Escavações iniciadas na década de 1970 na Necrópole de Monte Luna, próxima à cidade de Cagliari, na ilha de Sardenha (Itália), permitiram que arqueólogos encontrassem uma mulher sepultada de bruços, com um buraco no crânio causado por um prego.

Uma nova pesquisa sobre esse esqueleto, que será publicada na edição de abril do Journal of Archaeological Science, pode ter revelado o motivo para o rito funerário ter acontecido dessa forma.

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Evidências de trauma de força contundente foram descobertas na cabeça de uma jovem mulher, possivelmente causado por queda, e um buraco que parece ter sido feito por prego. Crédito: R. Paba

Resultados do estudo:

  • A análise dos dentes, ossos e pélvis apontou que a mulher morreu entre 18 e 22 anos;
  • Acredita-se que ela tenha vivido na região entre os séculos 3 e 2 AEC (antes da era comum, que equivale à expressão “antes de Cristo”), em razão das cerâmicas encontradas em seu túmulo;
  • Ter sido enterrada de bruços pode ser um indicativo de que ela sofresse de alguma doença;
  • Foram revelados dois traumas no crânio: um causado por queda acidental recente ao óbito e o outro pela perfuração de um prego;
  • Tanto a posição do cadáver quanto o fato de apresentar um furo de prego na cabeça sugerem que a enfermidade poderia ser epilepsia ou algo semelhante.

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Furo de prego no crânio

Na época em que a jovem foi enterrada, a Sardenha caía sob o domínio do Império Romano, depois de ter passado séculos sob o controle púnico (ou dos fenícios). Junto com os romanos, também vieram alguns de seus costumes, como pregar partes do corpo após a morte por ataques epiléticos a fim de evitar a propagação da doença, que se acreditava ser contagiosa. 

O hábito é baseado na antiga crença médica grega de que algumas doenças eram causadas por miasma (uma impureza no ar), que provavelmente foi repassada para os romanos, assim como muitos dos costumes gregos.

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Atualmente, sabe-se que a epilepsia é uma condição cerebral que não pode ser transmitida a outras pessoas. “Mas, quando a mulher morreu, a ideia era que a doença que a matou poderia ser um problema para toda a comunidade”, disse Dario D’Orlando, arqueólogo e historiador da Universidade de Cagliari, na Sardenha, coautor do estudo.

Isso se encaixa em um padrão mais amplo que você pode ver em todo o mundo e em todas as culturas

Peter van Dommelen, arqueólogo holandês especializado em arqueologia do Mediterrâneo Ocidental e arqueologia fenício-púnica

Alguns pesquisadores, no entanto, acreditam que os romanos possam talvez não ter influenciado no funeral da mulher. “Culturalmente falando, e particularmente em lugares rurais como aqui, a ilha permanece púnica. Não há razão para olhar para o mundo romano em busca de afinidades – o que as pessoas faziam era inteiramente guiado pelas tradições púnicas”, disse Peter van Dommelen, arqueólogo especializado em arqueologia do Mediterrâneo Ocidental e arqueologia fenício-púnica, não envolvido no estudo, em resposta ao site LiveScience.

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