Algumas das consequências do desastre no reator nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, foram as mudanças evolutivas em espécies próximas ao local do acidente. Agora, de acordo com um estudo publicado na Evolutionary Applications, a radiação fez com que uma espécie de sapo (Hyla orientalis), que tradicionalmente tem coloração verde, se tornasse preto.

Em 26 de abril de 1986, o reator número quatro da usina nuclear de Chernobyl derreteu e explodiu, com um fogo a céu aberto queimando no núcleo do reator por diversos dias. Com isto, contaminantes radioativos foram liberados no ar e espalhados pela Ucrânia e grande parte da Europa, principalmente nos países mais próximos.

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Esses isótopos radioativos, principalmente produtos de fissão, liberam radiação ionizante, que pode colidir com o DNA e danificá-lo, causando mutações genéticas. Tais mutações podem ter consequências graves, como câncer e morte, mas existem casos em que a radiação causa mutações não prejudiciais à vida, que passam de geração para geração.

Este tipo de evolução é conhecida como orientada por radiação. Por isso e por outros fatores, diversos estudos são feitos desde então para determinar as consequências do acidente nuclear.

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Em relação ao sapo Hyla orientalis, conhecido comumente como sapo oriental, os autores descreveram a mudança no estudo: “A coloração da pele era mais escura nas localidades mais próximas de áreas com altos níveis de radiação no momento do acidente, enquanto os níveis atuais de radiação pareciam não influenciar a coloração da pele em sapos de Chernobyl”.

“Os sapos que vivem dentro da Zona de Exclusão de Chernobyl tinham uma coloração da pele dorsal notavelmente mais escura do que os sapos de fora da Zona,” explicou o estudo.

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De acordo com o artigo, fortes fatores seletivos, como a radiação de Chernobyl ou poluentes ambientais, já foram vistos anteriormente como indutores de respostas adaptativas rápidas, inclusive em peixes e plantas.

Mas, apesar de mutações aleatórias serem possíveis, os pesquisadores determinaram que, no caso dos sapos ucranianos, a coloração mais escura pode não ter sido necessariamente devido a uma mutação aleatória. De acordo com o estudo, esta mutação seria uma resposta adaptativa para proteger os sapos da radiação abundante.

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chernobyl sapo
Imagem: Evolutionary Applications/Divulgação

“A coloração escura é conhecida por proteger contra diferentes fontes de radiação, neutralizando os radicais livres e reduzindo os danos ao DNA, e, particularmente, a pigmentação da melanina tem sido proposta como um mecanismo de proteção contra a radiação ionizante,” diz o estudo. “Nossos resultados sugerem que a exposição a altos níveis de radiação ionizante, provavelmente no momento do acidente, pode ter sido selecionada para coloração mais escura em sapos de Chernobyl”.

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Em diversos animais, inclusive humanos, a melanina é responsável pela coloração escura da pele e dos olhos. No entanto, ela também pode reduzir efeitos negativos da radiação, absorvendo e dissipando parte da energia da radiação. Assim, ela nos protege da luz ultravioleta, e demonstrou proteger contra outras radiações ionizantes em fungos.

Assim, em vez de uma mutação aleatória que poderia ter feito os sapos da espécie Hyla orientalis se tornarem pretos por causa da radiação, os sapos podem ter evoluído resistência à radiação ao se tornarem pretos.

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