Além de ser visualmente bonita e de ter uma bela trilha sonora, a abertura de “O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder” também é cheia de significado.
A abertura da série do Prime Video foi criada pela Plains of Yonder e faz uso da cimática, que trata-se de um fenômeno que torna visível aos olhos as ondas criadas por sons e música. Com a vibração causada pelos sons, rochas espalhadas sobre uma superfície plana se movem, formando diferentes formas e mosaicos carregados de simbolismo. Tudo com o tom do tema de “Os Anéis de Poder”, criado por Howard Shore.
A criação do universo
O que carrega ainda mais simbolismo no universo de J.R.R. Tolkien é a música, que teve papel fundamental na criação do universo em que se passa a série. De acordo com o Legendarium de Tolkien, no início havia Eru Ilúvatar, o Uno. Então, com um pensamento, ele criou outros seres, os Ainur, algo como sua corte celestial. Ele então passou a interagir com os Ainur com o uso de música, que eles passaram a usar como forma de expressão por meio do ato de cantar.
Então, a música dos Ainur, chamada Ainulindalë, foi como o Big Bang do Legendarium, evento que resultou na criação do universo. Se por um lado o nosso universo surgiu do caos, o universo de Tolkien nasceu da música. Mas, para que este evento grandioso fosse possível, os Ainur precisaram aprender a cantar em harmonia, iniciando com cantorias individuais ou em pequenos grupos, até que o próprio Eru instruiu a sua corte a seguir o exemplo um do outro. Com isso, a música preencheu o Vazio, e foi criado o universo, chamado de Eä.
No entanto, um dos Ainur começou a cantar fora do ritmo, em um tom diferente dos demais. Tratava-se de Melkor, o Ainur que desafiava Eru. Esta dissonância confundiu os demais, e alguns deles chegaram a se unir a Melkor. Eru então repreendeu Melkor por três vezes, com o ser supremo deixando claro na terceira vez que compreendeu as intenções malignas de Melkor.
Por meio das canções dos Ainur, cantadas em Três Temas, toda a existência foi criada. Então, Eru mostrou aos Ainur o resultado dos cantos: o mundo trazido à vida por Eru, quando ele enviou para Eä a Chama Imperecível – que seria o Fogo Secreto que Gandalf se refere na luta contra o Balrog em “A Sociedade do Anel”.
Além disso, os elfos e os humanos também foram criados, e Eru mostrou aos Ainur uma visão da história daquele mundo recém criado. No entanto, enquanto os Ainur observavam tudo com admiração, a visão foi retirada antes que eles pudessem ver como a história termina.
Após a criação do Eä, o mundo chamado de Arda, o Fogo Secreto de Eru veio a existir. Por mais que Melkor tenha vagado por todo o Vazio em busca da Chama Imperecível, ele não conseguiu encontrá-la, pois fazia parte do próprio Eru. A chama foi o que trouxe os Filhos de Ilúvatar – elfos e humanos – à vida, e causou com que alguns Ainur se mudassem para Arda, assumindo formas humanoides. Os que permaneceram passaram a ser conhecidos como os Valar, com exceção de Melkor.
Um aspecto interessante de Arda é a simetria. Apesar de ter sido criada por Ilúvatar, foram os Valar que formaram Arda como ela é no começo de sua história, quando ainda não era esférica, mas plana com um céu abobadado sobre ela. Os Valar criaram os continentes de Aman e Endor. Os Valar residiam no primeiro, enquanto o segundo era a casa dos filhos de Ilúvatar.
A geografia de Arda vê a forma de um espesso anel de terra, com uma ilha no meio do mar. O anel é Endor, e a ilha é Aman, onde está localizado o reino de Valinor. É importante notar que, quando “Os Anéis do Poder” ocorre, Arda ainda estava plana. O evento que a tornou esférica foi exatamente a Queda de Númenor, realizada pelo próprio Ilúvatar e, como sabemos, Númenor ainda está em pé na série.
Interpretações para a abertura de “Os Anéis de Poder”
Mas como tudo, a criação do universo da série, isso se relaciona com a sequência de abertura de “Os Anéis de Poder”, você pode se perguntar.
Sabemos que a música e superfícies planas são uma parte importante em Arda e na história da Terra-média. Então, é possível usar esta mitologia para interpretar as formas apresentadas no tema de abertura, que passam por mudanças constantes.
Isso acontece porque, em teoria, a música dos Ainur ainda está em jogo, pois a visão que Eru lhes mostrou foi realizada pela própria música. Além disso, ao longo de sua história, Arda foi remodelada muitas vezes, assim como as formações de rocha e grãos vistas na sequência de abertura.
No primeiro mosaico, vemos nove círculos, oito deles ao redor de um maior centralizado. Apesar do pensamento inicial ao ver nove círculos para aqueles que conhecem a história dos Anéis de Poder, ser que a imagem os representa, o anel central ser maior que os demais não faz tanto sentido.
Em vez disso, é possível que o mosaico represente o próprio evento conhecido como Ainulindalë, visto que os Ainur se sentaram com Eru em um círculo enquanto criavam Eä.
Na sequência, são formadas duas árvores e elas podem significar muitas coisas. A primeira conexão, e também a mais óbvia, é com as Árvores de Valinor, que vemos no primeiro episódio da série. Elas eram responsáveis por trazer luz para o mundo, até serem destruídas por Melkor e sua Ungoliant, um espírito maligno em forma de aranha.
Além disso, árvores tem bastante significado na série, e duas delas já tiveram destaque: uma na casa de Durin (Owain Arthur) em Khazad-dûm, e a outra conhecida como a Árvore Branca de Númenor. Ambas representam a amizade entre elfos e outras raças, neste caso anões e homens. Além disso, as árvores apresentadas na abertura tem um formato similar ao da Árvore Branca de Gondor, apresentada na trilogia de Peter Jackson, que é uma descendente da árvore de Númenor.
O terceiro mosaico mostra uma estrela de oito pontas, que se refere à Casa de Feänor, que trata-se de um dos elfos mais importantes na história de Arda. Feänor já foi mencionado por Elrond (Robert Aramayo) e Celebrimbor (Charles Edwards), e foi responsável pela divisão entre as raças. Além disso, ele criou os Simarils, gemas em forma de uma estrela girando em três círculos, que também é representada na abertura:
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A seguir, temos uma referência ao próprio Melkor. O grande mal é referenciado várias vezes na série, mas com seu outro mais comum nome, Morgoth. A abertura fica mais escura e uma faixa preta é vista deslizando pelos grãos dourados, uma referência à sua dissonância na Música dos Ainur e à escuridão que ele lança na Terra-média. Seu sucessor, Sauron, opera de forma semelhante, agitando a Terra-média entre aqueles que não têm ideia de quem ele realmente é.
Por último, temos uma referência ao próprio Um Anel. Muitos quadros deslizam pela tela, chegando a um mosaico final que mostra muitas formas concêntricas, com um anel perfeito no meio. O resultado final do esforço de Sauron com os Anéis de Poder. Sua própria peça, Um Anel para governar todos eles.
Os quatro primeiros episódios de “O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder” estão disponíveis no Prime Video. Os episódios seguintes chegam à plataforma da Amazon às sextas-feiras, à 1h da manhã.
Via Collider.
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