O conflito entre a Rússia e a Ucrânia, iniciado em fevereiro de 2022, trouxe muitos questionamentos e incertezas para mundo, o que mobilizou os cientistas em busca de respostas para possíveis desdobramentos mais drásticos e abrangentes da batalha, como uma guerra nuclear. De acordo com o estudo publicado na Nature Food, aproximadamente 63% da população mundial, 5 bilhões de pessoas, morreria caso o confronto tomasse esse rumo.

Com o lançamento de bombas nucleares, as pessoas observariam consequências imediata, como a devastação instantânea de florestas e animais, a destruição de cidades inteiras, incêndios generalizados, e a morte instantânea de pessoas no raio mais próximo da bomba, um exemplo do que aconteceu com as cidade de Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Além disso, há os efeitos a longo prazo, a presença de elementos radioativos na atmosfera, no solo e nas águas, o aumento de casos de câncer, catarata e outras condições de saúde nos sobreviventes.

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Entretanto, o que vai reduzir drasticamente a presença de seres humanos na Terra será a falta de alimento. Com os incêndios em larga escala, haverá depósito de fuligem na atmosfera, fator que bloqueará os raios solares e fará com que a temperatura caia cerca de 29ºC. Esse fenômeno é conhecido como “inverno nuclear”.

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Para o professor de ciência climática da Universidade de Rutggers, em Nova Jersey, Alan Robock, ocorrerão mudanças climáticas sem precedentes na história, e isso afetará diretamente a produção de gêneros alimentícios. A redução de calorias pode chegar a até 90%.

Os cientistas verificaram 6 cenários potenciais de guerra nuclear e calcularam quanto de fuligem seria gerada. Foram testados conflitos diferentes, desde uma escala local, entre países mais próximos, com menor capacidade nuclear, até os gigantes como EUA, Rússia e seus aliados. Descobriu-se que mesmo um pequeno conflito poderia gerar uma espécie de inverno nuclear em menores proporções. Em uma possível guerra mais extrema entre a Índia e o Paquistão, a produção global de calorias pode cair 50%, causando 2 bilhões de mortes.

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Cidade destruída após o lançamento de bombas, durante guerra. Créditos: Jeffrey Bonto/Pixabay

Com a estimativa da quantidade de fuligem emitida pelos eventos, os cientistas utilizaram esses dados no Modelo do Sistema Terrestre Comunitário do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR), uma ferramenta de previsão que simula mudanças na luz solar, temperatura e precipitação da Terra. Essas mudanças foram então alimentadas no Modelo Comunitário de Terra da NCAR, que deu aos cientistas uma divisão país a país das dramáticas reduções que um inverno nuclear traria para as colheitas de milho, arroz, soja, trigo e para a pesca.

As projeções apontaram que as regiões mais atingidas seriam os países que importam alimentos na África e no Oriente Médio. A Austrália e a Nova Zelândia, por sua vez, se sairiam melhor, porque evitariam a maioria das bombas lançadas no Hemisfério Norte e contariam com culturas de trigo que crescem melhor em um clima mais frio.

Analogia com a extinção dos dinossauros

Os desdobramentos seriam basicamente os mesmos que ocorreram quando da queda do asteroide Chicxulub, que matou os dinossauros no final do período cretáceo, há 66 milhões de anos. O que gerou a morte em massa, cerca de 75% dos animais, não foi a energia da colisão em si, foi a nuvem de resfriamento, poeira e detritos gerada pelo impacto, o mesmo seria visto em uma guerra nuclear em larga escala.

Escalada armamentista

O aumento das tensões entre os países, a escalada armamentista chinesa, que planeja quadruplicar o arsenal nuclear do país para mais de 1.000 ogivas até o final da década (segundo os EUA) são fatores preocupantes para esses conflitos.

O Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo, alertou sobre essa escalada em seu último relatório anual. “Todos os Estados com armas nucleares estão aumentando ou atualizando seus arsenais, e a maioria está aguçando a retórica nuclear e o papel das armas nucleares em suas estratégias militares”. Essas informações são corroboradas pelo aumento dos gastos militares anuais globais, que bateu o recorde de US$ 2,1 trilhões, em 2021, seu sétimo ano consecutivo de aumento.

O mesmo relatório também destacou que das 12.705 bombas existentes, a Rússia detém 5.977 e os EUA 5.428. Em seguida vem a China, com 350, o Paquistão com 165 e a Índia com 160.

Uma saída para essa situação é fazer com que esses países parem de aumentar os seus arsenais e comecem a diminuí-lo. Para Robock, “a proibição de armas nucleares é a única solução a longo prazo”. O Tratado das Nações Unidas sobre a Proibição de Armas Nucleares foi ratificado por 66 nações, menos pelos mais ativos nessa questão.

Via: Live Science

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