Certamente não. Problemas complexos nunca, nunca mesmo, terão respostas simplistas e únicas. Na mesma medida que dificilmente terão uma causa singular. O desafio da crise climática e ambiental, por exemplo, é multidimensional, fruto de ações sucedidas historicamente e precisa de ampla participação para que consigamos sair dessa. Ao mesmo tempo que não podemos encarar o problema como irreversível e abrir mão da luta para modificar o quadro estabelecido. É preciso combinar realidade e sonho. Lucidez e esperança.

A tecnologia tem se mostrado como uma ferramenta polissêmica quando falamos sobre sua relação com a manutenção do planeta e das espécies que por aqui vivem – incluindo nós, humanos. O principal elemento é que com os avanços científicos o tempo tem se transformado. Tudo é rápido, as novidades são constantes.

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O futuro já começou – e os humanos estão em countdown


Em uma das obras mais emblemáticas do século XXI, Sapiens: Uma breve história da humanidade, Yuval Harari traz um trecho certeiro sobre a crise do nosso tempo:

“Muitos chamam esse processo de ‘destruição de natureza’. Mas, na verdade, não é destruição, é transformação. A natureza não pode ser destruída. Há 65 milhões de anos, um asteroide exterminou os dinossauros, mas ao fazer isso abriu caminho para os mamíferos. Hoje a humanidade está levando muitas espécies à destruição e pode inclusive aniquilar a si mesma. Mas outros organismos estão se saindo bem”.

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O processo de transição climática, ocasionada por nós e que estamos vivendo afetam mais a permanência de nossa espécie e pares do que provavelmente vai causar a destruição da Terra. A resiliência é intrínseca à natureza.

A tecnologia humanoide precisa trazer a mesma rapidez que tem aplicado para as telecomunicações para proporcionar a nossa sobrevivência. A contagem regressiva já começou e alguns estudos demonstram que o desaparecimento da espécie humana será inevitável.

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Apesar das previsões pessimistas, vale a pena o esforço para aumentar o nosso tempo e qualidade de vida.

Desafios e soluções tecnológicas
Existem três grandes desafios globais que a tecnologia deve apoiar na superação:

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  1. Emissões de Gases de efeito estufa
    O CO2 hoje é o principal responsável pelo aumento da temperatura da Terra e a maior parte dele é emitido pelas atividades industriais humanas. Como solução está na substituição por novas fontes de energia, já que os combustíveis fósseis, como a gasolina e o carvão, são altamente emissores; por isso o investimento em tecnologias renováveis, como solar, elétrica e eólica são importantes. Não apenas para bens de consumo como carros ou para uso doméstico (energia de nossas casas), mas sobretudo para alimentar a indústria. O Brasil é uma referência sobre a matriz energética com suas quatro principais fontes sendo hidráulica (66%), gás natural (8,6%) biomassa (8,5%) e eólica (7,6%) .
  2. Lixo
    Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o lixo no mundo deve crescer de 1,3 bilhão de toneladas para 2,2 bilhões de toneladas até o ano de 2025. A tecnologia neste caso deve ser aplicada para diminuir e mudar o uso de matérias-primas para confecção de embalagens e também com o desenvolvimento de sistemas que facilitem a coleta e a reciclagem dos materiais. Neste caminho, startups de impacto como a SOLOS, que sou co-fundadora, tem criado formatos de coleta de baixo carbono, com o uso de veículos elétricos e inteligentes, que, com geolocalização, fazem rotas mais eficientes e econômicas. O assunto ainda é novidade no Brasil, temos um ecossistema restrito de soluções e uma oportunidade gigantesca de empresas que precisam ter cadeias de produção mais limpas.
  3. Desmatamento e empobrecimento do solos
    A NASA divulgou em 2019, um relatório em que foi percebido um aumento de 5% da cobertura verde do mundo, em que China e Índia foram as nações que mais contribuíram para isso. Contraditoriamente essas são também as com maior população do mundo. Ainda assim, o reflorestamento precisa ser ampliado para apoiar na compensação dos gases, já que as árvores capturam CO2, impedindo-os de chegar à atmosfera. Ainda no que tange desmatamento e empobrecimento dos solos, a tecnologia pode diminuir a necessidade de expansão de uso de terras é fundamental; hoje as AgTechs têm sido destaque na criação de softwares que otimizam o uso de recursos para as atividades da agropecuária. Com maior cobertura verde de florestas, as árvores conseguem captar o CO2, neutralizando sua emissão. Por isso, a preservação de florestas tropicais e equatoriais como a Amazônia e a Mata Atlântica têm importância global. Além disso, a agricultura sintrópica e a agroecologia trazem fundamentos para a combinação da convivência de espécies de plantas que promovem um equilíbrio do ecossistema, afastando pragas e aumentando produtividade. Marcas como Natura, já usam de plantio sintrópicos para matérias-primas de parte de seus produtos.

O que os olhos vêem, o coração sente


Tecnologia e dados sobre ecologia podem ser a chave para disseminar conhecimento e propor novos comportamentos e tomadas de decisão. Neste sentido, de fato a tecnologia tem colaborado, pois com os dados é possível evidenciar os problemas e priorizar as soluções. É inegável que também foi o crescimento da ciência que tem permitido chegarmos ao conhecimento e que em encontros como a COP 27, de 2022, possam ser tomadas decisões mais assertivas.

Ainda sim, a tecnologia sozinha não dará conta. É preciso combiná-la com políticas públicas e novas relações, que permitam diminuição do consumo e aumento do tempo útil das coisas – de maneira física e cultural.

E você? Como tem usado a tecnologia para nos salvar do fim de nosso mundo?

*Saville Alves, sócia cofundadora da SOLOS

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