Em 2019, astrofísicos descobriram que a supergigante vermelha Betelgeuse, segunda maior estrela da constelação de Órion e uma das dez mais brilhantes entre as mais próximas da Terra, estava diminuindo a intensidade de sua luz de maneira incomum – o que continuou a ser observado ao longo de 2020.

Segundo o site Ars Technica, os cientistas ainda estão investigando esse misterioso “escurecimento”, que foi inicialmente atribuído a um ponto frio e a um “arroto” que encobriu o astro em poeira interestelar. 

Diagrama traça mudanças no brilho da estrela supergigante vermelha Betelgeuse após explosiva ejeção da massa de um grande pedaço de sua superfície visível. Imagem: NASA / ESA / Elizabeth Wheatley, STScI.

Agora, novas observações do Telescópio Espacial Hubble e de outros observatórios revelaram mais sobre o evento que precedeu o fenômeno. Os dados apontam que Betelgeuse sofreu uma fortíssima ejeção de massa superficial (SME), lançando 400 vezes mais material do que o nosso Sol expele durante ejeções de massa coronal (CMEs), no que caracteriza a maior explosão estelar já vista.

De acordo com um estudo publicado no servidor de pré-impressão arXiv e já aceito pelo The Astrophysical Journal, a escala do evento é sem precedentes e sugere que CMEs e SMEs são tipos de eventos distintos.

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Perda de brilho da estrela Betelgeuse foi perceptível até a olho nu

Betelgeuse está localizada a cerca de 700 anos-luz do nosso planeta. É uma estrela antiga que chegou ao estágio em que brilha um vermelho intenso e se expande, com o núcleo quente enfrentando um aperto gravitacional tênue em suas camadas externas. 

Nessa fase, a estrela apresenta um comportamento parecido com um batimento cardíaco, embora extremamente lento e irregular, por meio do qual ela percorre períodos em que sua superfície se expande e se contrai.

Um desses ciclos é bastante regular, levando um pouco mais de cinco anos para ser concluído. Outro ciclo é mais curto e irregular, levando até um ano e meio para terminar. Embora os ciclos sejam fáceis de rastrear com telescópios terrestres, eles não causam mudanças radicais na intensidade da luz da estrela que explicariam as alterações notadas durante o evento de escurecimento.

A estrela escureceu tanto que a diferença pôde ser visível a olho nu. O escurecimento persistiu, diminuindo o brilho em 35% em meados de fevereiro até abril de 2020, intrigando os astrônomos, que se perguntaram se era um sinal de que Betelgeuse estivesse prestes a se tornar supernova. 

No ano passado, novas abordagens determinaram que a poeira interestelar seria o principal culpado, ligado ao breve surgimento de um ponto frio. A equipe do Observatório Europeu do Sul (ESO) concluiu que uma bolha de gás foi ejetada e empurrada ainda mais para fora pela pulsação externa da estrela — uma espécie de “arroto” estelar. 

Quando uma mancha fria movida por convecção apareceu na superfície, a diminuição da temperatura local foi suficiente para condensar os elementos mais pesados (como o silício) em pó sólido, formando um véu que obscureceu o brilho da estrela em seu hemisfério sul.

No entanto, de acordo com os autores do artigo mais recente, o evento foi significativamente maior do que um mero arroto estelar. Uma grande pluma convectiva com um diâmetro de mais de 1 milhão de km borbulhava das profundezas do interior do gigante vermelho. 

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Então, os choques e pulsações resultantes foram poderosos o suficiente para produzir uma SME, explodindo um pedaço maciço da fotosfera da estrela no espaço. Isso produziu a mancha fria coberta pela nuvem de poeira, o que explica o escurecimento.

Agora, a gigante vermelha começou a se curar daquele evento catastrófico. “Betelgeuse continua fazendo algumas coisas muito incomuns agora; o interior está meio que saltando”, disse a coautora Andrea Dupree, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, comparando a atividade a um prato de gelatina. “Sua pulsação de marca também parou — espero que temporariamente — talvez porque as células de convecção interior estão andando por aí como uma máquina de lavar desequilibrada à medida que a fotosfera começa o lento processo de reconstrução”.

Segundo Dupree, esse é um fenômeno totalmente desconhecido e que está fascinando os cientistas. “Podemos observá-lo diretamente e analisar detalhes da superfície da estrela com o Hubble. Estamos assistindo a evolução estelar em tempo real”. 

Novas observações podem ajudar os astrônomos a compreender mais sobre o que aconteceu — e suas implicações para outras estrelas semelhantes. E nisso o Telescópio Espacial Webb será extremamente útil, pois poderá ser capaz de detectar o material ejetado em luz infravermelha à medida que ele continua se afastando da estrela.

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