Um grupo de cientistas descobriu o fóssil de um inseto que “vestia” seus ovos nas pernas, no que deve ser o exemplo mais antigo (até agora) de um comportamento conhecido como “proteção de ninhada” – quando um pai ou mãe protege sua prole carregando-a consigo a todo tempo.

O material em questão foi encontrado em Haifanggou, no nordeste da China. A região consiste de várias formações rochosas ricas em fósseis bem preservados. A área é bastante conhecida por paleontólogos, e nela já descobrimos diversas curiosidades da pré-história, como fósseis de dinossauros com penas, pulgas gigantes e até alguns mamíferos antigos.

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Fóssil do período Jurássico mostra que inseto "vestia" seus ovos nas pernas, no intuito de protegê-los
Fóssil do período Jurássico mostra que inseto “vestia” seus ovos nas pernas, no intuito de protegê-los (Imagem: Diying Huang et al./Divulgação)

O inseto – da espécie Karataviella popovi – era natural de ambientes aquáticos e era dotado de três pernas em cada lado, que pareciam bastante com remos de barco. Ao todo, foram 160 fósseis da espécie recolhidos, que os especialistas estimam terem cerca de 163 milhões de anos – dentro do Período Jurássico (pouco mais de 200 milhões de anos atrás).

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Destes, apenas a fêmea do inseto que “vestia” seus ovos. Especificamente, pequenos agrupamentos e cicatrizes de conexão de tecidos vistas na “meso tíbia” – a segunda de três pernas – foram encontrados. Estes são indícios de que os ovos eram agrupados de forma bem compacta, com cinco ou seis fileiras de seis a oito ovos por fileira, cada ovo medindo em torno de 1 a 2 milímetros (mm). O tamanho foi considerado “grandinho”, tendo em vista que insetos adultos do K. popovi não passavam de 13 mm.

Segundo a hipótese dos autores do estudo, a fêmea do inseto “vestia” os ovos nas pernas por meio de uma substância viscosa e pegajosa que elas secretavam antes de dar a luz. Depois que a substância envolvia suas pernas, a mãe executava algumas “torções abdominais” para garantir que os ovos saíssem de seu ventre diretamente para suas pernas.

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Além disso, é possível que a ação tivesse uma outra função: ovos grandes tendem a ter uma dificuldade maior em usar oxigênio, o que pode colocar os bebês em risco. Como o inseto “vestia” seus ovos nas pernas, é provável que o movimento de balanço de quando eles estivessem pendurados os ajudasse a otimizar o fluxo do ar, contribuindo para o desenvolvimento das crias.

“Até onde sabemos, carregar um grupo de ovos em uma perna é uma estratégia única dos insetos, mas não é incomum a artrópodes aquáticos”, diz trecho do estudo. “Nosso material mostra que o comportamento de proteção de ninhada tem quase 38 milhões de anos [de antes do que se pensava]. Isso é útil para entender a evolução adaptativa de ninhadas de insetos”.

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O estudo completo foi publicado no jornal científico Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences.

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