Ceratocone: doença afeta jovens e está relacionada ao risco de acidentes no trânsito 

Por Tamires Ferreira, editado por Adriano Camargo 19/10/2022 17h13, atualizada em 19/10/2022 17h51
ceratocone
Imagem: shutterstock/Garna Zarina
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Uma pesquisa realizada pelo Instituto Penido Burnier mostrou que o ceratocone é um dos fatores que mais contribui com o alto índice de acidentes de trânsito entre jovens. Segundo o levantamento, 20% dos 315 participantes afirmaram que a condição dificulta a direção, sendo que 1 em cada 8 não consegue dirigir à noite, e o mesmo índice não consegue dirigir independentemente do horário e luminosidade. 

Curiosamente, uma pesquisa realizada pela Polícia Rodoviária Federal em maio deste ano revelou que o número de acidentes de trânsito nas rodovias federais voltou a crescer após 10 anos em queda. O anuário ainda apontou que 41% dos acidentes aconteceram com jovens de 17 a 35 anos. 

Mas o que é ceratocone? 

Imagem: shutterstock/Garna Zarina

Ceratocone é uma doença ocular que altera a curvatura da córnea e que geralmente aparece na adolescência. No geral, o tecido transparente na superfície anterior do olho (córnea) afina e se curva para fora, isso forma uma saliência em forma de cone e pode levar ao comprometimento da visão. De acordo com site do Dr. Dráuzio Varella, o defeito que a ceratocone causa impede a projeção de imagens nítidas na retina e pode promover o desenvolvimento de grau elevado de astigmatismo irregular e miopia

Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, perito em medicina do trânsito do Instituto Penido Burnier, em relação ao tráfego, a alteração na curvatura da córnea desfoca as imagens tanto para longe como para perto, diminui o reflexo, dificulta a leitura das placas de sinalização, além de aumentar a fadiga visual, a aversão à luz, e o ofuscamento pelos faróis contra e a visão de halos noturnos. 

Não há uma causa exata para o desenvolvimento da doença, mas o processo ocorre a partir da perda de elementos estruturais da membrana, desde a queda no aporte do colágeno como o simples ato de esfregar ou coçar os olhos com frequência — por isso pessoas alérgicas são suscetíveis, além de portadores de Síndrome de Down ou com alterações oculares congênitas, como a catarata. Especialistas acreditam que a condição também seja genética e hereditária. 

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Qual o tratamento para ceratocone? 

Quando a deformação não é grave, o uso de óculos pode ser suficiente para recuperar a visão. Conforme o grau de distorção aumenta, o uso de lentes de contato pode ser exigido, já que elas se ajustam melhor à superfície do olho. 

“No início da doença os óculos oferecem uma boa correção visual, mas a pesquisa mostra que 61% dos participantes só conseguem enxergar bem com lente de contato.  As rígidas são usadas por 74% deste grupo porque aplanam a córnea e proporcionam melhor correção visual”, afirma o médico. 

Há também o transplante de córnea, indicado para um número pequeno de pacientes. Dentre os participantes do estudo, 12% fizeram o transplante e, apesar de a cirurgia ter sido feita pelo método convencional, 70% tiveram grande melhora da visão. 

Imagem: shutterstock/Orawan Pattarawimonchai

De mais tecnológico (embora os transplantes com laser já estejam no mercado), existe também o crosslinking, único tratamento que interrompe a progressão do ceratocone e que se tornou uma forte alternativa contra o uso de óculos, lentes e transplantes. 

No entanto, a pesquisa mostrou que 12% dos pacientes têm medo de passar pelo procedimento de crosslinking; a intervenção fortalece as moléculas de colágeno da córnea a partir da técnica de raspagem da superfície e aplicação de colírio à base de vitamina B2. O tratamento também inclui o uso de luz ultravioleta — aumentando a resistência da córnea em até 3 vezes. A doença estacionou em 88% dos que passaram pelo crosslinking e 45% também tiveram melhora da visão. 

Outra técnica para evitar o transplante de córnea é o implante de anel intercoreano que aplana a curvatura da córnea. Para 74% este implante melhorou a visão, além de permitir melhor adaptação da lente de contato. Outros 20% não passaram pelo procedimento por ter medo de complicações, apesar de o procedimento ser reversível. 

Ceratocone é responsável por mais da metade dos transplantes de córnea 

O ceratocone atinge 100 mil brasileiros e responde por 7 em cada 10 transplantes de córnea no país. Trata-se, portanto, de um grave problema de saúde pública, uma vez que a visão responde por 80% de nossa integração com o meio ambiente e quem passa por transplante pode ter rejeição da córnea — embora os métodos atuais reduzam o risco. 

Para o especialista, o maior problema no que diz respeito ao ceratocone, no entanto, continua sendo a falta de informação e o acesso cada vez menor da população aos tratamentos de ponta, o que impede o aumento na prevenção da doença e redução no número de acidentes entre jovens — a prevenção é baseada em mudanças de hábitos sendo feita a partir de orientação médica.

A má notícia para quem, entre as formas de tratamento, precise do transplante, é que o relatório 2022 da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) revela que a taxa de doações de córnea caiu 7,1% em relação a 2021. Isso porque mais familiares se posicionaram contrários à doação.

Até março, 4.965 pacientes ingressaram na fila de espera do transplante de córnea. Um total de 19.156 aguardavam pela cirurgia até o final do primeiro semestre do ano. 

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Tamires Ferreira
Redator(a)

Tamires Ferreira é jornalista formada pela Fiam-Faam e tem como experiência a produção em TV, sites e redes sociais, além de reportagens especiais. Atualmente é redatora de Hard News no Olhar Digital.

Jornalista 100% geek há quase 20 anos, pai do Alê, fanático por tecnologia, games, Star Wars, esportes e chocolate. Narrador/comentarista esportivo e Atleta Master. Não necessariamente nessa ordem.