Minutos após a morte, as células e órgãos do corpo começam a se decompor, o que é natural no organismo. Por outro lado, o processo é um problema para médicos que enfrentam uma corrida contra o tempo quando o assunto é transplante de órgãos. Uma recente descoberta da equipe da Universidade de Yale, no entanto, pode mudar isso; o estudo, que envolveu testes em um porco morto, revelou uma forma de recuperar ou preservar órgãos por mais tempo.

De acordo com o Medical News Today (MNT), em média, 20 pessoas morrem todos os dias à espera de um órgão. Segundo o Observatório Global de Doação e Transplante, em 2020, foram transplantados 129.681 órgãos. Alguns deles vieram de doadores vivos. Um doador falecido pode salvar até 8 vidas através da doação de órgãos. 

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Porcos podem ser fundamentais no transplante de orgãos humanos; entenda. Imagem: irinabdw/shutterstock

Conforme o atual estudo, publicado na Nature, os cientistas conseguiram projetar um fluido que tem a capacidade de restaurar “a microcirculação e as funções moleculares e celulares”. Chamado de sistema OrganEx, o dispositivo de perfusão, que é semelhante a uma máquina coração-pulmão, ou circulação extracorpórea, passa o fluido através do corpo e restabelece as células mortas. 

O fluido foi composto por anticoagulantes e outras substâncias que suprimem a inflamação e promovem a saúde celular, além de sangue do animal ao qual o teste foi submetido – um porco considerado morto há uma hora. 

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“Após 1 h de isquemia quente (período entre a parada da circulação sangüínea do doador e o início da perfusão com a solução de preservação resfriada), a aplicação de OrganEx preservou a integridade do tecido, diminuiu a morte celular e restaurou processos moleculares e celulares selecionados em vários órgãos vitais”, descreveu o artigo.

“Esses estudos promissores e provocativos destacam a resiliência dos sistemas biológicos para recuperar a função mesmo após a morte por anóxia (ausência de oxigenação). As descobertas trazem consigo a possibilidade de desbloquear novas estratégias de preservação de tecidos e órgãos inestimáveis de doadores falecidos, mesmo após períodos prolongados de perda de circulação e oxigenação”, explicou o Dr. Roberto Hernandez-Alejandro, professor e cirurgião da Divisão de Transplantes do Centro Médico da Universidade de Rochester. 

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O sistema foi baseado em um estudo anterior com a mesma tecnologia, mas chamada de BrainEx e aplicada especialmente para o cérebro. O projeto “promove a recuperação da anóxia, reduz a lesão de reperfusão, previne o edema e suporta metabolicamente os requisitos de energia do cérebro”. 

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Nos testes, para fim de comparação, outros porcos foram mantidos apenas em oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO). Seis horas após o início do tratamento com OrganEx, os pesquisadores descobriram que as funções celulares haviam reiniciado em muitas áreas do corpo do porco. Eles não viram esses mesmos efeitos nos animais de controle (os mantidos em ECMO). 

Ao MNT, o Dr. William Kessler, cirurgião cardiotorácico e Diretor Cirúrgico de Transplante Cardíaco e Suporte Circulatório Mecânico em Ascension Seton, em Austin, Texas, a criação eleva a recuperação de órgãos para um novo nível. 

“Quaisquer que sejam os resultados, esses pesquisadores estão ajudando a ampliar os limites no campo do transplante e possivelmente até a preservação da função do órgão em pacientes viáveis com danos nos órgãos-alvo”, afirmou o médico. 

Porcos podem ser fundamentais no transplante de orgãos humanos; entenda. Imagem: shutterstock/Africa Studio

A equipe destacou ainda que, a tecnologia pode prolongar a vida útil dos órgãos e aumentar a disponibilidade de órgãos para transplante, entretanto, há desafios éticos envolvidos e, por isso, mais estudos e caminhos serão necessários. 

“No geral, serão necessárias mais otimização e expansão de nossa tecnologia para entender completamente seus efeitos mais amplos sobre tecidos isquêmicos e recuperação. Embora os resultados in vivo aqui sejam promissores para preencher as lacunas entre a pesquisa básica sobre isquemia e medicina de transplante ou ciência de ressuscitação clínica, entender a recuperação da função cerebral requer uma consideração cuidadosa”, salientou a equipe no artigo. 

O estudo foi aprovado e supervisionado pelo Comitê Institucional de Cuidados e Uso de Animais de Yale e orientado por um comitê externo consultivo e de ética. 

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