Uma lacuna que perdurava na astronomia há décadas pode ter sido preenchida pela Universidade de Cambridge, cujos pesquisadores afirmam em pesquisa ter criado um novo método de observação que permite detectar e enxergar a luz das primeiras estrelas do universo.

Observar corpos que vieram logo após o Big Bang é um objetivo almejado por toda a astronomia desde que os trabalhos do setor começaram, uma vez que isso pode explicar como vieram as coisas que conhecemos entre a explosão que deu origem a tudo e a evolução dos objetos celestiais em relação ao que vemos hoje.

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A "primeira luz do universo" é o elo perdido entre o Big Bang e os corpos celestes que conhecemos hoje: um estudo da Universidade de Cambridge promete ter criado método que finalmente nos permitirá observá-la
A “primeira luz do universo” é o elo perdido entre o Big Bang e os corpos celestes que conhecemos hoje: um estudo da Universidade de Cambridge promete ter criado método que finalmente nos permitirá observá-la (Imagem: Vadim Sadovski/Shutterstock)

Segundo vários estudos, cerca de 375 mil anos após o Big Bang, havia densas nuvens de hidrogênio que, milhões de anos mais tarde, dariam origem às primeiras estrelas – as quais chamamos de “Estrelas de População III”, e elas eram extremamente massivas, luminosas e praticamente não tinham metais em suas composições químicas.

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Infelizmente, dentro da tecnologia atual, é praticamente impossível observarmos sinais advindos dessas estrelas, tendo em vista que as nuvens de hidrogênio atuais são bem espessas e barram a maior parte da nossa capacidade de visão. Mas o time de Cambridge pode ter desenvolvido um contorno para esse problema.

O método é parte do experimento conhecido como “REACH” (sigla para “Radio Experiment for the Analysis of Cosmic Hydrogen”) e, de uma forma bem resumida, sugere que astrônomos procurem por sinais de rádio cerca de 100 mil vezes mais fracos que os sinais comuns, analisando como eles interagem com as nuvens de hidrogênio – imagine que você está procurando por silhuetas de pessoas através de uma forte neblina e você vai entender a ideia.

Segundo os primeiros resultados, o método promete melhorar grandemente a confiabilidade e qualidade das observações feitas por telescópios de rádio, e os primeiros experimentos científicos dentro desse paradigma devem começar a aparecer ainda neste ano.

“No período de formação das primeiras estrelas, o universo estava majoritariamente vazio e composto de hidrogênio e hélio”, disse o Dr. Eloy de Lera Acedo, astrônomo de Cambridge e autor primário do paper. “Por causa da gravidade, os elementos eventualmente se uniram e as condições se tornaram propícias para a fusão nuclear, o que formou as primeiras estrelas. Mas elas estavam cercadas por nuvens do que chamamos de ‘hidrogênio neutro’, que absorve muita luz, tornando-a bem difícil de detectar e observar diretamente”.

Segundo o especialista, a ideia é construir um telescópio que atue em um tipo de “observação inversa”, o que lhe permitirá estudar objetos do chamado “Nascimento Cósmico” e seguir a análise até a época da chamada “Reionização Hidrogênica”, quando esse hidrogênio neutro do princípio universal teve sua ionização alterada para o que conhecemos hoje.

Tal telescópio está atualmente em construção na África do Sul, uma região otimizada para a observação astronômica devido à sua distância de praticamente todo tipo de emissão de rádio, o que reduz grandemente qualquer possibilidade de interferência de sinal.

Se confirmado, o método essencialmente preencherá o “elo perdido” entre o que nós já entendemos muito bem do Big Bang (graças à Radiação Cósmica de Microondas de Segundo Plano – essencialmente, o “brilho” do Big Bang) e da formação de corpos celestiais como a conhecemos hoje. No meio disso, vem a chamada “primeira luz”, algo que ainda não fomos capazes de observar.

O paper completo está disponível na revista científica Nature Astronomy.

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