Famoso medicamento para dor pode te dar mais coragem, mas não de forma positiva

Estudo apontou que um dos analgésicos mais consumidos pode ter reação além do alívio clínico
Tamires Ferreira24/11/2022 10h49
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Imagem: shutterstock/Egoreichenkov Evgenii
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Um estudo decidiu medir os efeitos de um dos medicamentos mais vendidos e consumidos em várias partes do mundo: o parecetamol. O analgésico é comumente usado para tratar dor de cabeça, febre e diversos sintomas atrelados principalmente a gripe e resfriados, no entanto, segundo a pesquisa, seu efeito pode ir além do simples alívio de dores, prejudicando a percepção de risco de indivíduos que consomem a droga.

Divulgado pela primeira vez na Social Cognitive and Affective Neuroscience, em 2020, o artigo explicou que após experimentos envolvendo mais de 500 estudantes universitários que ingeriram uma dose única de 1.000 mg de acetaminofeno (analgésico/paracetamol), dosagem máxima recomendada para adultos, a maioria demonstrou mais disposição ou coragem para correr riscos iminentes, ou seja, não percebendo o perigo da situação. 

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“O paracetamol parece fazer as pessoas sentirem menos emoções negativas quando consideram atividades de risco — elas simplesmente não sentem tanto medo”, explicou o neurocientista Baldwin Way, da Ohio State University. “Com quase 25% da população nos Estados Unidos tomando acetaminofeno toda semana, a percepção de risco reduzida e o aumento da assunção de riscos podem ter efeitos importantes na sociedade.” 

Imagem: shutterstock

Para os testes, os participantes tiveram que encher um balão no computador. A instrução era: quanto mais encher o balão sem estourar, mais dinheiro (ou pontos) ganha. Os resultados mostraram que os voluntários que tomaram paracetamol se envolveram significativamente mais em correr riscos durante o exercício, em relação ao grupo de placebo, que se mostrou mais cauteloso e conservador.   

“Para aqueles que tomaram acetaminofeno, à medida que o balão aumentava, acreditamos que eles tenham tido menos ansiedade e menos emoções negativas sobre o tamanho do balão e a possibilidade de ele estourar”, contou Way. 

O grupo também precisou responder questionários, ainda sob o efeito do medicamento, sobre realizar atividades consideradas de risco, como pular de bungee jumping de uma ponte alta ou dirigir um carro sem cinto de segurança. O mesmo resultado foi observado. 

Assim, o estudo concluiu que, com base na média dos resultados dos vários testes, existe uma relação significativa entre tomar acetaminofeno e se envolver em situações de mais riscos sem perceber, mesmo que o efeito observado possa ser leve. As descobertas corroboram com outras pesquisas que sugerem que os efeitos do analgésico se estendem a vários processos psicológicos – incluindo a diminuição de empatia e funções cognitivas. 

O apontamento é considerado importante pela comunidade científica visto que o acetaminofeno é o ingrediente de drogas mais comum na América, sendo encontrado em mais de 600 tipos diferentes de medicamentos de venda livre e prescritos. 

Imagem: shutterstock/fizkes

O outro lado do paracetamol 

Por outro lado, os especialistas destacaram que a ação sobre sentimentos negativos vista de outro ângulo pode ser interessante, como no caso de reduzir a sensação de ansiedade enquanto os participantes enchiam os balões. Essa era uma situação de teste, mas possivelmente ele tem o mesmo efeito em outras condições onde a pessoa se sinta vulnerável, nervosa ou em crise — mas, claro, há ressalvas. 

Todos os apontamentos, segundo a equipe, serão abordados em estudos futuros, principalmente no que diz respeito aos mecanismos psicológicos e biológicos. Considerando que outros artigos também já sugeriram que o paracetamol pode ser ineficaz para tratamento de algumas dores, não sendo melhor que um placebo, o grupo pretende ainda checar a eficácia do remédio. 

Vale destacar que, apesar da importância da pesquisa e das descobertas, o paracetamol é considerado essencial pela Organização Mundial da Saúde e recomendado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), bem como pela Anvisa, no Brasil. 

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Tamires Ferreira
Redator(a)

Tamires Ferreira é jornalista formada pela Fiam-Faam e tem como experiência a produção em TV, sites e redes sociais, além de reportagens especiais. Atualmente é redatora de Hard News no Olhar Digital.