Com a aquisição da Figma, assim como captou o movimento SaaS em meados da década 2010, Adobe prepara ações estratégicas para dominar de ponta a ponta todas as soluções da indústria creative. A aquisição teve como valor a bagatela de US$ 20 bilhões, distribuídos metade em dinheiro, metade em ações. Sob o acordo, aproximadamente 6 milhões de unidades de ações restritas adicionais serão concedidas ao CEO e aos funcionários do Figma ao longo dos quatro anos seguintes à concretização da fusão.
A Adobe espera que a contraprestação em dinheiro seja financiada com seu próprio caixa e, se necessário, um empréstimo a prazo será feito. A transação deve ser concluída ainda no começo de 2023 e está sujeita às autorizações e aprovações regulatórias necessárias.
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O negócio permitirá que a Adobe incorpore as ferramentas do Figma em seu portfólio, abocanhando ainda mais o market share de soluções para creators. Do outro lado da moeda, há uma grande oportunidade para acelerar o crescimento da infraestrutura de plataforma do Figma através de acesso à tecnologia, expertise e recursos da Adobe.
Em linhas gerais, a missão da Adobe é mudar a sociedade por meio de experiências digitais e pela expressão criativa. Já a missão do Figma é tornar o design mais acessível e colaborativo para toda a comunidade de criadores ao redor do mundo. Um belíssimo match.
Juntas, elas terão uma enorme oportunidade de mercado, cada vez mais digital, visual e interativo, talhado sob as premissas de User Experience e Customer Experience, para gerar valor significativo para clientes, acionistas e para a indústria em geral.
O Figma tem um Total Addressable Market (TAM) estimado em US$ 16,5 bilhões até 2025. Espera-se que sua Annual Recurring Revenue (ARR) ainda aumente em US$ 200 milhões líquidos esse ano, superando a casa dos US$ 400 milhões até o final de 2022. É a melhor retenção líquida da categoria, superior a 150 pontos percentuais.
Vejo este enorme potencial de rentabilidade do Figma no deal. Embora a Adobe enxergue com uma lupa minuciosa os detalhes da estratégia imbuída na aquisição, o movimento também foi pensado com atenção nos termos financeiros.
Com margens brutas de aproximadamente 90% e fluxos de caixa operacionais, o Figma construiu um negócio eficiente e de alto crescimento, que recheia ainda mais a suíte de produtos da Adobe.
A parceria também traz um ponto muito importante: a fusão das bases. A Adobe não está apenas adquirindo domínios funcionais de uma empresa: está também trazendo o público do Figma para dentro de seu ecossistema. São dois negócios com um Ideal Customer Profile (ICP) que orbitam o mesmo planeta. A fusão junta duas bases qualificadas.
Um ativo tão importante quanto seu portfólio de produtos é seu portfólio de clientes.
Como founder da Norte Ventures, ao investir em uma empresa, sempre analisamos todos os Unit Economics possíveis para concluir, de fato, se ela é sustentável, o que vai muito além de uma análise fria dos números que se perdem entre planilhas, relatórios e dashboards.
No caso de Adobe e Figma, além de olhar para os benefícios que aquele acréscimo pode trazer ao ecossistema, parte do movimento estratégico de M&A também consiste em analisar, com visão panorâmica, como se dará a junção de todas as pontas.
A aquisição da Adobe é consistente financeira, funcionalmente e no smart money. Justifica um negócio de US$ 20 bilhões. Pode soar desconcertante, mas fato é que a questão da receita recorrente faz com que o jogo do valuation seja bem diferente do que ocorre com empresas de diferentes modelos de negócio.
Foi justamente uma aquisição em 2009, nos desembolsados US$ 1,8 bilhão pela Omniture, que serviu como a base dos esforços da Adobe para construir um novo negócio subsidiado pela infraestrutura de Software as a Service (SaaS).
De 2009 a 2019, as receitas da Adobe triplicaram e o preço de suas ações subiu 29% ao ano, tornando-a uma das principais construtoras digitais da década. A combinação da Adobe e Figma dará início a uma nova era na indústria creative.
Atualmente, para o desempenho das funções de um profissional de creative, é quase imperativo passar em algum momento pelo pacote Adobe, uma conformidade àqueles que se adaptam com velocidade, sob a bandeira de UX e CX fincada nas terras digitais. Com a aquisição do Figma, isso fica mais latente.
Mas a aquisição também significa que a Adobe mais uma vez eliminará um grande concorrente do mercado e o colocará sob seu próprio guarda-chuva.
A comunidade de creators até agora parece estar dividida. Com o Figma “fora do jogo”, quem ditará a qualidade de entrega dos softwares disponíveis será quase que unicamente a Adobe.
Concorrência é saudável para diversificar usabilidade, acessibilidade e aplicações. Nessas circunstâncias, o desenvolvimento desses profissionais passa pela jurisdição do que é conveniente para a própria empresa que domina o mercado.
É preciso aceitar as peculiaridades de um único produto, sem diversificação de oferta e de possibilidades de uso, mas parte do que me empolga com a entrada da Figma no portfólio da Adobe é justamente a imensa expertise da plataforma em entregar produtos de excelência.
A Adobe se comprometeu em manter o Figma rodando autonomamente. Se por um lado existe a contrapartida de um grande player dominando o mercado, por outro existem dentro desse hub os melhores profissionais criando soluções para a indústria creative se desenvolver.
Com um planejamento tão minucioso e um horizonte tão promissor no digital, tal qual fora uma década atrás com o modelo de recorrência por assinatura, cabe reconhecer que o sucesso da fusão deve ser questão de tempo.
Bruno Nardon é Cofundador e mentor do G4 Educação
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