Com o planeta se preparando para o maior evento do mundo de futebol, a Copa do Mundo, a Netflix lançou um documentário bombástico em quatro partes, em que apresenta a história da FIFA, e expõe os esquemas de corrupção já bem conhecidos da entidade. A escolha do Qatar para sediar a Copa de 2022 é um dos tópicos discutidos na série documental.

A série documental da Netflix ouviu as opiniões de denunciantes, especialistas e ex-funcionários da FIFA sobre diversos assuntos. Mas, o mais importante foi como a Rússia, que sediou a Copa de 2018, e o Qatar, conseguiram os direitos para organizarem as Copas, com o alegações de corrupção girando em torno dos processos.

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Em 2010, ano em que ocorreu a escolha de quem sediaria as copas de 2018 e 2022, a Inglaterra aparecia como ampla favorita para receber a Copa de 2018, enquanto os Estados Unidos eram vistos como favoritos para sediar o torneio global em 2022. “A proposta dos EUA era, de longe, a melhor para a Copa de 2022”, afirmou no documentário Sunil Gulati, presidente da candidatura dos Estados Unidos para a Copa de 2022.

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Na época em que foi escolhido o país sede da Copa de 2022, a escolha do Qatar foi bastante debatida e vista de forma negativa por diferentes aspectos. O documentário “Esquemas da FIFA” destaca alguns deles: o país tinha problemas profundos de falta de respeito aos direitos humanos e uma temperatura média de 41 °C entre os meses de junho e julho, época em que a Copa do Mundo é tradicionalmente realizada.

Além disso, segundo o documentário, o Qatar havia sido caracterizado como de “alto risco” para a realização da Copa. “Foi inesperado, concorrendo com EUA e Japão, e o relatório técnico sobre a candidatura havia sido bastante negativo”, disse no documentário Amanda Davies, apresentadora da CNN.

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Sepp Blatter e Guido Tognoni em “Esquemas da FIFA” Imagem: Camera Press/Courtesy of Netflix

Guido Tognoni, ex-conselheiro de Sepp Blatter (ex-presidente da FIFA), comentou a escolha do Qatar na docussérie. “A escolha do Qatar é muito difícil de explicar. Para a FIFA, é um desastre, ainda mais que estavam nos holofotes por suborno. Daí o Comitê Executivo teve a brilhante ideia de votar no Qatar. Sempre digo que quem culpa o Qatar por sediar a Copa, deveria culpar a FIFA, porque a FIFA é o sistema. O sistema é a FIFA”.

Mas qual o motivo para a FIFA escolher o Qatar, mesmo com todas estas questões, e aceitar inclusive trocar a época em que a Copa é jogada para se adequar às temperaturas do país? A resposta, segundo “Esquemas da FIFA”, é dinheiro.

Por que a FIFA escolheu o Qatar?

Imagem: FIFA/Courtesy of Netflix © 2022

De acordo com a ex-funcionária que se tornou denunciante, Phaedra Almajid, o secretário-geral da candidatura Qatar 2022, Hassan Al-Thawadi, conversou e deu dinheiro e outros benefícios aos membros do Comitê Executivo da FIFA (ExCo), em uma tentativa de influenciar seus votos.

Este comitê, que desde então passou a se chamar Conselho da FIFA, era responsável por determinar qual país sediaria a Copa do Mundo.

Almajid explica na série documental que durante uma Assembleia Geral da CAF em 2010 em Luanda, antes do Campeonato Africano das Nações em Angola, Hassan abordou Issa Hayatou, então Presidente da CAF de Camarões, Jacques Anouma da Costa do Marfim e Amos Adamu da Nigéria – todos os quais eram membros do poderoso comitê.

Almajid revela que Hassan ofereceu aos três executivos US$ 1 milhão, disfarçado como um símbolo para melhorar o futebol em seus países. O valor foi então aumentado para US$ 1,5 milhão de dólares.

“Sem mais nem menos, o preço subiu para US$ 1,5 milhão. Parece simples, e foi simples. Nós damos esse dinheiro para sua federação e vocês nos dão o voto, e obrigado, nos vemos mais tarde. E, um a um, fizemos o mesmo com Anouma e Adamu. US$ 1,5 milhão foi oferecido a cada membro por troca de seu voto”, contou Phaedra em depoimento à série.

Phaedra ofereceu, de forma anônima, este relato ao jornal inglês Sunday Times, que denunciou a compra da Copa pelo Qatar. Já Hassan Al Thawadi nega a acusação, assim como outras contra o país. “Minha reação, especialmente na situação, Phaedra? Em ambos, foi frustração. São falsas, e têm fatos que provam que que são falsos.”

Além disso, o documentário aborda outros tipos de negociações políticas, que teriam envolvido trocas vantajosas para os votantes, e para seus países caso votassem no Qatar. O Brasil, por exemplo, aparece no documentário com um depoimento do então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que contou que o seu voto foi definido para o Qatar em uma reunião com o Emir.

“O Emir do Qatar veio ao Brasil. Ficou algum tempo, visitou o presidente Lula, que também achava uma boa solução o Qatar. Nós tivemos um almoço no Rio de Janeiro. Estavam lá eu, o Emir do Qatar, João Havelange. Estavam ali umas oito ou nove pessoas. Ali nós fechamos que nós íamos apoiar o Qatar”, disse Teixeira. “E há troca de favores em qualquer setor da vida. Mas propina para fazer alguma coisa nunca recebi”.

A série documental “Esquemas da FIFA” está disponível na Netflix.

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