O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente afirmou nesta sexta-feira (30) que as rupturas no sistema de gasoduto Nord Stream, sob o Mar Báltico, causaram o que é, provavelmente, a maior liberação de metano já registrada.

O metano é um gás de efeito estufa altamente prejudicial ao clima que é muito mais potente que o dióxido de carbono, apesar de ter uma vida mais curta. Os vazamentos nos gasodutos Nord Stream 1 e 2, que levam gás natural da Rússia aos países da União Europeia através do Mar Báltico, causaram uma enorme nuvem de metano altamente concentrado.

A nuvem de metano foi detectada nesta semana, por meio de uma análise de imagens de satélite por pesquisadores associados ao Observatório Internacional de Emissões de Metano (IMEO) do Pnuma, afirmou a Organização das Nações Unidas (ONU).

“Isso é muito ruim, provavelmente o maior evento de emissão já detectado”, disse Manfredi Caltagirone, chefe interino do IMEO para o Pnuma, à agência de notícias Reuters. “Isso não é útil em um momento em que absolutamente precisamos reduzir as emissões”, disse ele.

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Pesquisadores da GHGSat, que utilizam satélites para monitorar emissões de metano, ainda não conseguiram mensurar totalmente a quantidade de metano vazando do tanque do sistema de dutos da Gazprom.

Mas, eles estimaram que a taxa de vazamento de um dos quatro pontos de ruptura era de 22.920 quilogramas por hora. Isto seria o equivalente à queima de em torno de 630.000 libras (ou 285 kg) de carvão a cada hora.

A taxa de emissões no Mar Báltico pode ser maior do que a de um vazamento de grandes proporções que aconteceu em campos offshore de petróleo e gás no Golfo do México, em dezembro. Este evento causou o derramamento de cem toneladas métricas de metano por hora, de acordo com Caltagirone.

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No caso do Golfo do México, o vazamento também foi visível do espaço, e causou a liberação de cerca de 40 mil toneladas métricas de metano em 17 dias, de acordo com um estudo da Universidade Politécnica de Valência, que foi publicado na revista Environmental Science & Technology Letters.

Esta quantidade seria equivalente à queima de meio bilhão de quilos de carvão, de acordo com a Calculadora de Equivalências de Gases de Efeito Estufa da Agência de Proteção Ambiental dos EUA.

Caltagirone disse que, seja qual for a causa, os danos representam um problema além da segurança energética. “Esta é a maneira mais dispendiosa de gerar emissões”, disse ele.

Os vazamentos em Nord Stream

Vazamento no gasoduto
Vazamento no gasoduto Nord Stream 2 visto por uma aeronave dinamarquesa | Crédito: Danish Defence Command.

A Agência de Energia da Dinamarca afirmou inicialmente que detectou três vazamentos nos gasodutos Nord Stream 1 e 2, que levam gás natural da Rússia aos países da União Europeia através do Mar Báltico.

Esse complexo de infraestrutura tem sido o foco de tensões diplomáticas entre os países da região desde o início da guerra na Ucrânia, e muitos especulam que as recentes falhas sejam resultado de sabotagens russas.

Segundo a agência dinamarquesa, o gasoduto Nord Stream 1 apresenta dois pontos de vazamento, um na Dinamarca e outro em território sueco, enquanto um outro vazamento foi encontrado na estrutura do Nord Stream 2.

A Dinamarca estabeleceu zonas de exclusão ao redor dos vazamentos, proibindo a presença e a passagem de navios e aeronaves a menos de 5 milhas náuticas desses pontos. Autoridades do país afirmar que há risco de ignição e que os navios poderiam perder sua flutuabilidade devido ao gás que escapa dos gasodutos.

Kristoffer Böttzauw, diretor da agência, declarou: “A ruptura de gasodutos é algo extremamente raro, logo não vemos motivo para aprimorar nosso protocolo preventivo em razão dos incidentes das últimas 24 horas. Nós queremos assegurar o monitoramento pleno da infraestrutura crítica da Dinamarca a fim de fortalecer nosso abastecimento no futuro.”

Ambos os gasodutos possuem dois canos feitos de aproximadamente 100 mil seções, cada uma com 12 metros de comprimento. Nenhum desses canos estava em operação quando os vazamentos foram descobertos, mas eles ainda continham gás pressurizado.

O Nord Stream 2, inativo no momento da detecção, mesmo assim estava preenchido com 177 milhões de metros cúbicos de gás natural. A comunidade científica está dividida acerca do efeito que um vazamento de gás dessa proporção teria na atmosfera.

Joe von Fischer, do Departamento de Biologia da Colorado State University, nos EUA, afirma que o efeito dos vazamentos nos níveis atmosféricos de metano seria baixo, já que, conforme sobe através da água do mar, o metano se transforma em dióxido de carbono, um gás de efeito estufa menos nocivo.

Via Reuters

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