“Marte Um”: “Qualquer pessoa que ama vai se ver nesse filme”, diz atriz

Por Ana Luiza Figueiredo, editado por André Lucena 08/09/2022 16h07, atualizada em 08/09/2022 16h14
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Imagem: Filmes de Plástico
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O filme “Marte Um” foi escolhido para representar o Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar, e o Olhar Digital bateu um papo sobre o longa com o diretor Gabriel Martins, e a atriz Camilla Damião.

Contando a história dos Martins, uma família de classe média baixa de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, que se vê em meio à revelação do grande sonho de seu membro mais jovem, o menino Deivinho (Cícero Lucas), de se tornar astrofísico e integrar o projeto Mars One de colonização do planeta Marte.

“Eu sinto a família Martins como um retrato da família brasileira no geral. Eu acho que a gente conseguiu trazer de uma maneira muito natural, muito simples, e por isso, a meu ver, muito sofisticada, o que é essa família brasileira. Pra mim é o retrato, é um espelho,” explicou a atriz Camilla Damião, que interpreta a personagem Eunice, irmã mais velha de Deivinho.

Eunice (Camilla Damião) e Deivinho (Cícero Lucas) em “Marte Um”. Imagem: Filmes de Plástico

O filme foi recentemente selecionado pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais para ser o representante do Brasil no Oscar 2023. Mas, o filme que foca no sonho de um menino, surgiu logo depois de um pesadelo que afligiu a população brasileira: a Copa do Mundo de 2014, em que nossa Seleção foi eliminada com o vexatório 7 a 1 contra a Alemanha.

“O ‘Marte Um’ surgiu em 2014 após a Copa do Mundo, pensando muito toda a relação da sociedade brasileira tava travando com um grande evento como a Copa, mas ao mesmo tempo muitas contradições políticas, sociais,” começou Gabriel Martins, o Gabito, diretor e roteirista de “Marte Um”.

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Diretor Gabriel Martins, o Gabito. Imagem: Cortesia da Filmes de Plástico

Martins continuou: “Uma espécie de crise de identidade do povo brasileiro que me trouxe essa ideia: falar sobre uma família de classe média baixa que tivesse aí seus desafios, e que isso pudesse falar muito do que o nosso Brasil é. Que essa família pudesse ser um veículo para falar de sonhos, sonhos impossíveis, e desafios que a nossa sociedade nos coloca.”

Apesar de se tratar de uma família com pessoas negras de baixa renda, Camilla Damião acredita que qualquer família brasileira, seja vinda de classe social mais alta ou composta por pessoas majoritariamente brancas, conseguirá se identificar com os Martins.

“Eu acho que um dos tentáculos do racismo, dessa estrutura toda que infelizmente a gente convive 24 horas [por dia], é desumanizar as pessoas pretas. E o que o Gabito conseguiu fazer com esse roteiro, com esse elenco, com a maneira como ele conduziu esse filme e nos deu liberdade também para dar vida a esses personagens, foi humanizar as pessoas pretas,” explicou ela.

Damião ainda destacou o fato de que, apesar de o filme discutir sim o racismo, ele não precisou sequer citar a palavra “racismo“, ou colocar esta família protagonista em situações de violência.

“Eu acho que a partir dessa humanização, a gente universalizou o discurso. Então, nesse sentido, todas as pessoas que assistirem esse filme vão conseguir se ver [nele]. Qualquer pessoa que tem sonho, que tem medo, que tem pai, que tem mãe, que tem irmão, que tem tia, que tem relação com outas pessoas. Enfim, qualquer pessoa que ama, vai ver esse filme e vai se ver,” disse a atriz.

O diretor também refletiu sobre como o filme passa essa representatividade da família brasileira. “Acho que ‘Marte Um’ é um filme que tá refletindo essa sociedade. Discutindo ela de forma ampla, profunda. Eu vejo que é um filme que se coloca no debate pra poder nos fazer pensar um pouco sobre todas essas questões que nos envolvem, nos colocam assim enquanto desafio, enquanto grupo, no cotidiano. ‘Marte Um’ é pra discutir sobre essa família que pode ser a família Martins, mas que pode ser a família Brasil,” concluiu o Gabriel Martins.

“Marte Um” no Oscar

O menino Deivinho (Cícero Lucas). Imagem: Filmes de Plástico

“Marte Um” foi escolhido na última segunda-feira para representar o Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional, do maior prêmio do cinema mundial: o Oscar. E Martins e Damião refletiram sobre este grande momento.

“Eu acho que a minha ficha ainda não caiu, pra ser sincera. Eu não tô entendendo muito bem,” disse a atriz aos risos. “Eu tô muito feliz, acho que foi uma indicação justa. Sendo muito sincera, e eu não tô falando isso porque eu tô no elenco e tô no trabalho não. Eu acho que sim, é o filme que merece representar o Brasil, e que sim é um filme que tem um potencial técnico, humano, pra representar o cinema brasileiro hoje. Então acho que foi uma indicação assertiva deles. Eu acho que o filme fala sobre isso também, de voltar a sonhar, e eu acho que a gente tá sonhando,” concluiu ela.

“Muito feliz de ser escolhido pra representar o país no Oscar,” disse o diretor por sua vez. “Eu acho que esse filme representa muito o Brasil, ele representa muito o que o cinema brasileiro também pode ser, quem está na tela, quem está por trás da tela, quem está aí fazendo esse filme. A Filmes de Plástico como uma espécie de representação também de várias outras produtoras que são muito parecidas com a nossa, [que] tão produzindo muitas coisas lindas.”

Quanto a conseguir ser o primeiro filme brasileiro a conseguir ser finalista na categoria de Melhor Filme Internacional, antes Melhor Filme Estrangeiro, desde “Central do Brasil”, Gabriel Martins categorizou a missão como “uma luta de Davi contra Golias”.

“Porque é um sistema que é difícil entrar, é um sistema que é muito caro pra fazer a campanha e a gente não tem, de imediato, uma grande força movendo esse filme que se relaciona com o Oscar a não ser o próprio filme e a nossa força de vontade,” explicou Gabito.

Mas, nem por isso trata-se de uma missão impossível. “Só que nesse sentido isso pode ser muito grande, né? E a gente tem um desejo enorme de tomar com honra essa tarefa e ir até o fim, com tudo o que precisar. Fazendo um trabalho com dignidade, com força de vontade e muito inspirado assim pra pensar o que o ‘Marte Um’ pode ser pro Brasil e acreditar que esse prêmio pode vir,” afirmou ele.

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“Marte Um” está em exibição em algumas cidades brasileiras, e a atriz Camilla Damião fez um apelo: “Vão aos cinemas!”.

“Eu espero que a gente tenha políticas públicas para que esse filme chegue nas periferias,” disse ela. “Mas que as pessoas que tem condições, que conseguem ir aos cinemas, que elas vão! Que elas ocupem esses espaços nas salas. Porque fazer cinema no Brasil é muito difícil. Ocupem as salas de cinemas do Brasil inteiro!” pediu ela.

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Ana Luiza Figueiredo é repórter do Olhar Digital. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), foi Roteirista na Blues Content, criando conteúdos para TV e internet.

André Lucena
Ex-editor(a)

Pai de três filhos, André Lucena é o Editor-Chefe do Olhar Digital. Formado em Jornalismo e Pós-Graduado em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte, ele adora jogar futebol nas horas vagas.