No fim do mês passado, conforme noticiado pelo Olhar Digital, foram detectados vazamentos nos gasodutos Nord Stream 1 e 2, que levam gás natural da Rússia aos países da União Europeia (UE) através do Mar Báltico, para gerar calor e eletricidade.

Gráfico mostra a extensão dos gasodutos Nord Stream 1 e 2 pelo Mar Báltico. Imagem: Damnwell Media – Shutterstock

Gás natural é uma substância composta por hidrocarbonetos que permanecem em estado gasoso nas condições atmosféricas normais. É essencialmente formado pelos hidrocarbonetos metano (CH4), com teores acima de 70%, etano (C2H6), e, em menores proporções, o propano (C3H8), usualmente com teores abaixo de 2%.

publicidade

O gasoduto russo tem sido o foco de tensões diplomáticas entre os países da região desde o início da guerra na Ucrânia, e muitos especulam que as recentes falhas sejam resultado de sabotagens por parte da Rússia.

Segundo a Agência de Energia da Dinamarca (DEA), Nord Stream 1 apresenta dois pontos de vazamento, um na Dinamarca e outro em território sueco, enquanto um outro escape foi detectado na estrutura do Nord Stream 2, caracterizando o que já está sendo considerada a maior liberação de metano no meio ambiente já registrada na história.

publicidade

Há cerca de dez dias, pesquisadores da Universidade de Gotemburgo, na Alemanha, decidiram enviar três robôs subaquáticos aos locais afetados para fins de monitoramento. Os dispositivos devem acompanhar como a química e a vida no mar vão se alterar ao longo do tempo em decorrência da liberação massiva de metano. Para isso, eles vão se mover pelo mar e gravar dados sobre a qualidade da água nas próximas 15 semanas.

Risco de explosão

Como o vazamento foi de natureza subaquática, o risco de uma catástrofe natural é relativamente baixo, segundo o Ministério do Meio Ambiente alemão. Ao contrário dos vazamentos de petróleo, que em pouco tempo podem afetar a vida marinha, os escapes de gás não constituem uma ameaça prolongada para os ecossistemas ao redor. 

publicidade
Ilustração 3 D simula uma explosão subaquática provocada por vazamento de gás. Não se descarta a hipótese de sabotagens de guerra pela Rússia nos gasodutos Nord Stream, onde o risco de explosão ainda existe, até que os escapes sejam controlados. Imagem: Benny Marty – Shutterstock

De acordo com Gregor Rehder, biogeoquímico marinho e oceanógrafo do Instituto Leibniz para Pesquisa do Mar Báltico, embora não se tenha certeza se todo o gás seria realmente liberado na atmosfera (já que parte dele é consumido por bactérias oceânicas), o ar que contém mais de 5% de metano pode ser inflamável, então, o risco de uma explosão é real. 

Segundo ele, embora não seja um gás tóxico, o metano, em altas concentrações, pode reduzir a quantidade de oxigênio disponível, sendo 80 vezes mais poderoso do que o dióxido de carbono (CO2, também conhecido como gás carbônico). “Sobre o impacto ambiental, animais marinhos próximos ao gás que escapa podem ser afetados e mortos, especialmente nadadores mais fracos, como águas-vivas”, alertou Rehder, em entrevista ao site Politico Europe. “Mas não são previstos efeitos de longo prazo sobre o meio ambiente. Pelo nosso entendimento atual, eu acho que os efeitos locais sobre a vida marinha na área são bem pequenos”.

publicidade

O cientista climático da Universidade de Stanford, Rob Jackson, acredita que este provavelmente será o maior vazamento de gás de todos os tempos, em termos de taxa. “Danos imediatos à vida marinha e à pesca no Mar Báltico, e à saúde humana, também resultarão porque o benzeno e outros produtos químicos estão normalmente presentes no gás natural”, disse ele à CBS News.

Leia mais:

As estimativas do gás total nos gasodutos que estão vazando variam de 150 milhões de metros cúbicos a 500 milhões de metros cúbicos.

Kristoffer Böttzauw, diretor da DEA, declarou, em uma coletiva de imprensa concedida no dia seguinte à detecção dos vazamentos, que os escapes equivaleriam a cerca de 14 milhões de toneladas de CO2, o que representa em torno de 32% das emissões anuais da Dinamarca.

Já assistiu aos novos vídeos no YouTube do Olhar Digital? Inscreva-se no canal!