O Projeto Tubarões e Raias de Noronha em parceria com ICMBIO Noronha tem trabalhado no arquipélago para entender o comportamento dos tubarões-tigre. Para observar esses peixes, os pesquisadores estão usando uma tartaruga-robô artificial como isca.

O arquipélago de Fernando de Noronha é o único refúgio em terras brasileiras dos tubarões-tigre, espécie ameaçada pela pesca predatória. No entanto, o animal tem frequentemente causado incidentes com banhistas do local.

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Por causa disso, o estudo vem sendo desenvolvido para entender como os tubarões-tigres enxergam suas presas e as atacam. Os pesquisadores têm utilizado drones, câmeras aquáticas e subaquáticas para observar as movimentações do animal e como acontece os ataques.

Com a compreensão dos hábitos dos animais, os pesquisadores poderão aprimorar a segurança das praias, evitando os acidentes entre tubarões e banhistas. Além disso, eles também pretendem proteger os locais de alimentação e reprodução do animal e atualizar os planos de manejo da espécie no local.

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Incidentes com tubarões-tigres

A Baía do Sueste é uma das mais procuradas por banhistas e mergulhadores, mas desde de janeiro de 2022 encontra-se fechada para banho. Isso por causa de um incidente envolvendo um tubarão-tigre e uma criança de oito anos, que teve a perna amputada.

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 Mais recentemente as atividades de mergulho também foram proibidas na região, por causa da constante presença dos animais na baía. Geralmente, os ataques acontecem porque os tubarões-tigres costumam confundir os banhistas com tartarugas, que são suas principais presas. 

Outro fator importante (para os incidentes) é que o Sueste é uma região muito turva, ou seja, o tubarão entra para se alimentar (das tartarugas) e não consegue enxergar bem

Bianca Rangel, em resposta ao ECOA UOL

Tartaruga artificial e a pesquisa

A tartaruga artificial foi produzida pelo pesquisador Alexandre Rodrigues, e possui o mesmo tamanho que um animal jovem. A isca feita de EVA (Espuma Vinílica Acetinada) está nas águas de Fernando de Noronha desde 15 de fevereiro, e a previsão é que a pesquisa se estenda por pelo menos dois anos.

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Os pesquisadores estão utilizando uma tartaruga artificial para monitorar os tubarões-tigre (Credito: Bianca Rangel/Projeto Tubarões e Raias de Noronha)

Durante a pesquisa, a tartaruga artificial fica presa a uma boia e em um ponto fixo. Ela é usada em horários aleatórios, mas somente durante o dia. Além de monitorar a presença dos tubarões com a isca, os pesquisadores também observam a altura da maré, luminosidade e transparência da água, presença de água de mangue, cobertura das nuvens e outros fatores que podem influenciar o comportamento dos animais.

Até então, os tubarões-tigres se aproximaram da tartaruga artificial, mas ainda não fizeram ataques contra ela, os pesquisadores acreditam que talvez seja necessário mudanças na isca, como fazê-la imitar a movimentação natural das tartarugas ou mudar sua coloração. 

O uso de iscas artificiais para a realização de pesquisa em Fernando de Noronha é inédito, de acordo com a bióloga do Projeto Tubarões e Raias de Noronha, Bianca Rangel, mas que já é muito comum em estudos internacionais ao UOL.

O mais clássico, usado por pesquisadores e documentaristas, é utilizar focas de borracha que ficam na superfície da água para atrair e estudar o comportamento de tubarões-brancos

Bianca Rangel

Importância do estudo

O arquipélago de Fernando de Noronha é um dos poucos locais de áreas protegidas dos tubarões-tigres. Eles são constantemente caçados para comércio de sua carne e nadadeiras. Para conservação, é muito importante entender como esse animais se comportam. Além disso, os dados coletados durante a pesquisa podem até mesmo permitir a reabertura da Baía de Sueste.

Queremos entender o quanto o Sueste é utilizado pelos tubarões, sua frequência e quais tipos de animais estão por lá, além do período do ano. Pode ser que, em alguns momentos, o manejo da área seja de paralisação das atividades recreativas ou fazê-las de forma alternativa. E, claro, essa decisão deve levar em conta outros fatores como turbidez da água, abertura do mangue, entre outros.

Ricardo Araújo, analista ambiental e chefe do setor de pesquisa do ICMBio Noronha

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