“O espaço é grande. Grande, mesmo. Não dá para acreditar o quanto ele é desmesuradamente, inconcebivelmente, estonteantemente grande. Você pode achar que da sua casa até a farmácia é longe, mas isso não é nada em comparação com o espaço.”

Esta frase na introdução do Guia do Mochileiro das Galáxias de Douglas Adams mostra de forma bem divertida o quão grande é o nosso Universo. E quando falamos de distâncias astronômicas, não dá para usar uma fita métrica para medí-las. Uma das formas mais comuns de se tomar essas medidas é um método bastante natural, conhecido como paralaxe. 

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A paralaxe é basicamente a medida da diferença da posição aparente de um mesmo objeto visto de dois pontos diferentes. A partir dessa medida, podemos calcular a distância até ele usando uma matemática bem simples. 

Nosso cérebro já calcula naturalmente a distância dos objetos próximos a partir da paralaxe. Se você estender o dedo diante dos seus olhos verá que a posição aparente dele muda em relação ao fundo dependendo do olho com que você observa. Nosso cérebro é capaz de calcular a distância até ele quando observamos o dedo com os dois olhos abertos. Isso nos dá a noção de profundidade. 

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[ Observação da paralaxe do dedo esticado em relação ao plano de fundo – Fonte: spot.pcc.edu ]

E na astronomia, fazemos a mesma coisa, mas para calcular a distância de objetos distantes precisamos de um afastamento maior entre os nossos olhos. 

Se dois astrônomos, por exemplo, observarem a Lua ao mesmo tempo de dois lugares distantes da Terra, perceberão uma pequena diferença em sua posição em relação ao fundo de estrelas. Essa diferença pode ser medida em graus, já que as direções observadas formam um triângulo, com a Lua em uma das pontas e os observadores nas outras. Como a distância entre os observadores é conhecida, podemos calcular, por trigonometria, a distância até a Lua.

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É um método bem simples e muito eficiente mas tem um problema: quanto mais distante o objeto, menor será o ângulo formado pelas duas visadas, até o ponto em que esse ângulo vai tender a zero. Então, para calcularmos medidas maiores, precisaremos de uma distância maior entre os observadores. 

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Felizmente a Terra está em órbita do Sol e isso nos permite calcular a distância de estrelas próximas medindo sua posição em diferentes épocas do ano. Se observarmos a posição de uma estrela hoje e compararmos com sua posição daqui 6 meses, quando a Terra estará do outro lado do Sistema Solar, poderemos medir a paralaxe da estrela com um afastamento entre os observadores de duas vezes a distância entre a Terra e o Sol, ou seja, cerca de 300 milhões de quilômetros. 

[ Como é calculada a distância (d) de uma estrela próxima a partir da medida da paralaxe (p) tomada pela observação do astro em diferentes épocas do ano – Imagem: Marcelo Zurita ]

Só que, mesmo para estrelas próximas, a paralaxe é muito pequena, medida na ordem de milésimos de segundo de arco. Lembrando que 1 segundo de arco é a sexuagézima parte de 1 minuto de arco, que é a sexuagézima parte de 1 grau. Ou seja, em 1 grau, cabem 3600 segundos de arco. 

Alfa Centauri, por exemplo, é o sistema estelar mais próximo da Terra e sua paralaxe mede apenas 747 milésimos de segundo de arco. A partir dessa medida, podemos dizer que a distância até Alfa Centauri é de 1,338 Parsec, onde 1 Parsec equivale a distância de um objeto com a paralaxe de 1 segundo de grau, medida com observações afastadas entre si a mesma distância entre a Terra e o Sol. 1 Parsec equivale a 3,26 anos-luz ou cerca de 30,9 trilhões de quilômetros. 

Uma curiosidade a esse respeito é que os astrônomos começaram a medir a distância dos astros utilizando paralaxe, mesmo antes de conhecer, com precisão, a distância até o Sol, medida básica para este  cálculo. No fim calculava-se as medidas em Unidades Astronômicas (UA), onde uma Unidade Astronômica é equivalente à distância entre a Terra e o Sol, que a princípio não era conhecida. 

Mais tarde, quando a Unidade Astronômica foi calculada, podemos enfim conhecer as distâncias dos astros do nosso Universo. Ao menos dos mais próximos. As distâncias dos objetos mais afastados, são calculadas de outra forma utilizando as chamadas variáveis cefeidas. Mas isso, sem dúvida, vale uma outra matéria.

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