Na última semana, o Olhar Digital noticiou que o Aeroporto Internacional de São Paulo – Governador André Franco Montoro, em Guarulhos, precisou passar por mudanças operacionais em suas pistas de pouso e decolagem, que foram afetadas por alterações no campo magnético da Terra

Conhecido como aeroporto de Cumbica, por ter sido construído sobre uma antiga fazenda de mesmo nome, o local tem duas pistas, totalizando quatro cabeceiras, que recebiam os números 09 e 27, acompanhados pelas letras L e R (iniciais de “esquerda” e “direita”, em inglês). 

Por determinação do Departamento de Controle de Espaço Aéreo (Decea), que é ligado à Força Aérea Brasileira (FAB), elas agora passam a indicar 10L/28R e 10R/28L. Essa mudança ocorreu na madrugada do dia 7 para o dia 8 deste mês, passando a valer a partir de então. 

Por que essas mudanças foram necessárias no Aeroporto de Guarulhos

Veja o que diz o comunicado oficial do Decea que anunciou as adaptações:

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“Todas as pistas dos aeroportos têm números pintados em cada uma das cabeceiras. Essa identificação tem a função de orientar os pilotos sobre a direção de pousos e decolagens das aeronaves. Como a direção desses procedimentos pode variar de acordo com o vento, cabe ao controlador de voo informar ao piloto o número da cabeceira que está em uso naquele momento.

De tempos em tempos, no entanto, esses números podem sofrer alterações, a exemplo do que ocorrerá, a partir do próximo dia 8 de setembro, nas pistas do Aeroporto de Guarulhos.

Os dois algarismos que identificam as cabeceiras de uma pista são definidos de acordo com o seu rumo ou orientação magnética da bússola. Eles podem variar de 1 a 36. Quando a bússola for apontada para determinada cabeceira e indicar 250 graus, por exemplo, ela é identificada com o número 25.

A modificação com o passar do tempo ocorre devido à declinação magnética, que é o ângulo entre o Norte Verdadeiro e Norte Magnético da Terra. A mudança ocorre lentamente e, em média, modifica 1 grau a cada 10 anos”. 

Desde 2012, o local é gerido pela Concessionária do Aeroporto Internacional de Guarulhos S.A. (GRU Airport), formada pelo Grupar (Grupo Invepar e ACSA) e pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). 

Segundo a GRU Airport, desde a inauguração do espaço, em 1985, esta foi a primeira vez que tal mudança se fez necessária. A concessionária afirmou ainda que as adaptações envolvem mais do que repintar as cabeceiras das pistas: também foi preciso modificar a documentação de navegação, os sistemas informativos do tráfego aéreo e a sinalização de solo de pistas e pátios.

Entenda a declinação magnética da Terra

Conforme visto no comunicado do Decea, existem dois nortes: o Norte Verdadeiro e o Norte Magnético da Terra. 

O chamado “Norte Verdadeiro” é usado nos sistemas de GPS, bem como em mapas e plantas de obras. Essa é uma direção física, que aponta para o norte geográfico da Terra, ou seja, o Polo Norte (um ponto fixo, para o qual nunca haverá alterações).

Já o “Norte Magnético”, que é usado na aviação e navegação, é o indicado pela bússola, de acordo com o magnetismo do planeta. Enquanto a marcação de 0º (ou 360º) aponta um direcionamento para o norte, a de 180º indica o sul, a de 90º, o leste, e a de 270º, o oeste. 

Como a “bolha magnética” que protege a Terra não está exatamente alinhada com os polos e se desloca ao longo do tempo, uma bússola não aponta sempre o exato e mesmo “norte”. 

O campo magnético do planeta é como um enorme ímã, criado pelo fluxo de ferro e níquel liquefeitos no núcleo da Terra. A energia gerada promove mudanças magnéticas e faz com que o “norte” esteja em movimento constante.

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De acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), entre 1990 e 2005, o movimento do norte magnético acelerou, passando de sua tradicional velocidade entre 0 e 15 km por ano, para os atuais 50 a 60 km. 

Em 1831, quando foi identificado pela primeira vez, ele estava nas ilhas do Ártico canadense. Agora, fica em um ponto na costa da Groenlândia, a cerca de 400 km do polo norte geográfico, e se move em direção à Sibéria, na Rússia. 

No vídeo abaixo, divulgado pela Agência Espacial Europeia (ESA), é possível ver a movimentação no norte magnético entre os anos de 1840 e 2019:

Como tal inconstância desordena os sistemas de navegação, o Modelo Magnético Mundial (WMM), uma espécie de mapa que descreve o campo magnético terrestre no espaço e tempo, precisa ser periodicamente adaptado à localização desse ponto. A última atualização aconteceu em 2020, com uma próxima esperada para 2025.

Comandante Eng. Jefferson Vieitas Fragoso, perito e investigador em acidentes aeronáuticos, membro diretivo da Sociedade Internacional de Investigadores de Acidentes Aeronáuticos da América Latina (LASASI). Imagem: Arquivo Pessoal

De acordo com o Comandante Eng. Jefferson Vieitas Fragoso, perito e investigador em acidentes aeronáuticos, membro diretivo da Sociedade Internacional de Investigadores de Acidentes Aeronáuticos da América Latina (LASASI), na prática, nada muda para os pilotos. “Eles apenas seguirão uma nova proa magnética”, disse Fragoso em entrevista ao Olhar Digital.

“Em termos de voo e de segurança de voo, a nova indicação manterá a aeronave alinhada novamente dentro das tolerâncias dos auxílios eletrônicos ao voo por instrumentos”, explicou. “Existe uma tolerância eletrônica desses equipamentos alinhando a aeronave à pista. Uma vez ajustada a declinação, tudo volta ao ‘eixo’, literalmente. É aceitável uma pequena variação desse campo”.

Segundo Fragoso, sempre que houver ajustes mundiais, a Organização Internacional de Aviação Civil (OACI) solicitará adaptações. “Às vezes, as variações são mais intensas em determinado país, e seu órgão interno faz os ajustes necessários”.

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