De forma totalmente inesperada, nós descobrimos um campo hidrotermal que, não apenas é fora das regiões onde eles normalmente existem, como também pode ser o maior e mais quente da porção oriental do Oceano Pacífico.

Campos hidrotermais são grandes porções de terreno marcadas por fontes que ejetam material superaquecido da crosta terrestre – algumas vezes, chegando a 400º C – e, apesar de serem inóspitos à maioria dos seres vivos, eles servem de casa para comunidades bacterianas “extremófilas”, ou seja, que vivem especificamente em ambientes extremos.

publicidade

Leia também

Fonte do campo hidrotermal descoberto a leste do Oceano Pacífico: ecossistema extremo traz temperaturas médias de 400ºC
Fonte do campo hidrotermal descoberto a leste do Oceano Pacífico: ecossistema extremo traz temperaturas médias de 400ºC (Imagem: WHOI/NDSF/ROV Jason/NSF/Reprodução)

A descoberta foi feita quase que por acidente por um time de cientistas da ONG Woods Hole Oceanographic Institution, que pilotava um veículo remotamente operado por uma profundidade oceânica à qual nós não sobrevivemos. Nessa área, foram encontradas as “torres” que servem de fontes hidrotermais – algumas de vários andares de altura.

publicidade

Inicialmente, pensaram que as fontes estavam inativas, mas ao se aproximarem, viram que era justamente o contrário: “ficamos impressionados não só com o fato do campo hidrotermal estar bem ativo, mas também por ele ser maior em área e mais quente em temperatura inicial que qualquer outro sistema do tipo que conhecemos nesta parte do oceano nos últimos 30 anos”, disse Daniel Fornari, geólogo marinho a serviço da ONG.

Algumas das torres encontradas tinham vários andares de altura, e estavam amplamente manchadas pela presença de ferro e outros elementos
Algumas das torres encontradas tinham vários andares de altura, e estavam amplamente manchadas pela presença de ferro e outros elementos (Imagem: WHOI/NDSF/ROV Jason/NSF/Reprodução)

Um campo hidrotermal é a melhor testemunha da famosa frase cunhada pelo personagem Ian Malcolm (Jeff Goldblum), de Jurassic Park: “a vida encontra um jeito”. Isso porque, normalmente, os seres vivos da Terra dependem de um sistema alimentar referido como “fotosintético”, ou seja, dependente – direta ou indiretamente – da luz do Sol.

publicidade

Nas profundezas do oceano, porém, a luz do Sol não chega, então tudo o que vive lá embaixo consegue progredir em outro sistema, chamado “quimiossíntese”. Essencialmente, produzir reações químicas corpóreas por meio da absorção energética de fontes que não a nossa estrela.

E a comparação com objetos do espaço não para por aí, tendo em vista que reações quimiossintéticas podem muito bem ser um mecanismo que justifique a presença de vida em luas congeladas como Encélado e Europa, em Júpiter, caso a humanidade venha a encontrá-las.

publicidade
As fontes hidrotermais - às vezes, chamadas de "fumarolas" - são potencialmente análogas a ambientes extremos encontrados em outros objetos no espaço
As fontes hidrotermais – às vezes, chamadas de “fumarolas” – são potencialmente análogas a ambientes extremos encontrados em outros objetos no espaço (Imagem: WHOI/NDSF/ROV Jason/NSF/Reprodução)

O time estava trabalhando no mapeamento a leste e a oeste das elevações montanhosas do Pacífico. Normalmente, um campo hidrotermal projeta suas fontes em áreas mais próximas da alta atividade vulcânica. Mas dificilmente a uma distância de 750 metros (m) a leste do eixo montanhoso e 5 a 7 km afastado das fontes hidrotermais mais próximas.

Na prática, o novo campo cobre mais ou menos o tamanho de um campo de futebol americano, com temperaturas variando entre 368º C e 437º C. Devido à sua proximidade de uma falha geológica, os cientistas especulam que o campo hidrotermal seja influenciado por atividades tectônicas – as mesmas que precedem terremotos.

A expectativa é que a continuidade da exploração do fundo oceânico revele a presença de outras fontes em locais até então desconhecidos, ampliando a nossa área de pesquisa desses ambientes tão extremos e tão isolados.

Um paper sobre a descoberta foi aceito para publicação no Proceedings of the National Academy of Sciences, mas o link ainda não foi ativado até o fechamento desta nota.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!