro há mais ou menos 50 milhões de anos. Então Walton e seus colegas buscaram confirmar essas impressões ao estudarem a forma como minerais de fosfato se despedaçaram ao longo de repetidos choques, analisando especificamente como o aumento de temperatura vindo de um impacto influenciou a estrutura dos cristais.

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Conclusão: o primeiro impacto foi mais expressivo, partindo os cristais e sujeitando-os a um aumento massivo de temperatura. O segundo foi mais leve, com menor pressão e calor. Também é provável que o primeiro impacto tenha partido o meteorito de seu corpo primário, colocando-o em rota direta de colisão com a Terra.

Isso é um ponto importante, pois está em sincronia com dois eventos majoritários da formação do universo: a migração de planetas gigantes, e a colisão antiga que, segundo alguns cientistas acreditam, atingiu a Terra com tanta força que quebrou um pedaço dela e formou o que hoje nós chamamos de “Lua”.

Os dois eventos são relacionados, aliás: diversas teorias indicam que planetas gigantes do nosso sistema solar – como Júpiter, Saturno, Urano e Netuno – se formaram a uma distância maior do que a posição onde estão hoje, se aproximando aos poucos ao longo das eras.

Esse movimento teria causado imensa flutuação gravitacional, o que faria com que corpos menores — asteroides primordiais, por exemplo — se chocassem com mais frequência e intensidade, o que geraria mais destroços e, consequentemente, mais meteoros.

Uma teoria indica que um corpo do tamanho de Marte bateu na Terra há 4,5 bilhões de anos (em média), ejetando um pedaço tão grande de nosso planeta que deu origem à Lua. Os especialistas têm até um nome para esse suposto objeto: “Theia”.

animação mostra como pode ter sido o choque que acabou formando a Lua
Exibição básica de como pode ter sido o impacto na Terra que pode ter dado origem à Lua: o ponto preto represente “Theia”, o corpo vindo do Quarto Ponto de Lagrange que se chocou contra a Terra (azul) e se despedaçou a ponto de ejetar uma grande massa que tornou-se o nosso satélite (vermelho) (Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução)

O próximo passo da pesquisa será revisar o material que determina o período de formação da Lua e, com sorte, determinar algum tipo de relação entre o Meteorito de Chelyabinsk e o nosso satélite natural.

O paper com as conclusões atuais foi publicado no jornal científico Communications Earth & Environment.

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