Segundo a infectologista do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) da Fundação Oswaldo Cruz (/Fiocruz), Mayara Secco, a Mpox, popularmente conhecida como varíola dos macacos, ainda representa um desafio para o setor da saúde. De acordo com a especialista, até o dia 24 deste mês, foram confirmados no Brasil 10.711 casos da doença, com 11 óbitos; São Paulo e Rio de Janeiro são os mais afetados. 

Considerando o ano de 2022 todo, o INI atendeu 416 casos confirmados no Rio de Janeiro e 402 casos descartados. Este ano, apenas neste mês de janeiro, já foram atendidos 32 casos, dos quais 22 foram confirmados, 5 descartados e 5 se encontram em investigação. 

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Para a infectologista, os 22 casos confirmados significam uma taxa de positividade alta. A análise dos casos confirmados desde o aparecimento do primeiro paciente revela que os homens cis constituem a maior parcela dos afetados, com 87%, contra 5,5% de mulheres cis. A maior parcela dos afetados está na faixa etária de 30 a 39 anos. Dos confirmados, 97% tiveram relação sexual 30 dias antes do aparecimento dos primeiros sintomas de Mpox. Entre aos pacientes que confirmaram a Mpox no INI/Fiocruz, 51% conviviam com HIV e 30% só tinham uma região do corpo acometida.  

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Edição especial sobre varíola dos macacos para alertar população 

O INI junto com a revista científica The Lancet Regional Health Americas lançou na quarta-feira (25) uma edição especial sobre “varíola dos macacos”. A Mpox é uma doença viral e a transmissão entre humanos ocorre principalmente por meio de contato com lesões de pele de pessoas infectadas. 

A editora-chefe da revista, Taissa Vila, também destacou que, embora esteja caminhando para resolução em alguns países, a Mpox ainda é um problema de saúde pública em vários lugares do mundo, como as Américas.  

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varíola dos macacos
Imagem: shutterstock/Halfpoint

Na avaliação da infectologista Beatriz Grinsztejn, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em HIV/Aids (LapClin Aids) e presidente eleita da International Aids Society (IAS), é importante remeter ao fato de que a Mpox “é uma doença negligenciada em termos de pesquisa e de recursos e tratamentos efetivos”, que poderiam ser disponibilizados, evitando ocorrência elevada e mortes nos países pobres da África. 

A Mpox é mais observada entre homens gays e bissexuais e, ainda conforme Grinsztejn, a característica de lesões genitais já estava descrita na epidemia na Nigéria, onde a diversidade de opção sexual das pessoas não é aceita. A especialista afirmou que a doença tem sintonia com as infecções sexualmente transmissíveis (IST), levando à possibilidade de agravamento do quadro nessas pessoas; ela também defendeu o combate ao estigma e à discriminação sempre.  

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Pandemia da covid, Mpox e uma lição 

Para a professora titular do Departamento de Psicologia Social da Universidade de São Paulo (USP), Vera Paiva, entre as lições que não se pode esquecer da covid-19 e outras epidemias é que o número de mortes e adoecimentos depende da política de enfrentamento; as mortes e adoecimentos ocorrem mais em territórios periféricos empobrecidos; têm raça, cor, gênero, e crescem mais onde os governos são negligentes em proteger os direitos humanos ou violam o direito à vida e à saúde integral. O crescimento das epidemias confirma marcadores de desigualdade e violação de diretos humanos, indicou. 

Imagem: Dotted Yeti/Shutterstock

Paiva reiterou que será fundamental, diante de qualquer epidemia, que haja combate ao estigma em um primeiro momento, associado à infecção e às pessoas de segmentos mais vulneráveis; combate à infodemia (grande fluxo de informações que se espalham pela internet sobre um assunto específico) imprecisa e enganosa, não só em relação à Mpox, mas a outras epidemias; necessidade de financiamento para o Sistema Único de Saúde (SUS); retomada da ideia de quebra de patentes e produção de vacinas, acabando com a dependência de vacinas e tratamentos estrangeiros.  

A prevenção deve ser integral para todas as epidemias, pensando nos princípios de direitos humanos. “Esse é o grande desafio.” 

Mudança de monkeypox para Mpox 

A mudança de nomenclatura de monkeypox para Mpox foi anunciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 28 de novembro de 2022, após denúncias de discriminação e racismo e de notícia de assassinato de macacos no Brasil. O prazo para que o mundo adote a nova nomenclatura é de um ano. 

A chefe do Laboratório de Biologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Clarissa Damaso, esclareceu que o monkeypox não é uma doença de macacos, nem se trata de uma doença nova ou um vírus novo, tendo sido descrita em 1958. “O macaco é tão vítima como os humanos”. 

Damaso pontuou ainda que, embora a troca da nomenclatura tenha sido importante, o que precisa ser debatido e combatido é o comportamento humano e não o nome da doença em si, porque não se conseguirá alterar a questão do preconceito da sociedade só mudando o nome da doença. 

Via Agência Brasil

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