Lançado em 2010 e tendo iniciado suas operações regulares em 2014, o Observatório Estratosférico de Astronomia Infravermelha, ou simplesmente SOFIA (acrônimo em inglês), é um telescópio da NASA instalado em um avião dedicado a estudar o cosmos por meio de voos noturnos de 10 horas de duração a cerca de 12 km de altitude da Terra.

Telescópio aéreo SOFIA, da NASA, vai se aposentar. Imagem: Jim Ross/NASA

Conforme noticiado pelo Olhar Digital em abril, a agência espacial americana e seus parceiros no Centro Aeroespacial Alemão (DLR) decidiram aterrissar a aeronave para sempre no segundo semestre deste ano, mais especificamente nesta quarta-feira (28), quando terminar sua última missão.

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A campanha marca o fim da extensão de três anos dos trabalhos do observatório de 2,7 metros, que fica posicionado em um “buraco” na cauda de um Boeing 747SP para ter vistas infravermelhas do universo. 

Ele será desativado conforme recomendação da mais recente pesquisa astrofísica decadal feita pela NASA, que a cada dez anos solicita aos astrônomos e pesquisadores planetários que determinem quais questões devem ser priorizadas para a década seguinte.

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“Conduzido por equipes excepcionalmente talentosas e diversificadas de cientistas, engenheiros e especialistas em aviação, SOFIA realizou uma ampla variedade de feitos científicos que terão um impacto duradouro na nossa compreensão de muitos aspectos da astrofísica, da evolução galáctica, da formação de estrelas e da ciência planetária”, declarou Naseem Rangwala, do Centro de Pesquisa Ames da NASA, que gerenciou os aspectos científicos da missão. 

Animação da NASA mostra estrutura do observatório voador SOFIA. Imagem: NASA

Estas são algumas das descobertas mais memoráveis do telescópio SOFIA 

1- Água em áreas da Lua iluminadas pelo Sol

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Em 2020, cientistas detectaram vestígios de água em áreas da cratera lunar Clavius usando dados do SOFIA. “Anteriormente, havia indicações de outras missões de presença de água na parte da Lua iluminada pelo Sol, mas SOFIA foi capaz de confirmá-la inequivocamente detectando uma característica espectral exclusiva das moléculas de água”, disse Rangwala em entrevista ao site Space.com. Desde então, o observatório continuou examinando a Lua e, recentemente, descobriu água também na Cratera Moretus. 

SOFIA encontrou água na superfície da Lua. Imagem: Naratrip – Shutterstock

Embora não tenha sido em grande volume (o deserto do Saara aqui na Terra tem 100 vezes mais água do que o que SOFIA viu na Cratera Clavius), a descoberta é muito importante para futuras missões lunares da NASA. Por exemplo, o rover VIPER, que deve ser lançado em 2024 para farejar gelo de água no polo sul lunar, além do programa Artemis, que visa pisar astronautas na Lua pela primeira vez desde 1972.

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2- Medição de oxigênio na atmosfera superior da Terra

A mesosfera e a termosfera inferior são algumas das camadas menos compreendidas da atmosfera terrestre. Em 2021, o instrumento GREAT (sigla em inglês para Receptor Alemão para Astronomia em Frequências Terahertz) do observatório SOFIA mediu o oxigênio atômico nessas regiões da atmosfera superior. O trabalho contribuiu para a pesquisa dos cientistas sobre a troca de energia solar entre o espaço e a superfície da Terra.

“Os pesquisadores forneceram uma restrição crítica à temperatura da mesosfera e da termosfera inferior usando essas medidas”, explicou Rangwala. “Isso representa uma contribuição fundamental para os modelos de mudança climática que dependem dessas medidas de temperatura para entender as mudanças climáticas da Terra”.

3- Análise dos campos magnéticos de galáxias próximas

“Um dos legados duradouros é certamente o programa SALSA, que observou campos magnéticos cósmicos em muitas galáxias próximas”, disse Rangwala. “SOFIA tem uma resolução espacial incomparável para esses estudos e observou detalhes que de outra forma eram inatingíveis”.

Formalmente denominado Pesquisa sobre Magnetismo Extragaláctico com SOFIA, o programa SALSA fez inúmeras descobertas ao longo da missão do observatório aéreo. Além de determinar que todas as galáxias têm campos magnéticos em seus meios interestelares, também descobriu que os campos magnéticos de galáxias recém-fundidas, como Centaurus A, são “amplificados e altamente turbulentos”.

4- Descoberta da primeira molécula do universo

Acredita-se que a primeira molécula a se formar no universo após o Big Bang foi o hidreto de hélio, uma combinação de hélio e hidrogênio, que foi gerada à medida que o universo esfriava. 

No entanto, os astrônomos não haviam encontrado nenhum traço dessa molécula em qualquer lugar do cosmos, mesmo em regiões bem parecidas com o ambiente do universo primitivo. Até SOFIA entrar em ação.

“O instrumento GREAT de SOFIA é um espectrômetro altamente sensível e de alta resolução que poderia, em teoria, fazer uma detecção de hidreto de hélio em nosso universo moderno, mas primeiro precisava de um upgrade”, disse Rangwala. “A equipe de cientistas e engenheiros do instrumento projetou uma atualização que lhes permitiu fazer a primeira detecção de hidreto de hélio no universo moderno, apoiando as teorias do universo primitivo”.

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Investimento financeiro desproporcional ao retorno

Apesar de sua inegável contribuição para a ciência, conforme vimos acima, a missão SOFIA custa, em média, US$85 milhões por ano (algo em torno de R$450 milhões, na cotação atual).

“As operações anuais do SOFIA são a segunda mais cara no campo da astrofísica, e mesmo assim a produtividade científica da missão não é proporcional a outras mais abrangentes”, diz um trecho da proposta de orçamento da NASA para 2023, na qual não constam recursos reservados para o observatório aéreo.

De qualquer forma, ficam as lembranças de oito anos de um valioso trabalho, cujos resultados continuarão disponíveis no acervo da agência para consulta pública.

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