Estamos vivendo provavelmente a era mais imediatista já vista. O avanço das redes sociais não apenas para o entretenimento, mas para a vida profissional, tornou a pressão e a ansiedade por resolver pendências e estar em constante produção algo comum na vida das pessoas, a ponto de um sentimento de culpa tomar conta quando decidimos parar ou nos afastar do caos do dia a dia. 

Entre tantas plataformas há, no entanto, uma em especial que tem chamado atenção de especialistas no quesito ansiedade por seu senso de emergência: o WhatsApp.

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Nele, estamos on-line quase que 24 horas por dia e, mesmo que a própria rede tenha dado opções para não ser visto no app — como as configurações de tirar o on-line e a confirmação de leitura —, muitos sentem a obrigação de interagir, seja por TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) de notificações, por não conseguir deixar de se posicionar em determinados assuntos ou mesmo pela ação de se afastar do celular (nomofobia, medo de ficar incomunicável e sem o smartphone). 

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Na rotina essas ações parecem naturais, e um exagero quando colocadas como vilãs. Contudo, toda a avalanche de informações, mudanças de comportamento e sentimentos que a era digital trouxe já começam a ser debatidas a partir de uma teoria (ou fato) que, no fundo, já nem é uma novidade: a dependência das redes sociais. 

mulher tampando o rosto com desenhos representando seus pensamentos
Imagem: Billion Photos/Shutterstock

Como o WhatsApp pode piorar a sua ansiedade? 

A chegada da pandemia da covid-19 forçou um distanciamento social e impulsionou o home office, que colocou todo esse mundo digital ainda mais em perspectiva, tornando-o núcleo das interações sociais, para todas as idades. No caso do WhatsApp, embora o aplicativo traga, sem discussões, praticidade, a quantidade de alertas de mensagens e a essência de emergência transmitem a sensação de cobrança por interação, o que pode causar desespero e consequentemente um quadro de ansiedade — entre outras condições patológicas, como o FOMO (“fear of missing out” ou “medo de ficar fora”, de estar perdendo alguma coisa, como mensagens).

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A WhatsApp fobia — sim, já empregam o termo para descrever a ansiedade que o mensageiro pode provocar — já é um tema muito presente nos consultórios e pesquisas de especialistas. De acordo com Sônia Palma, médica psiquiatra da BP — A Beneficência Portuguesa de São Paulo, em entrevista exclusiva ao Olhar Digital, as redes sociais trouxeram grandes desafios e consequências prejudiciais à sociedade e, no que diz respeito ao WhatsApp, criou um comportamento de hipervigilância.

“Apesar das mensagens escritas implicarem a ausência do destinatário (como o e-mail, a carta, telegrama), no WhatsApp isto é diferente, pois a resposta ocorre rapidamente. Esta característica pode levar a pessoa a ficar vigiando as respostas de forma muito exagerada. Muitos usuários levam o celular para a cama na hora de dormir e com isto acabam alterando o ciclo do sono. Consequentemente esta situação pode levar, naqueles com tendência a ansiedade, o desenvolvimento do quadro”, afirmou a médica.

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Como saber que estou tendo crises de ansiedade pelo uso do WhatsApp?

Segundo a especialista, a nomofobia (que mencionamos acima) já é uma bússola para os profissionais identificarem que há um problema relacionado ao uso do celular e redes sociais — e não somente ao WhatsApp, até porque geralmente os gatilhos vêm do “combo digital” e não só de aplicativos específicos. O que não exclui, claro, casos isolados de, por exemplo, crises de ansiedade por mensagens constantes do trabalho.

“O transtorno ainda não está classificado nos Manuais Diagnósticos, mas é caracterizado pelo medo e pânico de ficar desconectado e incapacitado de se comunicar por meio de aparelhos celulares e computadores. A doença não está relacionada ao tempo que a pessoa passa utilizando os aparelhos, mas aos prejuízos que o uso acarreta em sua vida.”

Segundo Palma, entre os sintomas estão:

  • Incapacidade de desligar o telefone e/ou ficar longe dele;
  • Verificar obsessivamente chamadas, e as mensagens de aplicativos;
  • Preocupação contínua com a duração da bateria;
  • Ter mais amigos e/ou contatos virtuais;
  • Irritabilidade, depressão ou instabilidade de humor quando sua mensagem não foi lida rapidamente.

Nestes casos há a necessidade de procurar uma avaliação profissional com psicólogos e psiquiatras.

Imagem: shutterstock

Trabalho com o WhatsApp, como lidar com o uso constante?

Tema polêmico entre empregados e empregadores, ainda não existe uma lei específica para determinar e esclarecer o uso do WhatsApp como parte do trabalho. O aplicativo facilita a comunicação, e para alguns, como na área de vendas, se tornou a principal via de contato, aproximando o cliente e otimizando o atendimento.

Assim, o ideal é que haja um controle da própria pessoa sobre o uso fora do horário de trabalho e, se necessário, pré-estabelecida com o empregador. Advogados geralmente se baseiam no Artigo 6 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para lidar com processos que envolvam WhatsApp e horas extras. Segundo o texto, o uso “não se distingue entre o trabalho realizado no estabelecimento do empregador e o executado no domicílio do empregado, desde que esteja caracterizada a relação de emprego”. Ou seja, a mesma regra de horas extras no presencial vale para o trabalho em casa. Mas o assunto é complexo e comumente fica a critério da construção, interpretação e decisão judicial.

Como separar o uso das redes sociais com a saúde mental?

Tudo tem dois lados, ponderou a psiquiatra, e não há uma receita de bolo para seguir e conseguir se livrar do lado tóxico do mundo da internet. O segredo pode estar, talvez, na consciência e autoconhecimento, a capacidade de reconhecer o excesso e se afastar sempre que identificar a necessidade, estabelecendo um limite e equilíbrio entre o mundo físico e o conectado.

“Se de um lado pode levar a ansiedade, hipervigilância e alteração de sono pelo uso indiscriminado, por outro pode diminuir a solidão, ser um contato bom para que pessoas deprimidas possam receber mensagens de conforto e diminuir a distância de quem mora longe. Assim, o importante é o equilíbrio e uso racional deste aplicativo. Se uma pessoa perceber que está mais ansiosa ou irritada com este uso, deve procurar ajuda profissional”, orientou.

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