Às vésperas da Copa do Mundo do Catar 2022, atletas com bastante exposição nas redes sociais, como Neymar, por exemplo, tendem a deixar o celular um pouco de lado durante a concentração para os jogos e, principalmente, para o maior torneio de futebol do planeta. Mas, afinal, o Instagram, TikTok, WhatsApp e outras plataformas de interação social atrapalham no desempenho do atleta?

Populares em seus times e vistos como inspiração para muitas pessoas, os jogadores de futebol de grandes clubes e seleções também acumulam milhares ou até milhões de seguidores. Existe um lado muito positivo nisso, pois, é por meio das plataformas digitais que os atletas se aproximam de seus fãs. 

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No entanto, também há um lado pouco proveitoso das redes sociais. Por meio delas que a pressão se torna muito mais presente e algumas podem extrapolar limites e chegar a ameaças contra a vida do próprio atleta ou sua família. 

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Neymar protagonizou um dos casos recentes de pressão por meio das redes sociais. Declarado apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), o atleta acabou virando alvo de piadas no Twitter com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais do Brasil – presidente eleito disse que o atleta tinha medo que ele ganhasse porque, assim, teria que pagar o que devia à Receita Federal.

A influenciadora digital Nath Finanças entrou na brincadeira e publicou uma mensagem dizendo: “Gente, Neymar na minha dm HOJE implorando pra ajudar a declarar o Imposto de Renda”. O jogador não gostou do tuíte e respondeu que a influenciadora queria aparecer. A resposta dele gerou ainda mais comentários. 

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Muitos diziam que se Neymar não estava preparado para ser alvo de brincadeiras no Twitter, quem dirá para ser um dos jogadores responsáveis por conquistar o hexacampeonato da seleção brasileira na Copa do Mundo 2022. 

Será que os usuários estão certos? O comportamento de um atleta realmente pode ser baseado em seu comportamento online ou vice-versa? 

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Como as redes sociais afetam jogadores de futebol?

Em entrevista ao Olhar Digital, o psicólogo esportivo Matheus Vasconcelos apontou que as redes sociais podem sim afetar o desempenho de um atleta em situação esportiva, mesmo que de maneira indireta. 

“As redes sociais podem funcionar como fatores de distração em situação competitiva ou de treinamento, tirando o foco do atleta daquilo que está sob seu controle e redirecionando para situações externas ao seu ambiente de preparação”, afirmou. 

Vasconcelos também relatou que as plataformas podem aumentar a pressão na vida dos atletas. “A exposição nas redes sociais também podem tornar atletas mais vulneráveis a manifestações violentas sobre sua pessoa ou atuação (em campo). Esses fatos podem aumentar o nível de pressão no atleta e estresse, afetando sua capacidade de avaliar o próprio desempenho de maneira mais construtiva e regular suas emoções”, completou.

O treinador de futebol Leandro Calixto Zago, ex-treinador do Atlético-MG, Joinville e Botafogo-SP, disse que vê uma influência completamente negativa das redes sociais na vida dos jogadores. “Em momentos de sucesso, o jogador é alimentado com mensagens que podem acabar afetando seu ego, levando a perder o foco daquilo que é essencial. E nos momentos negativos, as plataformas jogam uma pressão e uma carga emocional muito pesada em cima dos atletas”, explicou. 

Imagem: easy camera/Shutterstock

Zago chegou a apontar que em momentos de concentração, como o que os jogadores brasileiros viverão na Copa do Mundo 2022, o ideal seria se manter afastado das redes sociais para evitar que a pressão online influencie no desempenho em campo. 

Também ao Olhar Digital, a psicóloga com especialização no esporte Paula Batista explicou ser preciso saber dosar o consumo das redes sociais, principalmente em momentos de concentração pré-jogo. 

“Talvez retirar rede social antes de uma competição pode gerar ainda mais ansiedade. Cada caso é um caso. O ideal, é que o atleta tenha consciência do que lhe faz bem, e do que lhe faz mal. Caso as redes sociais sejam tóxicas, aí sim, nesse caso, é importante uma diminuição do uso nos dias que antecedem a competição”, contou. 

A CBF preparou psicologicamente os jogadores convocados? 

Nesta semana, o técnico Tite apresentou a lista de convocação oficial dos jogadores que representarão o Brasil na Copa do Mundo 2022 e diversos profissionais da psicologia esportiva apontaram a falta de um departamento voltado ao suporte mental na Confederação Brasileira de Futebol. 

Vasconcelos explicou que no futebol feminino há um suporte para as jogadoras da seleção, mas que o mesmo não acontece com o futebol masculino. “A falta de um departamento em uma confederação vai à contramão do que tem sido apontado pelas ciências do esporte em todo mundo. Sabemos, por exemplo, que atletas de futebol tem mais riscos de desenvolver transtornos psicológicos ao longo da carreira do que a população em geral, logo, a ausência de cuidados básicos de saúde mental ao longo de um ciclo para a Copa do Mundo é a primeira falta deste departamento”, alertou.

“Em segundo, a ausência desta especialidade impossibilita o melhor acompanhamento dos atletas para aperfeiçoamento de habilidades psicológicas como: confiança, concentração, regulação emocional, autoconhecimento, comunicação e tomada de decisão”, continuou o psicólogo. 

copa 2022 redes sociais
Imagem: Bruno Cesar Spada/Shutterstock

Leandro Zago reforçou que a psicologia esportiva é essencial para o bom desenvolvimento de um atleta. “A preparação mental de um jogador precisa fazer parte de sua formação como atleta, pois prepara os jogadores para situações adversas de jogo, como a pressão em situações estressantes de jogo.” 

O técnico apontou que para que um clube formador tenha certificado da CBF é necessário ter um departamento ou profissional da área psicológica e que isso é uma preocupação crescente nos times que formam jogadores de base. Porém, ainda há uma resistência no futebol profissional. 

“Nos clubes do futebol tradicional ainda é rara a presença de um psicólogo esportivo e eu enxergo dois grandes motivos: a resistência cultural do ambiente e até mesmo a falta de profissionais especializados nesta área”, explicou o técnico. 

Entramos em contato com a CBF, mas não obtivemos retorno.

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